Reasons to stay - BangChan

2.4K 109 34
                                    

  S/N P.O.V.s

  ㅡ Vamos sair daqui, se ela pular de lá, fará um buraco no asfalto.ㅡ Soo Ah disse.

  ㅡ É isso o que dá quando uma baleia sai de seu habitat natural.

  De cima do prédio, eu ouvia meus amigos gritarem, pude os ver ir embora também, sem nenhum ressentimento.

  Dois meses antes, eu havia voltado para a escola após cinco anos presa em casa, estudando sozinha. Por conta do meu tamanho, eu tinha crises de pânico ao sair de casa, não conseguia ver alguém sem pensar no que se passava pela cabeça daquela pessoa: "Ela é uma baleia", "Como alguém assim consegue caminhar?". E então eu saía correndo e chorando de volta para casa ou para qualquer lugar onde ninguém pudesse me ver com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo.

  Eu hesitava, balançava as pernas para baixo daquele edifício de 8 andares. As pessoas que eu julgava meus amigos agora tinham ido embora porque receavam que fossem morrer também caso eu caísse em cima de um deles, e eu não tinha mais ninguém que pudesse me salvar.

  Comecei a chorar e já nem podia mais enxergar mais muita coisa. Que seja! Eu iria morrer de qualquer jeito e para isso eu nem precisava enxergar.

  O vento gelado de Seul batia em meu rosto e secava rapidamente as lágrimas que escorriam por minhas bochechas, começava a me arrepender de não ter trazido meu casaco favorito e também o mais quente, aquele que custara uns 500.000 wones. Pelo menos eu iria morrer bonitinha.

  5 horas antes

  Eu precisava mesmo ir ao banheiro, tanta água ingerida após a educação física não poderia dar em outro resultado senão bexiga cheia. Ao bater a porta de uma das cabines, abaixar as calças e sentar desesperadamente no vaso sanitário, comecei a reparar nas portas rabiscadas:

  A S/N é uma rolha de poço

  Será que se enchermos ela de ar, aparecem os espinhos assim como os baiacus?      

  Ela deveria se matar

  Aquela última frase tinha tocado em minha de uma maneira diferente, tanto que me fez perguntar como eu não tinha o pensado antes, parecia uma maneira simples de acabar com todos os meus problemas.

  Dei descarga e saí dali, tentando abrir espaço em meio ao grupo de meninas magras que havia ali empatando o espaços entre as cabines e as cubas. Todas pareceram me encarar por milésimos de segundos que mais pareceram horas de tortura para mim e depois voltaram a se maquiar como se não fossem bonitas o suficiente, nem toda a maquiagem do mundo seria capaz de me deixar tão bonita quanto elas.

  Tentei lavar minhas mãos na santa paz, mas ainda assim eu sentia alguns olhares escarnecedores queimarem sobre mim, quando ouvi uma menina sussurrar para outra: "Por que ela ainda está viva?". Saí dali o mais rápido possível, e pareceu se abrir o mar naquele banheiro, tamanho o espaço que eu ocupava.

  Não entendia porque era tão julgada, eu havia emagrecido pelo menos uns 90kg na base de dietas, consultas, exercícios e cem passos por dia ao redor do quarteirão.

  E ali, apoiada nas bordas do telhado enquanto balançava as pernas roliças, eu relembrava de tudo aquilo que havia passado durantes os desnecessários dezenove anos de vida em que eu fui obrigada a conviver com aquela gordura acumulada sob a pele e a compulsão por doces após descobrir um hipertireoidismo.

  Fechei os olhos e esperei que aquela cruviana me carregasse para longe, para perto da minha mãe, para um lugar onde o seu tamanho é só mais um número e não um padrão. Mas não aconteceu, nem aconteceria, um ventinho qualquer não seria capaz de carregar uma vaca como eu.

  Tudo o que aconteceu no segundo adiante ao que minhas lágrimas secaram, foi alguém chegando e segurando meus ombros.

  Alguém vai me empurrar, ótimo, homicídio doloso. ㅡ pensei.

  Fechei os olhos. Não caí. Não morri.

  ㅡ S/N, que droga você está fazendo aqui?ㅡ disse Bang Chan, o atendente de meio período da padaria próxima à minha casa.

  Tentava me puxar dali, mas certamente era impossível, desci por conta própria:

  ㅡ Seria uma gorda a menos no mundo.

  ㅡ Nada disso, vamos sair já daqui, tem noção do quão é alto?

  Olhei para baixo, eu tinha acrofobia. Tinha que estar muito fora de mim para querer saltar de um prédio de oito andares, acho que Bang Chan me trouxe de volta à órbita.

  ㅡ Vem, vamos comer um tiramisu e conversar um pouco. Vou pedir ao meu tio para fechar a padaria mais cedo.

  Colocou seu sobretudo, ainda que pequeno, sobre meus ombros e me guiou pela escadaria prédio abaixo. Precisamos apenas atravessar a rua para chegar à padaria que eu costumava frequentar, assim Chan me fez sentar numa cadeira e esperar com que ele atendesse aos outros clientes.

   Fechou a porta da padaria e virou a plaquinha de open para closed, em seguida se sentou na cadeira à minha frente e me entregou uma porção da minha sobremesa favorita:

  ㅡ Quais eram seus motivos para tentar suicídio?

  Cruzou os dedos à frente do corpo e recostou confortavelmente as costas na cadeira, esperando uma resposta.

  Fiquei pensando, apesar de que eram motivos óbvios, e apesar de que todo mundo já quis morrer alguma vez e apesar de que eu queria ver minha mãe.

  ㅡ Excesso de gordura, uma doença incurável, falta de autoestima, crise do pânico, transtorno de ansiedade e falta da minha mãe.ㅡ respondi, certa de que não havia argumento que fosse contrariar aquilo.

  ㅡ E os motivos para ficar?

  Aquilo nem tinha muito o que pensar, não haviam e pronto.

  ㅡ Nenhum.

  ㅡ Pois aqui eu te digo eles.ㅡ me abriu uma garrafa d'água quando viu que eu havia terminado ㅡ 1°: no céu ou quer onde você vá parar, não há um tiramisu igual o daqui e você certamente o ama. 2°: seu sonho de entrar para o clube de xadrez do colégio. 3°: ser uma universitária e ter sua própria cama no dormitório. 4°: se formar em moda. 5°: arranjar um namorado bonitão. 6°: visitar a França. 7°: correr uma maratona. 8°: varar a noite cantando num karaokê. 9°: dançar na chuva. 10°: perder a virgindade. 11°: dormir sob as estrelas.

  Abri a boca num perfeito "O", como é que ele sabia de todos os meus sonhos?

  ㅡ Eu certamente superei seus motivos de ir embora deste mundo fútil. Mas este mundo idiota precisa de você, eu preciso de você, ninguém mais gosta tanto do tiramisu daqui igual você.ㅡ esticou os braços por cima da mesa e tomou minhas mãos, as acariciando ㅡ Acredite, você é importante.

  3 potes de tiramisu e 2 garrafas d'água depois, eu e Bang Chan nos beijávamos loucamente atrás do balcão.

◍̷ ָ֪֗ Imagines Stray Kids◍̷ ָ֪֗Onde histórias criam vida. Descubra agora