A falta de fôlego me transporta de volta para aquele dia da minha infância, onde o inverno parecia, de longe, a coisa mais inofensiva e mágica que uma criança crescida no Brasil poderia vivenciar. Menos quando essa criança tem asma e viaja para a Coreia do Sul às vésperas do Natal.
E mesmo morando em Seul há 10 anos, eu ainda tenho crises no Natal, por isso é um dia terrível para mim. Agora são 18h do dia 24 de Dezembro, e inalar neve não fez muito bem a meus pulmões.
Mesmo faltando o último enfeite da árvore de Natal que eu realmente estava me empenhando para montar, me jogo no chão da sala. Sinto o assoalho de madeira sob o cardigã, mas é como se sentisse a neve fofa no chão daquele bosque há 16 anos. Ouço meus pulmões ruírem as reclamações de um clima nada favorável, porém parece que podia ouvir aquelas pessoas conversando ao longe.
16 anos atrás...
Me perdi correndo no bosque onde minha família resolveu passear em Seul, dias antes do Natal. Era apenas uma garotinha de oito anos correndo em busca de um pouco de liberdade numa família que julgava o dinheiro como responsável pela felicidade plena, até que eu olhava para aquelas árvores de tronco úmido e todas pareciam a mesma.
Eu já não conseguia me guiar de volta nem com as marcas das minhas botas na neve, então o mais coerente que me ocorreu foi seguir o cheiro de fumaça que entrava no meu nariz anestesiado pelo frio. Onde tem fumaça tem fogo, e onde tem fogo tem gente ㅡ ou um dragão terrível.
Meus olhinhos enevoados pela neve que há pouco havia caído do céu começaram a ver uma civilização: casas improvisadas, uma fogueira de galhos queimando lentamente e várias instalações comunitárias em situação deplorável. Agradeci por não ser um dragão com duas cabeças que devora garotinhas ricas que saem de perto de seus pais nas férias.
Quando me vi, estava deitada na neve gelada, sem conseguir respirar. Foi aí que o motivo de a memória ser tão marcante apareceu: um garotinho de cabelos negros que parecia ter minha idade surgiu no meu campo de visão embaçado. Suas roupas eram bastante puídas e se via vários remendos, o cachecol de lã era o único em bom estado.
"Você está morrendo?" ele perguntou, o pobre coitado nem sabia que eu podia morrer mesmo.
Ele tinha os olhos pequenos e estreitos, e, como papai me ensinou que pessoas de olhos pequenos não enxergam direito. Anos depois eu entendi que isso não passava de um piada feia.
"Bombinha" foi a única coisa que eu consegui dizer com meu fôlego escasso e dolorido. Então o menino arregalou os olhos com força.
"Você engoliu uma bombinha?"
Pensei que ele era burro, mas o menino não parecia ter muito contato com a civilização moderna, já que morava ㅡ literalmente ㅡ no meio do mato. Tentei mover o braço para o bolso do meu sobretudo, mas o braço não obedecia.
Eu estava congelando. No meio da floresta. Com uma criança da minha idade que não tinha ideia da minha condição de saúde.
Ele pareceu entender o que eu queria, quando enfiou a mão no bolso para onde eu meneava debilmente a mão e tirou de lá a minha bombinha de Salbutamol. Agradeci mentalmente quando ele colocou a bombinha na minha boca e apertou o frasco.
Meu peito subiu alto, num chiado grande e muito, muito feio. Senti como se tivesse renascido.
Estive na linha entre a vida e a morte, onde a única coisa que poderia me salvar era um menino completamente desprovido de educação e condição financeira. Senti que podia fazer qualquer coisa depois daquele dia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
◍̷ ָ֪֗ Imagines Stray Kids◍̷ ָ֪֗
FanficAlguns imagines com os bolinhos da JYP, para iludir as stays mais do que elas já são. ﹋.* ೃೀconteúdos fluffly, Soft, hot and sad. ﹊﹎‿︵ Vote, comente e compartilhe se gostar. 1° em #bangchan: 21/01/2021 1° em #hanjisung: 13/03/2021 1° em #seochangb...