Capítulo 22

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Se a minha rotina se resumia em praticamente correr para todos os compromissos marcados, o recorde tinha sido batido quando eu disparei quase voando pelo percurso entre o hospital e meu apartamento. Eu tinha gastado três minutos para me despedir me Emily, buscar a bolsa na minha sala e avisar Claire que tinha tido uma emergência, na verdade mais que uma emergência, uma questão de vida ou morte.

Minha mãe jamais me ligava em uma circunstância normal, jamais. Apenas para pedir algum favor quando Maycol ou meu pai estavam indisponíveis, fora isso eu era praticamente invisível.

Quando a avistei em pé encostada na lateral da Chevrolet minha respiração que já estava entrecortada some e pela expressão de ódio  que estampa seu rosto, me preparo, porque a coisa ia ficar feia, muito feia na verdade.

   — Até que enfim você chegou — Ela começa vindo ao meu encontro, apertando o botão de alarme do carro.

   — Vim...O mais rápido que consegui — Paro me apoiando nos joelhos, recuperando o fôlego.

  — Você pode se recompor depois, vamos subir.

  Uma ordem. Finjo engolir o medo, enquanto atravessamos o alpendre do Brooksville em silêncio absoluto. Eu não tinha coragem de perguntar o que ela tinha de tão importante para me contar que não poderia esperar.

Depois de quase errar o botão do andar no elevador, na soleira do apartamento deixo as chaves caírem, uma, duas, três vezes.

   — Você precisa de ajuda para abrir uma porta?

  O tom irônico e ranzinza, fazem com que a pouca comida no meu estômago revire.

  — Não, mãe, obrigada.

  Quando adentramos na sala ela passeia pelo ambiente indo até a divisão entre sala de jantar e a cozinha com descaso.

  — Esse lugar não mudou nadinha. Achei que com um namorado novo, você fosse tirar ao menos as fotos.

  Meu olhar persegue na indicação dos dela, findando em pares de porta retratos no alto na lareira, repletos de imagens de Eddie com Adam.

  — São fotos com o Adam, não posso me livrar delas, mesmo não estando vivo ainda é o pai dele, sempre vai ser.

  Totalmente insatisfeita, prendo a bolsa em um gancho atrás da porta, e me sento no braço do sofá. Minha garganta está tão seca que tenho que fazer força pra pronunciar a pergunta sem falhar:

  — Você quer alguma coisa para beber ou comer?

  — Não.

   Um "não obrigada" cairia muito bem, mas certas palavras eram praticamente desconhecidas no vocabulário de minha mãe. Eu estou morrendo de sede, mas a ansiedade de começar e terminar aquela conversa não me permitem arredar o pé.

  — Shawn falou sobre Ford? — Pergunto com cautela, enquanto minha mãe assume o assento mais distante o possível de mim, não sem antes passar o dedo em um aparador de mogno ao lado da poltrona, conferindo a poeira.

  — Ele falou para o seu pai, que estava preocupado, porque você estava se envolvendo com um delinquente sem futuro — Sua língua estala em desaprovação. — Francamente, Liz, se envolver com um alcoólatra? Como teve coragem de colocá-lo dentro da sua casa? Com o Adam aqui...

  — Mãe — Interrompo enterrando as unhas na palma da mão. — Você jamais esteve preocupada com as companhias sociais do Adam. Além do mais, Ford se recuperou dessa fase, ele está limpo a muito tempo. Olha só, Shawn não conhece o Ford como eu. E vocês não tem o direito de dar opinião...

Indelével Sob a PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora