Indelével Sob a Pele

Capítulo 31

  O clique das câmeras e a luz dos flashs faz minha cabeça zunir. Ford está pedindo licença para três ou quatro repórteres que insistem em ficar em nosso caminho conforme tentamos entrar no prédio Greene & Lockard.

  Passo meu braço por cima dos ombros de Emily que permanece com a cabeça decaída, o rosto oculto pelos cabelos volumosos ondulados. Um dos repórteres se abaixa, apoiando um joelho no chão, faz um movimento com a câmera virada para cima tentando pegar parte do rosto de Emily. Meu sangue fervilha, Maycol havia fornecido uma declaração formal e se apresentado como Advogada dela, agora eles nos seguiam como uma peste em todos os lugares. Paro diante dele, focando nos olhos cor de safira que me encaram com espanto, minha voz é baixa;

— Ela é menor de idade. Se divulgar isso, se pensar em colocá-la em qualquer lugar, farei com que você seja processado. E que perca esse emprego de merda. — Uma ameaça.

  Ford xinga baixo e tromba os ombros com o homem que ergue as mãos no ar em forma de proteção, deixando que a câmera balance pendida no pescoço. Ellion toma a frente e o examina de cima a baixo com algo semelhante a nojo estampando a face.

   Passamos pelo saguão sem a preocupação de dar qualquer satisfação ao porteiro, que pelo visto tinha se acostumado a nos ver ali, desde a primeira reunião, quase três semanas atrás.

  Quase três semanas que algo como o inferno na terra tinha se espalhado. E tudo parecia virado contra nós. Minha vida tinha se transformado em um completo caos, não havia sossego para dormir, caminhar ou qualquer outra coisa, meu rosto estava na maioria dos jornais como a: Aspirante a Assistente Social que tinha enlouquecido e estava apoiando uma aproveitadora que fazia falsas acusações. Isso sem considerar meu emprego no hospital, que como previsto tinha ido por água a baixo, eu não tinha se quer passado lá para pegar meus pertences, a carta muito formal mas cheias de alfinetadas do Dr. Keyller tinham sido o suficiente para me manter afastada. A mídia e todas as pessoas da cidade mantinham a opinião de que Emily armara  tudo. De que ela queria apenas arrancar dinheiro, fama ou status do pobre  Dr.Noel. Fora que a irmã de Helga que havia falecido deixando uma enxurrada de dívidas em cartões de créditos de remédios e consultas, que eu havia acertado, e ainda tomei frente de ajudá-la com enterro e velório, os dias se arrastaram com uma sombra de morte e tristeza, mesmo sob os protestos de Helga, insisti para que ela ficasse em casa e descansasse, ela ainda estava de luto, e quase não tinha aparecido nas últimas semanas, com tudo que estava acontecendo, Ford e eu nos revezávamos com o serviço de casa, mais idas ao supermercado e a rotina de Adam, eu mal me aguentava em pé.

   Dentro do elevador não trocamos uma palavra se quer. Emily, parece prestes a desabar a qualquer instante, Ellion, ao lado dela, sempre tenso, balança uma perna sem parar. Descanso a cabeça no ombro de Ford que parece tão esgotado quanto qualquer um, de soslaio vejo meu reflexo abatido me encarando de volta, eu tinha começado a perder peso e a marcação arroxeada das minhas olheiras acusava minhas noites perdidas em claro.

   Assim que o elevador se abre, caminhamos o mais rápido possível para a sala de meu pai, trocamos comprimentos breves com a Sra. Bidweell que tem uma expressão de pânico.

— Podem entrar por favor. — Ela arreganha as portas de carvalho.

Estamos dentro. Estou tão cansada que nem faço as cerimônias, me jogo no sofá de couro suspirando fundo. Meu pai e Maycol se levantam das cadeiras da escrivaninha de mogno, juntos, apenas assinto com a cabeça repuxando o canto dos lábios.

  Quando terminam os breves apertos de mãos entre todos, nos sentamos, divididos entre o sofá e as poltronas acolchoadas. Ford está ao meu lado, segurando meus dedos com um cuidado absurdo, como se eles pudessem se partir. Aquilo tudo era real, sério e grave. Meu pai tinha convocado uma reunião de emergência.