Inquietude

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❛❛Uma vez me disseram para ter coragem, que sem ela eu não chegaria a lugar algum, e isso era irônico, pois eu era uma alma presa dentro de uma carcaça velha e judiada, um simples prisioneiro. 

Eu nunca iria desbravar os mares, no fundo eu sabia. Jamais poderia ver o tão sonhado peixe arco íris, aquele de escamas coloridas que vi uma vez em um livro de gravuras, e que tão raramente me visitava em meus sonhos.

Se eu pudesse renascer, gostaria de voltar como um deles, eu seria livre e nadaria por todo o oceano, deixando meu rastro em cada pedacinho dele.

E meu nome seria Líber, que significa liberdade. Então todos saberiam que eu sou, e mais do que isso, saberiam quem eu fui.

Saberiam que um dia, eu de fato, existi.❜❜

Uma infinidade de cenários ruins passou pela cabeça do Kim no pouco tempo desde que entrara dentro daquela banheira grande de água morna, pensamentos ruins serpenteando desde a janela até a porta, se imaginando sendo machucado em cada parte e de todas as formas possíveis. Em uma situação onde aquele homem estava bravo e feroz, rugindo alto enquanto destruía tudo o que vinha em sua frente, inclusive o próprio Kim. Sua aura estava pesada e emanava um ódio perigoso que Taehyung conhecia tão bem; aquele que já havia lhe tirado tanto. Ele apertava seu corpo frágil naquela parede, partia sua coluna no vão da janela de vidro e em seguida lhe lançava no chão duro, onde com aquelas mãos grandes, tirava todo o ar que fazia seu corpo viver.

Estraçalhando-o.

O medo que sentia era demais pra suportar por muito tempo, e sentia que a qualquer momento sua mente iria simplesmente parar e ir embora, assim, tão fácil e rápido. Entretanto, existiam pequenos detalhes que o fazia permanecer ligado à um fio da realidade; o som característico da água balançando enquanto acompanhava seus tremores embaixo dela, o cheiro dos lilases evaporando junto daquela sutil fumaça esbranquiçada, um aroma delicioso que vinha do alfa e o puxava de volta até ele e o leve perfume das velas aromáticas; que ainda não tinha conhecimento de sua existência até o momento.

Era muito difícil estar ali, sem roupa, expondo o que ele mais odiava em si que era o seu corpo. Um misto de vergonha e desespero comandavam-o naquele momento, mas então ouviu aquela voz que já havia se tornado familiar pra si ecoando no banheiro de forma pacientemente baixa. Fora atraído pra ela segundos depois, e então finalmente virou o rosto para observar a feição de detalhes suaves e um tantinho infantil. Ele parecia preocupado.

― Está tudo bem! ― estranhamente aquilo não soou como uma pergunta, e ele parecia tão sincero que até o próprio Kim duvidou de si mesmo. Por um breve segundo, percebeu um reflexo brilhante e meio arroxeado correr pela íris escura do alfa, não sabia o que era, nunca vira antes em toda a vida, mas sabia que era bonito, e estranhamente combinava com ele, apesar dele aparentemente preferir cores escuras e essas lhe passarem um ar misterioso.
Jeongguk era inegavelmente um homem misterioso, e isso fazia com que fosse difícil decifrá-lo, até mesmo para Taehyung que se julgava bom em ler as pessoas e suas intenções, mas entendia que isso era muito mais fácil pra si já que desconfiava de todos sem exceção.

Taehyung nunca se interessou em saber de nada nem de ninguém e suas expectativas costumavam ser tão baixas quanto sua própria força de espírito, mas não negava que desejava secretamente ter uma vida tranquila, onde cada momento fosse recheado de paz e café morno. Desejava coisas pequenas, mas essas significavam tudo pra quem não possuía nada; nem mesmo a sorte de dormir sem temer o amanhã. Porém, agora existia algo que conseguiu despertar sua curiosidade pela primeira vez; sentiu vontade de conhecê-lo mais um pouco do que ele lhe deu até agora, e pode-se dizer que esse fora um dos pensamentos mais perigosos que já tivera.

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