Capítulo 2

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    St. Louis é o maior hospital da cidade, ocupando um quarteirão inteiro, sua estrutura é dividida em três prédios com vários andares. Após a grandiosa reforma ele adquiriu um aspecto totalmente moderno, uma fachada toda em vidro laminado, ampliação e renovação de todos os equipamentos, conseguindo se tornar uma das principais referências em todo País, principalmente nas especialidades de oncologia, obstetrícia e pediatria. Não era só o meu local de trabalho, mas o lugar onde tinha me tinha sido permitido salvar e vivenciar a cura de tantas pessoas que eu não conseguia me imaginar trabalhando em nenhum outro lugar do mundo.

    O tempo começa a esquentar, faço mais uma dobra na manga da camisa, e Paola fala sem parar sobre suas dificuldades em conseguir folga para o final de semana.

   — Eu tentei com todo mundo, mas ninguém quer trabalhar no sábado —  Bufa enquanto procura algo na bolsa. — Rhonda está de marcação comigo! Eu já tinha avisado a Claire que precisaria de folga nesse final de semana.

   — O problema é que você quer dois dias, você já conseguiu o domingo, agora arrumar alguém para cobrir o sábado à noite é uma missão quase impossível. Além disso, eu não acho que Rhonda esteja de marcação com você, afinal, você solicitou a folga muito em cima da hora. Nós duas sabemos  que pelo prazo nem isso seria possível... — Tento parecer casual, sei como Paola pode ser tempestuosa quando é contrariada, e começar uma guerra contra a chefe geral não era uma escolha inteligente.

   — Mas eu disse que precisaria dos dois dias livres, e nem foi tão repentino assim! — A aspereza em sua voz me faz repensar minhas próximas palavras. — Justamente quando surge um programa realmente bom, ela consegue um jeito de cortar meu barato.

    Paola e eu nos conhecíamos há mais de dez anos, nossa amizade era sólida e tinha amadurecido com o tempo. Por coincidência do destino e por nossa escolha de prestar concurso para o mesmo hospital, acabamos trabalhando juntas, porém em setores distintos, já que ela optara por enfermagem e eu pela assistência social. Estar com ela na mesma escala fazia com que eu me sentisse segura, como um apoio motivacional todos os dias.

   — Por que está toda de branco hoje? — Ela observa fingindo interesse — Por acaso está tentando bancar a médica? — Não havia nenhum humor ali só stress disfarçado para mudar o rumo da conversa.

   — Hoje vou fazer um atendimento na enfermaria, Claire me enviou uma mensagem ontem à noite pedindo para avaliar o caso de uma criança de 7 anos, ela está com o braço quebrado e alguns hematomas suspeitos... estão achando que a mãe tem alguma coisa a ver com isso.
    
   — Não entendo o porquê das pessoas terem filhos se pretendem machucá-los. — Paola engole em seco com os olhos presos na ponta do esmalte que começa a descascar no dedo indicador.

   — Concordo, enfim... estou vestida assim para me misturar entre os profissionais na ala da enfermaria e tentar conseguir alguma informação sobre essa possível queda.

    Ela ergue uma sobrancelha tentando assimilar minha resposta. Pronto, eu tinha conseguido prender a atenção dela.

   — Não posso parecer uma assistente social — Explico. — Caso a mãe tenha alguma coisa a ver com os machucados da criança, não me deixará sozinha com ela se desconfiar que sou da assistência.

     Cumprimentamos o segurança ao adentrar na portaria, a recepção está cheia a esta hora da manhã. As recepcionistas trabalham com agilidade, divididas entre dar informações e atender os telefones que não param de tocar, trocamos cumprimentos breves e seguimos direto para o fundo da entrada principal, indo acionar o cartão de ponto.

    Paola passa o cartão com tanta violência contra a máquina, que me obrigo a pensar no que posso fazer durante o almoço para melhorar aquele mal humor. Me volto para ela antes de entrarmos na ala dos funcionários.

Indelével Sob a PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora