Capítulo 18

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   — Acho que você errou a data deste — Pondero o comentário erguendo a folha  enorme para ele.

  Ele vem até mim apanha a apanha com cautela, colocando por trás de todas as outras, arrasta o cavalete até o fim da sala sem dar uma palavra. Enquanto tento definir se sua expressão é de pânico ou de concentração. Ele volta, pega sobre a mesa uma carta e estende para mim. Sem fazer menção de segurar, abro bem os olhos e ergo uma sobrancelha em um gesto que diz "E aí? ", sobre a pergunta que havia feito antes. Ele fica congelado por um momento como se falar a respeito daquele desenho ou a data fosse algo extremamente desconfortável para ele.

    — Sonhei com você, exatamente daquela forma. Você se olhava na minha direção por cima do ombro, um vento batia e os fios do seu cabelo cobriam parte da lateral do seu rosto, seus olhos me olharam de volta... No dia seguinte vim para cá e reproduzi da forma mais fidedigna que consegui me lembrar.

  Meu estômago despenca e se encolhe. Como se monstros selvagens corressem por ali.

   — O quê? — Consigo dizer. E então vou de perturbadamente incrédula para a realidade do quão ridículo aquilo era. — Você gosta mesmo de zombar de mim, acha que eu cairia em uma pegadinha dessas, pra fazer você rir?

   Gesticulo com as mãos como se um letreiro piscando estivesse a minha frente:

    — Liz, olha como o destino me colocou na sua vida, eu sonhei com você antes mesmo de te conhecer — Começo a rir, mas paro na mesma hora porque ele permanece sombrio. E quase sou capaz de ter certeza que ressentimento e magoa percorrem por aqueles olhos.

    — Eu não quis te assustar. Na verdade, até me esqueci que este... Esboço estava aqui — Disse Ford, e um músculo do seu maxilar delineado estremece. — Eu realmente sonhei com você. É só que... As vezes eu sinto como se tivesse que pisar em ovos quando vamos conversar. Tenho medo de te perder, de falar  e algo sair  de forma errada, não sei explicar bem... Mas quero que saiba que — Ele sacode a cabeça como se pudesse afastar as palavras — Eu me sinto como uma janela quebrada, estive sozinho por muito tempo e ter encontrado você é como ter uma luz da lua, iluminando pela fresta. Desde que  ficamos juntos tudo tem sido melhor. As vezes eu não consigo m controlar muito bem e acabo não falando as coisas como deveria, mas preciso te contar...

   Meu celular toca no bolso. Adam está me ligando. Peço desculpas e um minuto a Ford gesticulando e deslizo  a tela para aceitar a chamada.

  — Oi.

  — Mãe, onde você está? O jogo vai começar em meia hora, achei que você tinha dito que viria mais cedo, pra conseguir um bom lugar na arquibancada.

   Dou um tapa na testa, deixando a mão descer pelo rosto com força.

   — Estou com o Ford, vamos chegar em quinze minutos.

   Silêncio. Tenho a certeza de que ele está redigindo: verdadeiro ou falso.

   — Estou esperando mãe — A resposta ecoa com incerteza.

   Ford inclina a cabeça com inquietação estampada no rosto enquanto eu detono;

   — Adam nos convidou para um jogo de lacrosse hoje! Eu me esqueci de te avisar! Na verdade, nem mesmo estava lembrando de ir! E agora?

   Sem pestanejar ele responde guardando a carta apressadamente no bolso.

   — Meu carro está na entrada me passa o endereço, eu... — Parecendo envergonhado, ele apanha do chão a camisa cinza azulada com algumas manchas de óleo. — Preciso passar em casa primeiro só vou levar alguns minutos para ficar pronto. Deixo o carro e te encontro. Temos quanto tempo?

Indelével Sob a PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora