Epílogo

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"When I was younger I saw my daddy cry
And curse at the wind
He broke his own heart and I watched
As he tried to reassemble it

And my momma swore
That she would never let herself forget
And that was the day that I promised
I'd never sing of love if it does not exist

But darling, you are the only exception

Maybe I know somewhere deep in my soul
That love never lasts
And we've got to find other ways to make it alone
Or keep a straight face

And I've always lived like this
Keeping a comfortable distance

And up until now I had sworn to myself
That I'm content with loneliness
Because none of it was ever worth the risk
But you are the only exception
(The Only Exception - Paramore)

– Pessoal, eu gostaria de dar umas palavrinhas ao Cris, antes de cantarmos os parabéns, se me permitem.

Pedi a palavra, em meio à festa na qual Cristián comemorava seu aniversário.

Tínhamos muitos motivos para comemorar neste ano em especial e os carrinhos de bebê "estacionados" em frente ao pequeno palco onde eu falava, perto de Cristián e das crianças, era apenas um – o principal, não vou negar – desses motivos.

– Não sei se todos vocês que estão aqui me conhecem, mas eu sempre me considerei uma pessoa de personalidade forte. Daquelas que dificilmente muda de ideia depois de colocar algo na cabeça, sabem? – Fiz uma pausa – Foi assim durante toda a vida. Sempre que eu queria muito algo, não sossegava até juntar quantas mesadas fossem necessárias para comprar. Quando decidi pela minha profissão, também, não sosseguei até estar com o diploma em mãos. E... bem, vinha sendo igual desde que decidi nunca mais ter um relacionamento. – Contei, vendo que Cris me observava, já emocionado, e eu mal tinha começado a falar – Isso porque eu não nasci em um lar de conto de fadas e na infância mesmo já havia me convencido de que o amor verdadeiro pertencia só aos livros de história. – Eu disse – O mais engraçado foi que, apesar disso, na primeira vez que o amor bateu à minha porta, eu o deixei entrar. Só mesmo para confirmar o que eu já tinha em mente. Das duas, uma: ou o amor não existia mesmo, ou simplesmente não corria no meu DNA. E eu nunca mais viveria um romance para descobrir qual era a alternativa. Nunca mais!

Eu ri e ouvi uma tímida risada vindo da plateia que assistia atentamente ao meu discurso.

A festa estava cheia, mas, por sorte, eu estava sem óculos e, na correria, saí de casa também sem minhas lentes de contato.

Assim sendo, não conseguia ver os rostos de ninguém mais além daqueles que estavam na primeira fileira, ao lado do aniversariante.

Minha família.

Dessa forma eu tinha a sensação de que estava falando apenas para eles, o que para mim era o ideal.

Fiz uma pausa para recuperar o fôlego e aninhar o bebê que dormia recostado em meu colo.

– Passei anos construindo uma armadura para me proteger. Regras e convicções que serviam para evitar reviver a dor de um coração quebrado ou de uma confiança traída, e estava bem assim. Ou pelo menos, eu dizia. A solidão incomodava um pouco, sim. Mas não valia o risco.

Cristián assentia, à medida que eu falava, concordando com cada palavra.

– Foi aí que Cristián apareceu. – Eu disse – E tudo o que me lembro depois, é de acordar num belo dia e perceber que estava diante de tudo o que sempre quis na vida, mas nunca percebi. Das pessoas que amo, de um café da manhã servido à mesa... E da felicidade, que um dia pareceu tão distante de mim. – Continuei, também me emocionando – Eu amo ser médica. Amo muito o que eu faço, mas amo ainda mais ser a pessoa que tem um lar ao qual chegar depois de um dia de trabalho. A pessoa que não precisa mais encarar o próprio trabalho como uma fuga da realidade, porque simplesmente não tem mais do que fugir. – Falei, com alegria – Quando éramos só nós dois e Sofia, eu já me sentia assim. Mas, agora, com nossa família completa, tenho ainda mais certeza .

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