Bad Moon Rising

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Pense em você, você é um ser humano, certo? Agora pense no mundo real que está a sua volta e diante disso pense na forma como encara ele na sua cabeça. Pensou? Se fez isso você sabe que o mundo real é diferente do mundo dentro do seu interior e sabe que na realidade você finge ser muito mais feliz do que realmente é e enquanto isso, na sua cabeça você dança de mãos dadas com o fim, frente a frente com o limite e muitas vezes se cobrando e se perguntando porque esta vivendo dessa forma.

— autor, estamos falando de nós ou de você? – tipo de pergunta que eu nunca gosto de responder, mas já que tenho, essa é a resposta: estamos falando de quem se identifica, de quem sente que se encaixa de algum jeito esquisito em tudo isso aí.

Eu nunca tenho planos e muito menos sei pra onde ir, o piloto automático está sempre ligado e pronto para me mostrar destinos desconhecidos por esse mundão.
Eu sei o que estão pensando, se eu praticamente não tenho saido de casa, como isso pode ser possível? Na minha cabeça tudo é possível, principalmente dançar de mãos dadas com o fim. Ser escaralhado é uma coisa que tá no meu sangue, e o que mais posso fazer? A raiva me impulsiona, por isso nunca foco em nada que não seja a manutenção e o bom uso da mesma.

Se todo ser humano é um universo em miniatura, parece que a minha miniatura de universo virou tudo de cabeça pra baixo e agora eu não vejo onde está o botão que reverte isso. Eu danço com os meus problemas, com os problemas dos outros e até com problemas que não existem. A música apesar de retratar todo esse caos não me parece ser triste. Pelo contrário, acho que ela tocava em qualquer festa dos anos 70 e as pessoas dançavam felizes apesar da confusão transmitida na letra.
Essa é a música perfeita pra uma briga de bar ao estilo faroeste, não acham? Consigo imaginar garrafas voando, pessoas sendo arremessadas do outro lado do balcão, tiros, prostitutas correndo feito loucas com os peitos de fora, algum bêbado caindo do segundo piso do bar enquanto um doido solitário que acabou de chegar na cidade acende um cigarro, da risada da situação e bebe um gole de whisky como se aquilo tudo fosse normal pra ele. O viajante então respira fundo como se estivesse em casa. Eu por outro lado tô aqui enxergando a mesma música só que de um ponto diferente da realidade, aqui tudo é bem mais complexo e o que era pra ser engraçado de se lembrar acaba se tornando um filme de terror.

Alguém pelo amor de Deus me dá uma garrafa daquele mesmo whisky dele? Eu preciso entrar naquele bar e sentir como se tudo aquilo também fosse normal pra mim, preciso matar aquela garrafa com ele e quebrá-la na cabeça de qualquer pessoa sem remorso algum, apenas pela diversão de bater em alguém ao mesmo tempo em que levo porrada e peço pro dono do bar aumentar aquela música no último volume pra deixar tudo mais emocionante...

Coleciono momentos distintos de uma história que não é minha mas que pelo meu jeito escaralhado de ser eu me encaixaria perfeitamente, isso é o que me mantém livre de encarar os fantasmas da minha própria realidade, os quais eu não quero lembrar, mas que sempre aparecem pra mim. Agora já não importa mais quantas porradas eu levei ou quantos socos dei, não sei a extensão das minhas feridas e nem quem vai me suturar, mas aqui, assim como o viajante eu me sinto em casa. Pra onde olho vejo terra batida, ouço o barulho do trem chegando e sei que ele me levará a outro dos muitos lugares que tenho que conhecer por ai. Levo comigo outra garrafa pra amenizar as dores durante a viagem, na memória lembranças daquele instante e no rosto um sorriso de alívio por estar vivo pra contar mais essa história.

Agora analisando bem tudo que contei acho que me sinto dividido entre essa história que narrei e a real, e assim posso ver o quão deprimente tem sido a minha vida, o fato de eu não querer viver como alguém comum e sentir raiva disso.
Posso ver que muitos de vocês querem e precisam de uma vida tranquila pra fazerem aquela coisa que os normais chamam de nascer, crescer, reproduzir e morrer, mas eu acho isso um saco, então ainda trocaria tudo por aquele bar, o caos e todas as prostitutas correndo com os peitos de fora, trocaria tudo pela risada, a garrafa de whisky e principalmente pelas memórias a longo prazo. Que se foda essa porra de realidade em que eu sou alguém que depende de outro alguém até na hora que a coisa fica feia. Vivo na esperança que a vida me reserve realidades melhores e que eu não precise voltar tanto no tempo dessa forma pra me sentir inteiro.

Hoje é uma noite daquelas em que eu olho pro céu e vejo a lua ruim nascendo, mas que ao amanhecer quando eu sinto a adrenalina de tudo que meus dedos foram capazes de fazer com esse bloco de notas na madrugada, eu só abro um sorriso, procuro qualquer coisa que tenha álcool e bebo pra comemorar mais um pensamento fora da curva

A minha casa está vazia no momento e com a casa vazia eu tenho tempo de idealizar aquele bar cheio de gente. Tudo isso é sobre a realidade que é melhor na minha cabeça do que quando é vivida, e faço questão de repetir sobre isso quantas vezes forem necessárias porque não acho que vocês entendam mesmo tendo um capítulo específico.

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⏰ Última atualização: Mar 20, 2021 ⏰

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