Amparo

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O que havia me restado era um par de olhos nebulosos e escuros. O vazio que habitava em minha alma, agora quase conseguia resvalar em minha pele pálida. 

Me jogaram em um espiral eterno de monotonia e insatisfação, onde não existia qualquer luz que eu pudesse chamar de minha. Isso se tornou parte de mim eventualmente, e sem querer, passei a, secretamente, desejar não existir.

Eu não queria morrer, e nunca quis ser machucado. Mas se eu tivesse possuido uma escolha, talvez não estaria escrevendo essas palavras e este mundo jamais saberia quem eu sou, ou quem eu fui.

Sobretudo, havia as partes boas sobre existir.

Mas eu passei a entender, inconscientemente, que a existência é dolorosa até mesmo quando se quer viver.




Quando o fim da tarde chegou em Lastria, a carruagem da família Kim finalmente parou em frente a mansão sob uma modesta nuvem de poeira. O senhor Kim retornava pra casa depois de um dia inteiro fora, trazendo consigo alguma decisão desconhecida e que certamente não iria favorecer seu filho mais novo.

O garoto permanecia deitado desde a noite passada, quando retornaram pra casa após o baile na Casa Jeon. Recusando comer ou beber qualquer coisa desde então, pois o medo sempre era capaz de tirar sua fome.

Quando descobriu que o futuro duque queria conversar com seu pai sobre si, momentos depois de adentrar a carruagem na volta pra casa, Taehyung pôde sentir seu coração falhar uma batida dentro do peito.

Infelizmente ele era uma pessoa muito negativa, e admitia isso, por isso sua mente passou a noite, e aquele dia inteiro, criando mil situações ruins onde ele sempre se dava mal.

Era horrível se sentir desamparado e sozinho, entretanto, não podia dizer que sentia falta de algo como aquilo, pois não tem como sentir falta de algo que nunca se teve. 

Teve tempo em demasia para pensar, e chegou a conclusão de que seu pai fora convidado a retornar a Casa Jeon para tratar sobre o caríssimo jarro que Taehyung havia destruído na noite passada, num momento de azar.

Não era surpresa que o objeto certamente tinha um valor exorbitante. O ômega lembrava-se dos lindos fios de ouro adornando cada pedaço daquele jarro, e da porcelana branca com estampa floral. Seria uma grande trabalho reconstrui-lo, e o pior de tudo era que aquilo fora causado por sua culpa.

Achou muito estranho seu pai não ter feito nada ontem a noite, nem mesmo pôde ouvir as piadas sem graça do seu irmão mais velho sobre como ele havia se dado mal dessa vez. O silêncio que recaiu dentro da carruagem na volta pra casa havia sido assustador, ainda mais porque sua mãe, uma tagarela nata, não havia dito uma só palavra durante o percurso.

Mas não havia sido tão ruim assim.

Jeon Jeongguk havia sido muito gentil em chamá-lo para uma dança afim de livrá-lo da vergonha que foi quebrar aquele jarro na frente de toda alta sociedade. Mas agora era óbvio que cobraria pela peça cara.

Qualquer um cobraria.

Era por isso que ele sequer saiu do quarto naquele dia, nem mesmo para realizar as tarefas domésticas que normalmente fazia pela manhã. Ele sabia que quando seu pai chegasse as coisas ficariam bem feias pro seu lado e só isso era capaz de derrubá-lo. Então preferia estar deitado quando ele chegasse e viesse fazê-lo pagar pela vergonha que tinha lhe dado.

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