Caminhamos apenas por quinze minutos, mas meus pés não suportam dar nem mais um passo quando chegamos ao restaurante. As ruas do centro estão movimentadas e a porta do restaurante mais ainda, alguns carros luxuosos ocupam todas as vagas nos dois lados da rua.O Bistronomic Hall fica em uma rua isolada, cercado por lojas caras, por fora parece um armazém, mesas de madeiras requintadas ocupam parte da entrada ao ar livre, todo envolto em um jardim muito bem cuidado e adornado. Passamos pelo caminho livre entre as mesas cheias, algumas com famílias inteiras rindo e conversando alto, e outras por empresários engravatados ocupados demais em seus celulares para desfrutarem do ambiente.
Eu me sinto envergonhada por estar vestida desta forma, com calça jeans surrada nos joelhos e um casaco masculino azul claro sem graça, isso sem contar meus tênis gastos. — Admito: Sou um desastre ambulante. — Shawn segura minha mão discretamente e me guia para a parte interna do restaurante.
O interior daquele lugar é tão incrível quanto a área externa da entrada. Há mesas de ferro fosco em todos os lugares, as janelas são altas e de vidro, que proporcionam uma iluminação natural adorável. O teto de gesso está incrustado com dezenas de pontinhos de luzes, e apesar da claridade esses pontos luminosos conseguem se destacar como se fosse possível ver um céu estrelado durante o dia. Coqueiros esguios decoram os pilares e tudo é harmonizado com diversos tipos de plantas.
Shawn escolhe uma mesa na entrada, e uma brisa fresca balança fios soltos do meu coque. Devo estar boquiaberta, pois ele olha para mim e sorri, enquanto examino o cardápio.
— Já faz muito tempo que eu não via um brilho no seu olhar. — Ele murmura baixinho.
— Esse lugar é incrível. — Digo mantendo o controle de minha voz, enquanto meu rosto cora.
— Talvez se você se permitisse viver mais, eu poderia te levar para conhecer lugares até mais incríveis que este.
Esse era o problema em estar com o Shawn, ele sempre fazia de tudo para tentar me agradar, nada era simples e eu tinha de estar sempre pisando em ovos, pensando e analisando tudo antes de dizer, como medo de que ele interpretasse algo errado e o clima ficasse estranho.
— Já decidiu o que vai pedir? — Ele pergunta, eu fecho o cardápio e o coloco sobre a mesa.
— O que você sugere?
— Bom, eles têm uma salada de alcachofra com frango grelhado que é divinamente maravilhoso. O que você acha?
— Pode ser.
A comida não demora muito a ser servida, e é realmente espetacular; há muito tempo não me alimento tão bem. Comemos quase em silêncio, exceto nos momentos em que Shawn tenta puxar algum assunto aleatório.
— Você deveria comer mais, está muito magra. — Ele comenta casualmente.
— Você é a terceira pessoa que me diz isso hoje. — Um sorriso amarelo é tudo que consigo dar. — Deve ser por causa das caminhadas.
Ele me olha atentamente. E eu me sinto estranha estando aqui só com ele, isso me lembra um encontro. E eu não consigo me imaginar tendo encontros, não depois do Eddie, não depois daquele segundo desastre que arrasou minha vida.
— Você acha que nunca mais vai conseguir? — Suas palavras saem tão baixas quanto um sopro ao vento.
— O quê?
— Você sabe... Ah, talvez andar em um carro novamente.
Após o acidente do Eddie, eu jamais andara de carro, moto, metrô, ou qualquer coisa do gênero. Esse foi só mais um item para minha lista de traumas; sempre que entro em qualquer tipo de veículo sinto o ar fugindo de meus pulmões e começo a ter um tipo de surto. Da última vez tive um ataque de pânico ao tentar dirigir, e só de me imaginar dentro de algo pequeno e frágil me sinto claustrofóbica. São tragédias demais para assimilar.
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Indelével Sob a Pele
RomanceDescrição: - LIZ. Aquele chamado íntimo com apelação. A voz firme me reivindicando, o chamado pelo qual eu andara procurando a vida toda. - LIZ. Me ergo, o rosto molhado de lágrimas e a camisola encharcada com o suor. O corpo sombreado dele está...