Ciclone

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__ Você não contou pra alguém, contou?__ indagou Elliot.
__ Não__ disse Cristine colocando o dinheiro debaixo do sutiã__ E minha lição de inglês, cadê?
__ Está aqui__ disse lhe dando os papéis grampeados.
__ Adeus, Cristine.
__ Adeus? Don't be dramatic. Tchau, Ellizinho, foi um prazer fazer negócios com you.
  Elliot não respondeu, foi embora encontrar-se com Rosa.

  Ficaram perto do pátio do colégio de novo. Rosa comia uma maçã e Elliot comia um pão com presunto e queijo junto com achocolatado. Ás vezes ele comia um pedaço de maçã e ela um pedaço de pão.
__ Como está seu pai?__ perguntou ela.
__ Fora de perigo, graças a Deus. Ele ainda está no hospital, mas vai ficar bem. Vai ficar lá por uns... 5 dias, aliás, foi mal por não ter ido na sua casa ontem.
__ Tudo bem, família é família, no seu lugar teria feito o mesmo. Mesmo assim precisamos nos reunir pra planejar o trabalho de geografia.

  Algumas semanas se passaram. Elliot passou a se interessar a ir mais para a escola, ainda assim Alter-Elliot ia ao curso no lugar dele. Neste período Elliot se reuniu na casa de Allan para falar sobre o trabalho junto com as suas colegas de equipe Rosa e Helen. E neste tempo que teve mais contato com Rosa, aproximou-se ainda mais dela.
  Era sexta-feira 13 quando Rosa o chamou para sair de novo, no mesmo pátio e também na hora do recreio.
__ Ciclone vai tocar em um show aqui da cidade, tenho 4 ingressos. Convidei a Helen, quer ir?
__ Quero, claro que quero, seria ótimo sair de casa um pouco.
__ Ótimo, vou te dar 2 ingressos. Convida mais alguém!
  Elliot se ofereceu para leva-la por meio de sua caminhonete, ela aceitou. Mais tarde Elliot chamou Rafael para acompanha-lo, ele aceitou. Rafael achou estranho ele ter o convidado ao invés de Charlie, Elliot teve que explicar o motivo, não havia mais razão para esconder.

  O show começaria às 19:00 da noite, na Arena Amado Peixoto, considerado o local onde as maiores lendas do rock nacional e internacional já tocaram.
  Elliot estava ansioso, mas havia ainda um pequeno problema: como conseguir a caminhonete? E será que sua mãe deixaria ele ir ao show? Não custava perguntar...
__ Não, não e não! Agora saia daqui e vá pro seu quarto!__ gritou sua mãe que estava no quarto dela junto com Elliot.
  Elliot foi para o seu quarto enfurecido e bateu a porta bruscamente dizendo:
__ Odeio ela!
__ O que houve?__ indagou Walter.
__ Ela não deixou eu ir, ela acha que é uma má influência pra mim, rock é do demônio e blá, blá, blá... ela acha que eu vou lá só pra beber e fumar maconha... tá certo que talvez eu beba um pouco e fume também, mas mesmo assim! Ela simplesmente não confia em mim. Absurdo!
__ E o que vai fazer?
__ Não sei, cara! Mas eu preciso ir a esse show, eu prometi a Rosa que iria!
  Ficaram em silêncio por um tempo, pensando em uma solução... até Walter o romper dizendo:
__ Espera, você pode ir sim! Você tem um superpoder, lembra?
__ Que poder?
__ Você pode ficar em dois lugares ao mesmo tempo!
  Elliot o olhou reflexivo, procurando absorver aquelas palavras, até que enfim o olhou com um sorriso travesso.
__ Tem razão. Eu posso! Eu posso!
__ Não, nós podemos!
  Elliot levantou-se e abraçou Walter dizendo:
__ Você é um gênio!
__ Não, você que é!
__ Eu sei!
  O tempo passou. A parte mais difícil foi a de sair escondido de sua mãe, Walter ficou encarregado de distrai-la de alguma forma. Ele ficou assistindo novela junto com ela, também dançaram valsa juntos e no momento em que a porta da garagem abriu, a música ficou bem alta.
  Elliot conseguiu sair com sucesso de casa com a querida caminhonete azul, suas mãos suavam de nervosismo no volante. Estava bem arrumado, com a camisa da banda com a ilustração de um tornado com instrumentos e notas musicais coloridas, jaqueta azul, calça jeans com algumas marcas de rasgado por questão de estilo e tênis escuro. Estava radiante, seria a primeira vez que teria um encontro com Rosa.
  Rosa o aguardava na sua casa acompanhada de Helen. Quando saiu de casa também usava uma camisa de banda, era regata e amarela, por cima vestia uma jaqueta jeans, também estava de calça jeans e sapatilha rosa. ­
__ Você está linda__ disse ele quando ela entrou pela porta da frente.
__ Obrigada, você também tá.
__ Obrigado__ respondeu corado.
  Por fim buscaram Rafael e conseguiram chegar ao show. Eles conseguiram ficar próximos do palco de tão cedo que chegaram.
  Foi um show agitado. Elliot usou bastante a sua voz, cantando bastante e dançando junto com seus amigos.
  Ciclone era considerada a "Filha de Linkin Park". Alguns dos integrantes do Linkin Park se desentenderam com os outros membros, resolveram sair e formar a própria banda. Eles começaram mal, mas com o tempo evoluíram e se tornaram uma das maiores bandas de todos os tempos. Depois de alguns anos os membros da Ciclone fizeram as pazes com os membros da antiga banda e até chegaram a fazer um show beneficente juntos.
  Havia uma música da Ciclone que se chamava "The rebel daughter" (A filha rebelde); contava a história de uma garota que brigou com os pais e saiu de casa em busca de independência, uma clara analogia com a história do surgimento da banda. Havia brigas entre os fã-clubes usando esta música para ofender, mas as brigas só ficavam entre fãs mesmo. Tanto Ciclone quanto Linkin Park tinham uma relação pacífica, além de já terem tocado juntos, também tocavam as músicas uns dos outros em seus shows como forma de homenagem. Elliot gostava de ambas as bandas, não tinha uma preferida.
  Houve um momento em que Ciclone tocou "Numb", a música favorita de Elliot de Linkin Park. Foi o momento em que Elliot mais gritou, cantou e pulou. No mesmo show Ciclone tocou uma música autoral, a música "Sea of roses" (Mar de rosas), lançamento recente da banda. Essa música era mais lenta e romântica. Muitos casais dançaram abraçados ao ouvi-la. Elliot chamou Rose para dançar e eles dançaram juntos, foi nesse momento em que estiveram ainda mais próximos e tiveram o primeiro beijo deles.
  Depois do show eles comeram e beberam numa barraquinha de lanche dentro da Arena. Elliot bebeu cerveja sem álcool e fumou um pouco junto com Rosa.
  Quando chegou a hora de entrarem no carro para voltarem para casa. Rafael estava bem bêbado, assim como Helen, que estava mais sonolenta. Rosa nem tanto porque bebeu pouco. Enquanto Elliot dirigia, Rafael reclamava feito um bêbado chato dizendo que queria dirigir.
__ Não cara, você tá bêbado!
__ Por favorzinho, cara!
__ Já disse que não. Minha caminhonete, minhas regras!
__ É do seu pai.
__ Dá no mesmo.
__ Por favorzinho, vai... por favor... pelo cinema...
__ Que cinema?__ indagou Rosa.
__ Esse cara faltou aula pra ver filme...
__ Isso foi quando?__ indagou Rosa.
  "Cala a boca, Rafael".
__ Já faz um tempo__ respondeu Elliot.
__ Deixa eu dirigir e deixa de mentir, não faz nem uma semana...__ disse Rafael tocando no ombro dele.
__ Me solta. Rosa, segura ele!
  Rosa o empurrou bruscamente.
__ Sai, Rafa! Não me lembro de te ver faltando aula nessa semana__ disse Rosa.
__ F-foi o curso!__ disse Elliot.
__ Ele vive faltando o curso, sabia?__ disse Rafael rindo__ me dá o volaaante!
__ Viu só?__ disse Elliot__ Sai, cara!
__ Só quando me deixar dirigir... deixa, deixa, deixa.
__ Não, não e não e se continuar insistindo, vou te largar aqui__ disse já impaciente.
__ Da mesma forma que largou o Charlie? Qual é, deixa, deixa, deixa...
  Foi quando Elliot perdeu de vez a paciência, parou o carro bruscamente próximo a uma calçada e gritou colérico:
__ Nããão! Não, não, não e não! Minha caminhonete, minhas regras! Minhas regras! E da próxima vez que citar o nome do Charlie, vou acabar contigo da mesma forma que eu acabei com ele! Quer morrer? Quer?
  Os outros ao redor ficaram assustados com seu ataque de raiva, estava tão vermelho que parecia que ia explodir a qualquer momento. Houve um silêncio constrangedor enquanto Elliot olhava Rafael com um olhar sanguinário que, por sua vez, ficou amedrontado ao ponto de mijar nas calças lá mesmo.
__ E-está bem, eu não vo-vou dirigir, tá bem? N-não vou...
__ Ótimo__ e voltou a dirigir.
  A viagem seguiu silenciosa, mas algumas vezes ouviam Elliot sussurrar: "não vai dirigir".
  Quando Elliot voltou para sua casa, estacionou o carro na garagem, subiu as escadas. Sua mãe estava dormindo e Walter o esperava no quarto.
__ E aí cara, como foi?
  Elliot ficou em pé, não respondeu.
__ Cara?
  Continuou mudo, estava cabisbaixo, mas ainda de pé.
__ Tá tudo bem?__ disse Walter se levantando e se aproximando dele.
  Elliot simplesmente reagiu o abraçando intensamente, desabou em lágrimas repetindo: "deixei ele dirigir".
__ Deixou quem dirigir?
__ Você sabe...__ e o abraçou mais forte enquanto chorava ainda mais.
  Naquela mesma noite, durante a madrugada... Walter ligou para o tio de Charlie.
__ Elliot? Por que está me ligando em plena madrugada?
__ Porque precisamos falar sobre Charlie__ respondeu Walter calmamente. 

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