Todas as espinhas do mundo- Seo Changbin

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  S/N P.O.V.s

 ㅡ Uma, ㅡ toquei a bochecha direita ㅡ duas, ㅡ toquei a mesma bochecha, desta vez mais para baixoㅡ três.ㅡ toquei a ponta do nariz.

  Eu tinha três novas espinhas naquela manhã e pelo jeito demorariam um eito até sumir de meu rosto:

  ㅡ Mãe, me traz três cubos de gelo por favor?ㅡ gritei.

   "O gelo acabou", aquelas palavras eram as piores que eu poderia escutar naquela segunda-feira, como iria fazer minha maquiagem se não havia gelo? Talvez pudesse faltar a escola, ou revelar meu verdadeiro rosto "perebento".

  O gelo era uma das únicas formas acessíveis de se desinchar uma acne e agora eu não tinha mais nenhuma maneira. Suspirei e pus meu rosto frente ao espelho da penteadeira, começando a rotina de todos os dias em que eu tinha que sair de casa.

  Estar no segundo ano do Ensino Médio e ter mais de cinquenta espinhas e cravos, era a morte para mim. Eu não conseguia sair de casa sem antes desinchar as acnes com gelo e passar bastante base e pó compacto para cobrir tudo aquilo, mal podia me olhar no espelho sem ter vontade de chorar ou berrar o quanto eu odiava o meu rosto.

  Terminei a maquiagem, não estava tão perfeita quanto nos outros dias porque os caroços eram visíveis, mas pelo menos estava um pouco melhor do que antes. Coloquei meu uniforme e fui para a cozinha com a mochila pendendo dos ombros:

  ㅡ Não vai comer?

  ㅡ Estou sem fome.ㅡ dei de ombros e me sentei no sofá para calçar os tênis.

  Minha mãe pediu para ver meu rosto, mas ignorei totalmente e saí de casa, pronta para mais um dia como a-menina-mais-linda-do-colégio. Ao chegar na escola já notei uns olhares esquisitos sobre mim, ao passo que de outras pessoas, eu recebia elogios por estar bonita como sempre.

  Adentrei a sala e a aula estava para começar:

  ㅡ Desculpe pelo atraso.ㅡ curvei a cerviz diante da professora e tomei meu assento, começando a fazer as anotações no mesmo ritmo que a professora.

  [...]

  Era a troca de aulas, quando as pessoas que todos apelidam de "Chernobyl coreano" vieram até mim:

  ㅡ Que bolotas são essas no seu rosto hoje?ㅡ Woojin teve a ousadia te tocar meu rosto.

  ㅡ São as perebas dela.ㅡ Seungri disse ao enfiar ambas as mãos nos bolsos.

  ㅡ Que a maquiagem não foi capaz de cobrir.ㅡ Jimin disse, para em seguida soltar uma risada jocosa.

  Suspirei, já ao ponto de chorar.

  ㅡ Anda, aberração, pega logo o demaquilante de emergência que você tem na mochila e arrasta nessa sua cara cheia de bulbos.

  As lágrimas despencaram, incapazes de molhar meu rosto por conta da cobertura seca da base. Poderia até correr, queria correr, mas a roda que eles faziam em volta de mim, era impenetrável.

  Jimin jogou as coisas de minha mochila aberta no chão, dali tirou um vidro de demaquilante bifásico e jogou em meu rosto, fazendo com que o líquido adentrasse meus olhos e além de deixar minha visão severamente turva, ardeu como o inferno.

  Não podia fazer nada, não tinha o que fazer. Deixaria com que me humilhassem e depois mudaria de escola.

  Senti mãos grandes bagunçarem meu rosto molhado e engordurado por conta do produto, em seguida gargalhadas altas tomaram conta do lugar:

  ㅡ VENHAM! SE APROXIMEM! AQUI TEMOS UM ALIENÍGENA PEREBENTO, VULGO S/N.ㅡ Woojin gritava a pulmões.

  De repente não havia mais escuridão, obviamente não enxergava coisa alguma, pois podia sentir que os três não estavam mais sobre mim e a luz batia em minhas pálpebras.

  ㅡ Você consegue andar?

  Uma voz um tanto grossa soou como alento para mim, mas mais como crise de asma do que como respiro:

  ㅡ Vai aproveitar da minha condição de cega pra se aproveitar de mim ou fazer pior? Vá em frente...

  ㅡ Olha só, eu vim tentar te ajudar, mas se não quiser, vou embora.

 Senti o rapaz se abaixar à minha altura. Tateei o ar em busca de sua mão, e com o pouco que ainda enxergava, vi-o estender a mão grande, se levantou primeiro e depois me ajudou a levantar. O menino da voz grossa colocou um casaco sobre minhas costas e passou o braço por meu ombro, enquanto com outro abria caminho na multidão, não sabia ao certo para onde me levava, mas estava grata por pelo menos ter-me tirado daquela balbúrdia.

  Uma luz branca se tornou presente em minhas orbes turvas, então deduzi ques estávamos na enfermaria. O misterioso solidário fez com que eu me sentasse na maca e em seguida chamou a enfermeira responsável pelo lugar.

  A mulher terminou de limpar meu rosto e o secou, após colocar colírio em meus olhos, eu já podia enxergar tão bem quanto antes. Olhei para o lado da maca e lá estava o menino, ele não era nada menos do que lindo.

  ㅡ Olha só, por ser seu vizinho, já te vi com maquiagem e sem.ㅡ começou ㅡ Posso garantir que é linda de ambas as formas e...

  Estendi a mão mostrando para que ele parasse de falar aquelas baboseiras:

  ㅡ Está dizendo que eu sou linda mesmo com isso?ㅡ incrédula, apontei para meu rosto.

  ㅡ Isso é normal para a nossa idade. Você não pode esconder essas lindas cicatrizes, são o que te faz forte.

  O rapaz fez um referência a uma música que eu cantava no chuveiro mais do que gostaria de admitir.

  ㅡ Está tudo bem. Pode deitar aqui ㅡ deu batidinhas no ombro ㅡ e chorar o quanto quiser.

  De fato, deitei, mas não chorei, apenas fiquei ali até me convencer de que aquilo era realmente verdade.

............

  Dedico a mim e a todas as pessoas que sofrem com espinhas e fazem de tudo para fazê-las desaparecer embora pareça em vão. Não sei se isso vai ajudar em algo, porque não ajudou nem a mim mesma, mas espero que gostem.

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