Ctrl C + Ctrl V

18 0 0
                                    


  Era uma casa bem bonita, com estilo tradicional. De madeira, dois andares, com varanda na frente e um jardim separado por uma trilha de pedras coloridas que levavam até a casa verde. Aquela casa fazia Elliot se lembrar da casa onde morava, com a significante diferença de aquele local parecia mais aconchegante e acolhedor.
 __ Já chegamos?__ indagou.
__ Sim, chegamos__ disse a terapeuta enquanto estacionava próximo da calçada.
  Eles desceram do carro, andaram até a porta. Diana apertou a campainha e não demorou muito para que o cientista aparecesse, como se já estivesse esperando por eles.
__ Olá, boa tarde__ disse o cientista com jaleco branco pousado no ombro. Estava de suéter, calça xadrez e sapatos. Era um idoso na faixa dos 60 anos, calvo, cabelos grisalhos, lisos, médios e usava óculos. Tinha um sorriso gentil.
__ Elliot, este é o Dr. Clóvis.
__ Olá, Dr. Clóvis__ disse o cumprimentando com desconfiança.
__ Olá, Elliot. Prazer em conhecê-lo.
__ Igualmente.
  Dr. Clóvis os convidou para entrar, lhes ofereceu água e os conduziu até seu escritório.
  Elliot achou a casa do sujeito bem limpa, limpa até demais... "Essa casa parece perfeita demais"; estranhou.
  O escritório do doutor era apenas um escritório comum, o único elemento atrativo era sua estante de livros, que despertou o interesse de Elliot, que gostava de ler.
  Dr. Clóvis sentou-se à mesa e os convidou a se sentarem também. Em frente aos dois, o homem tomou a palavra.
__ Então, você veio entrar no projeto Alter-ego?
__ Eu vim pra saber do que se trata, ainda não aceitei.
__ A Dra. Diana não lhe contou?
__ Preferi que explicasse a ele, pois você sabe mais sobre isso do que eu__ explicou Diana__ Eu me atrapalharia toda se tentasse o explicar.
__ E não é à toa. É complexo até para mim, mas vamos por partes. Ei Elliot, o que sabe sobre clonagem?
__ Que o primeiro animal criado por uma clonagem bem sucedida foi a ovelha Dolly.
 __ Isto mesmo. Ela veio de três mães diferentes. A clonagem animal é uma realidade nos dias de hoje, também é alvo de controvérsias entre os defensores de animais, mas continua sendo uma realidade. E quanto à clonagem humana, o que sabe sobre ela?
__ Que é ilegal.
__ Só isso?
__ É, é proibido em vários países, e pela ONU também.
__ Interessante. E o que acha disso?
__ Acho que a gente tá perdendo tempo e devia falar sobre o projeto__ disse Elliot já impaciente.
__ Mas nós já estamos!
  O garoto ficou surpreso e confuso. Franziu as sobrancelhas para o cientista e depois para a terapeuta.
__ Essa é a "pessoa melhor" que tinha me falado? Um clone que me substituísse?__ disse inconformado.
__ Não, Elliot. Nada disso. Não um substituto, mas um ajudante__ ela explicou.
__ E como ele pode me ajudar?
__ Bom, já não teve vontade de ficar em dois lugares ao mesmo tempo?__ disse o cientista.
__ Já.
__ Agora você pode.
__ Mas isso não é ilegal?
__ Só é ilegal se a polícia descobrir__ e pôs o dedo indicar próximo da boca querendo dizer: "ninguém precisa saber..."
  "Em que buraco fui me meter? Essa terapeuta é mais louca do que eu pensava e esse velho nem se fala"; no entanto sua curiosidade o impedia de ir embora.
__ Ok. E como pretende me clonar?
__ Sigam-me__ disse enquanto se levantou e foi andando.
  Os três foram até uma estranha sala, parecia uma oficina, havia ferramentas, engrenagens, frascos e duas máquinas semelhantes a máquinas de bronzeamento artificial, a sala ficava no subsolo.
__ Esse é o meu porão-laboratório, eu o chamo de Hefesto. Essas máquinas que estão lado a lado são "impressoras humanas"__ disse enquanto vestia o jaleco.
  As máquinas eram muito parecidas com as de bronzeamento artificial, mas eram unidas por dois tubos de plástico ABS. A segunda máquina era diferente da primeira, pois possuía recipientes de vidro acoplados nele, estes recipientes estavam vazios. Elliot supôs que fosse para combustível, mas não tinha certeza, pois nunca havia visto algo parecido assim antes.
__ Parece máquina de bronzeamento artificial.
__ E eram, mas foram readaptadas. Troque uma peça aqui e ali, adapte o sistema para que funcione de forma parecida com que funciona uma impressora comum e voilá! Temos a primeira máquina de clonagem artificial humana bem sucedida da história!
__ São perigosas?__ indagou Elliot receoso.
  Diana respondeu:
__ Eu o trouxe aqui e você é menor de idade, o que significa que neste momento eu sou responsável por você. Logo se alguma coisa ruim acontecer com você, a culpa vai ser minha. Acha mesmo que eu iria te trazer se fosse realmente perigoso?
Elliot ficou pensativo, fitou as máquinas atentamente e disse:
__ Qual o nome desse treco mesmo?
__ Impressora humana__ respondeu o cientista.
__ E como funciona?
__ Bom, ela copia o seu material genético para gerar outra vida. E como isso ocorre? Bom, primeiramente precisarei de um pouco do seu sangue e de uma mecha do seu cabelo. Depois você terá de se deitar na primeira máquina, onde será anestesiado. Eu colocarei o seu sangue naquele recipiente da segunda máquina.
  É lá na segunda máquina que seu clone surgirá. Enquanto você estiver deitado, a máquina 1 vai sondar o seu corpo assim como... como... uma câmera gravando um vídeo. Depois que a máquina 1 obter todas as informações de seu corpo físico, ela enviará todas as informações armazenadas até a máquina 2 por meio do tubo, que vai começar a copiá-lo com base em tudo que sabe sobre você.
  Resumindo: o que vai acontecer é Ctrl C + Ctrl V de um documento. A opção ctrl C de um computador copia o arquivo mantendo o arquivo original no mesmo lugar e ctrl V apenas cola essa cópia.
__ Então no caso eu sou o documento, a máquina 1 vai fazer o ctrl C e a máquina 2 o ctrl V. E dessa forma o meu corpo vai ser clonado sem eu ser afetado.
__ Exatamente Elliot. Você entende as coisas de forma bem rápida, é muito inteligente.
__ Obrigado...__ e ficou em silêncio ainda fitando as impressoras, suas mãos tremeram.
__ Está nervoso, não é? Fique tranquilo, o máximo que você vai ganhar é um bronzeado__ e deu um pequeno sorriso.
__ Ok, eu topo.
__ Excelente! Você vai ter que se vestir de roupa de paciente de hospital. Vá se trocar enquanto preparo a máquina. As roupas estão aí perto e tem um trocador bem ali.
  Elliot se trocou, fez a retirada do sangue e teve uma mecha do cabelo cortada, a parte que ele menos gostou do processo, depois deitou-se na cama, foi anestesiado e dormiu.
  O professor depositou o sangue no recipiente da máquina, mexeu nos botões de ambas, as configurando e também as acessou por meio do seu notebook.
  Elliot Andrew caiu em um sono profundo. Enquanto a máquina processava suas informações, sua mente foi para longe...
  Elliot estava com seu amigo Charlie no alto de um monte. Estavam em silêncio até que Charlie perguntou:
__ Tem certeza de que isso é uma boa ideia? Quando eu perguntei sobre os superpoderes não era bem disso que eu estava falando.
__ Não sei se é uma boa ideia, mas eu quero tentar. Desde que você partiu eu não tenho tido mais sossego. Aliás, me desculpa, eu...
__ Não se desculpe__ disse Charlie em tom sério, pôs a mão no ombro do amigo e o empurrou lá de cima.
  O garoto caía e enquanto estava a beira da morte ele não pode evitar estar surpreso com a atitude do amigo. Ele olhou para cima e viu Charlie o olhando com apatia e depois sumindo em um estalar de dedos.
  "Qual é, deixa eu logo dirigir, por favor..."
  "Tá bom, mas só porque amanhã é seu aniversário, mas vai devagar."
  Recordou-se enquanto estava cada vez mais próximo da morte, "não me surpreende ele ter me jogado, eu também teria feito o mesmo"; pensou ele. Fechou os olhos, era tudo escuridão, depois se lembrou do acidente, da batida do carro, do corpo ferido de Charlie bem do seu lado, os olhos abertos, mas sem vida o observando de maneira macabra, o julgando enquanto Elliot chorava.
  Em seguida Elliot sentiu um vento em seu rosto e abriu os seus olhos novamente. Já não estava mais caindo e sim voando, não havia mais tristeza e sim alegria.
  Olhou para as suas costas e percebeu que havia ganhado asas. Voar era tão bom... Elliot deu piruetas no céu, tocou nas nuvens e voou junto com as aves das mais variadas espécies. Ele sorriu de um jeito que nunca havia sorrido depois de tanto tempo, como estava feliz, queria voar para sempre... depois ele passou por dois enormes aviões e uma misteriosa e plácida voz vinda do céu disse: "Elliot, Elliot, Elliot."
__ Elliot, Elliot, Elliot__ disse o Dr. Clóvis.
  O garoto abriu os olhos.
__ O que foi?__ perguntou.
__ Acorde, vamos, o seu clone está pronto, venha ver__ disse com entusiasmo.
  Depois de se levantar e se espreguiçar, Elliot foi lentamente até o cientista para a segunda máquina.
  O cientista abriu a impressora e Elliot surpreendeu-se. A pessoa que estava ali deitada era igual a ele... a semelhança era espantosa!
__ Elliot, é com muito prazer que lhe apresento o seu Alter-ego!  

Alter-egoOnde histórias criam vida. Descubra agora