Alter-Elliot

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__ Então eu sou um clone?__ disse o clone, sentado na cadeira e tomando soro nas veias. Dr. Clóvis disse que isso era necessário, pois ele necessitava de nutrientes no organismo.
"Alter-Elliot"; assim batizou-o o cientista. Ele era semelhante a Elliot, os mesmos cabelos crespos, pele clara, olhos castanho-escuros, nariz fino, mesmo peso e altura, não tão baixo e nem tão alto, magro, mas havia nele algo de diferente: tinha a aparência mais saudável, menos triste, sem cara de sono e aspecto de cansado.
"Você definitivamente não é o Elliot que eu olhei no espelho hoje"; foi o que Elliot pensou desde a primeira vez que o viu.
__ É sim__ disse Clóvis__ Você é a cópia dele. Sua função primordial é o servir e ajuda-lo no que for preciso.
__ E eu sou uma cópia bonita ou feia?
__ Por que a pergunta?
__ Porque esse Elliot tá me olhando estranho. Ou ele está com inveja da minha beleza ou eu sou muito feio.
__ Não é isso__ explicou-se Elliot__ É que... você é idêntico a mim, eu... nunca achei que seria possível.
__ É bem fora do comum, não é?__ disse Clóvis__ Sua surpresa é compreensível. Realmente é algo surpreendente e chocante nos primeiros momentos, mas você se acostuma. É só questão de se adaptar.
__ Nós vamos preparar um lanche para vocês. Vamos deixa-los um pouco a sós__ disse Diana.
__ É sim, se precisarem de algo estaremos lá em cima__ disse Clóvis.
__ Esperem! Não me deixem sozinho com ele, por favor...__ disse Elliot com certo medo na voz.
__ Não tenha medo, Elliot. Acredite, não é a primeira vez que fazemos isso.
__ Se esqueceu do médico pianista?__ indagou Diana.
__ Por que tem medo de mim? Eu sou você!__ disse Alter-Elliot.
__ Não, você é só uma parte minha.
O som de passos subindo a escada é ouvido. Elliot estava oficialmente sozinho com seu clone.
__ Dá no mesmo__ disse o clone com desdém.
__ Não, não é a mesma coisa, definitivamente não é!__ disse Elliot nervoso.
__ Olha, cara...__ suspirou de tristeza e continuou__ Ainda que eu queira te destruir, como eu faria isso nesse momento? Eu tô tomando soro no momento, preciso de nutrientes porque eu mal consigo ficar de pé. Eu sei que essa situação é estranha, mas no momento eu não faria mal a nenhuma barata, e se for para ter medo de mim, por que quis que eu existisse pra início de conversa?
Elliot suspirou arrependido, realmente não fazia sentido ser tão hostil naquela situação que ele próprio havia criado.
__ Desculpa, é que... eu sei que você é uma parte minha, mas... essa situação... você é um clone.
__ É, mas eu não sou monstro, não sou seu inimigo. Eu não vim pra te substituir, eu vim pra te ajudar a ser uma pessoa melhor. Que tal me conhecer primeiro antes de me julgar se sou bom ou mal?
__ Tem razão. Acho que é a melhor coisa a se fazer mesmo.
__ Aliás, eu sinto muito por seu amigo Charlie.
__ Como você conhece o Charlie?
__ Tenho todas as suas memórias__ respondeu Alter.
__ Todas elas?
__ Todas. Aliás, eu tive um sonho estranho enquanto era criado.
Elliot ficou intrigado, "O quanto ele sabe?".
__ Qual?
__ Charlie me empurrava de um penhasco e depois disso eu ganhava asas... por que eu sonhei com isso?
__ Você não sabe?__ disse Elliot surpreso. "Então ele não sabe de tudo."
__ Não, e pelo visto você também não.
__ Não, eu sei o que significa, mas... eu pensei que soubesse tudo sobre mim.
__ Bom, eu sou uma parte sua, não você.
__ Pensei que desse no mesmo.
__ É, você me pegou__ disse Alter-Elliot em tom amistoso.
__ Então realmente você não tem uma memória assim tão boa__ disse Elliot convencido.
__ Não se gabe tanto, não fui eu que repeti o ano.
__ Ai, essa doeu!__ respondeu Elliot entre risos.
Alter-Elliot riu também.
__ Precisamos dar um jeito de você entrar lá em casa. Precisa se disfarçar.
__ Um passo de cada vez, ainda precisamos lanchar__ disse Alter com um sorriso simpático.
Elliot trocou de roupa. Alter-Elliot usou algumas roupas gastas velha do cientista.
__ Pareço um velho__ comentou o clone.
__ Relaxa, é temporário__ tranquilizou Elliot.
Eles lancharam pães de queijo com café e biscoitos. Em meio a conversa entre eles, Elliot perguntou com uma inocente curiosidade ao cientista.
__ Doutor, é possível clonar pessoas mortas?
__ Se quiser um cadáver a mais, talvez. Mas por que alguém clonaria um morto?
__ Bom... não necessariamente um clone morto...
__ Não sou o Victor Frankstein, rapaz. Só posso gerar vida por meio de outra vida e nem quero pensar em reviver pessoas... eu tenho meus limites. Uma coisa é uma pessoa se oferecer de livre e espontânea vontade para ser clonado, outra bem diferente é reviver alguém sem poder de escolha.
Após o lanche, Diana pediu para que os rapazes esperassem no carro enquanto ela conversasse com o doutor. Eles o fizeram, mas quando eles estavam na porta, Alter-Elliot avisou que queria ir ao banheiro e Elliot foi para o carro sozinho.
__ Por que mentiu para ele?__ indagou Diana.
__ Você por acaso tem memória curta? Esqueceu-se?
__ Claro que eu não me esqueci, mas não fazia mal falar a verdade.
__ Falar a verdade... foi assim que começou da última vez e lá estávamos nós brincando de "reviver o Lázaro". Algumas coisas devem se esquecidas. Deixe ele chorar pelo seu amigo falecido, deixe-o vivo apenas nas memórias do rapaz, é melhor assim.
Diana o olhou com reprovação.
__Quer enchê-lo de esperanças vazias? Vá em frente, mas eu não vou fazer parte disso.
__ É sempre um prazer revê-lo, doutor__ ela disse com sarcasmo.
__ Pode me olhar feio o quanto quiser, mas você e eu sabemos bem que se quebrarmos esse limite, as chances de quebrarmos Elliot ainda mais serão enormes.
__Pensei que isso pudesse ajuda-lo a ser uma "pessoa melhor".
__ Eu sei querida, eu sei. Tens um grande coração, mas precisamos fazer só o que está ao nosso alcance__ e a abraçou.

Aquele-que-resolveu-ir-ao-banheiro ouviu atentamente aquela conversa. 

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