Alter-ego

Desencontro

  Alter-Elliot ainda não havia tirado o uniforme, pelo menos não por completo. Estava ainda com a camisa branca, calça cinza e meias, deitado na cama e mexendo no notebook.
Elliot chegou no quarto com um sorriso de orelha a orelha dizendo:
__ A Rosa me chamou pra ir na casa dela.
__ Sério?__ disse surpreso.
__ Sério mesmo. O que você fez hoje?
__ Bom, eu só... fiz ela terminar com o namorado e consolei ela.
__ Caraca! Me conta essa história direito.
  Alter-Elliot contou toda a história, o suborno de Cristine, o beijo roubado, o tapa, o choro, a conversa.
__ Cara, você é mau__ disse Elliot entre risos.
__ Não, nós somos maus__ disse com um pequeno sorriso.
  E pularam na cama.
__ Eu vou ter um encontro, Walter!
__ Sim, você é demais!
__ Não, você que é!
__ Eu sei!
  E riam enquanto pulavam na cama.
  Pouco tempo depois, no entanto, algo rompeu com toda aquela felicidade. Ao longe Elliot ouviu um som de choro vindo do quarto dos seus pais, foi verificar e viu sua mãe chorando com o telefone na mão.
__ Mãe, por que está chorando?__ disse Elliot entrando no quarto.
__ Seu pai... ele... ele...__ mal conseguia falar, pois chorava muito.
__ Mãe, calma, ele o quê?!
__ Ele levou um tiro.
__ O quê? Ele morreu?!
__ Não, ele está no hospital, mas o estado dele é grave. Agora ele está em fase de cirurgia__ e chorou.
__ Mãe, calma, se ele...__ interrompeu-se, pois queria chorar, "não, eu preciso ser forte. Preciso ser forte por ela. O dia hoje foi tão bom, se minha mãe desmoronar... nada do que aconteceu até aqui importou"__ se ele... ainda está vivo não tem porque chorar. É pelos mortos que temos que chorar, não pelos vivos.
__ Não é o contrário?__ disse a mãe confusa.
__ Não, você tá agindo como se ele já tivesse morrido sendo que mal sabemos como anda a situação dele. Precisa se acalmar porque se ele ainda está vivo, ainda existe esperança. Agora, me espera um pouco que eu vou pegar um copo d'água pra você.
  E saiu do quarto. Antes de voltar para lá ele notou algo errado, Walter havia sumido. Ele chamou por ele no seu quarto, banheiro, cozinha, sala de estar... e percebeu que sua bicicleta também havia sumido e havia uma mensagem no celular de Elliot que ele não se lembrava de ter mandado:
  "Rosa, não poderei ir hoje. Meu pai sofreu um acidente."
  "Sério? Poxa, sinto muito. Me manda mensagem assim que puder. Desejo melhoras pra ele"; respondeu Rosa na mensagem.
  Ela parecia bastante compreensiva e solidária na mensagem. Elliot percebeu que Walter havia feito em um dia o que ele deixou de fazer por meses: conversar com Rosa de verdade. Agora ela estava mais próxima dele, estava bem claro que foi Walter que havia mandado aquela mensagem no celular, mas para onde ele tinha ido? Casa da Rosa? Curso? Para onde?
  "É impressionante como as coisas foram da água pro vinho. Em um momento está tudo indo bem. A Rosa me nota, consigo faltar aula sem me dar mal, meu dia estava indo tão bem e de repente... não posso ver a Rosa, o cabeçudo do Walter some, minha bike também, meu pai leva um tiro e minha mãe fica aflita!"; em seguida Elliot ligou para o cientista, "se tem alguém que deve saber algo é ele".
__ Eu não sei onde ele está.
__ Como assim?
__ Estou ocupado, depois conversamos.
__ Espera um pouco, não desliga ain... alô? Alô? Alô?
 Ele desligou.
 Não havia muito que o garoto pudesse fazer além de pegar o copo de água para a sua mãe. Ele bebeu primeiro, pois estava tenso e preocupado. Pai e Walter eram uma das pessoas mais importantes da vida dele e os dois estavam ausentes.
  Ele foi até sua mãe, que bebeu a água e agradeceu.
  Elliot disse:
__ Fica tranquila, mãe. Não é a primeira vez que isso acontece, lembra? Ele é policial, tá acostumado com isso!
__ É, mas ainda é humano.
__ Ele já passou por coisas piores no trabalho dele, ele não é humano, ele é um super-humano! Um homem de aço!__ disse tentando a animar__ E você também tem um superpoder.
__ Qual?
__ Você tem um coração do tamanho do universo onde sempre tem lugar pra mais um.
  E a abraçou.