Patos de papel

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a:  demorou 10 capítulos pra que eu pudesse dizer "esse é o meu capítulo favorito até agora".


Depois de duas crises, era de se esperar que Yoongi tivesse de tomar uma atitude a respeito da rotina de seu viciado em cocaína. Mas Seokjin era péssimo em esportes. Péssimo. A corrida foi uma empreitada presunçosa e fadada ao fracasso desde o início. O basquete não parecia tão frustrante no início, mas assim que Yoongi percebeu que a altura de Seokjin não fazia dele mais do que um poste inútil, também foi totalmente descartado das quadras.

Futebol, vôlei, polo aquático, tênis. Seokjin era ridículo em todos eles. Não se dedicava, não tinha vontade, odiava malhar – sempre foi muito mais do time que passava fome. É claro que sua resistência também era sofrível, uma corrida acelerada de dez segundos e ele ficava meio roxo, meio verde, até precisar se sentar com a cabeça entre os joelhos.

— Você simplesmente não tem aptidão alguma pra isso, não é mesmo?

Eles estavam em um ginásio particular, Seokjin havia acabado de sair de uma partida de handball com uma bolada na bochecha direita. Ele estava enjoado porque comera meia maçã e uma xícara de chá no café e Yoongi meio que entendia, meio que censurava o fato. Sua cabeça cor de rosa estava enfiada entre os joelhos magrelos e tudo que ele dizia eram murmúrios sofridos.

Naquela manhã, Yoongi estava vestido numa versão gótico-esportiva do que ele era sempre. Ele usava uma faixa no cabelo, da Nike, que o deixava engraçado e confusamente atraente. Seokjin estava zonzo, talvez fosse só isso.

— Não consigo fazer nada disso. Odeio isso, Yoongi. Foi por isso que virei modelo, meu deus, como você achou que eu poderia? – resmungou, encarando o tampo do banco do vestiário masculino, pintado de um azul elétrico.

— Todo mundo jogou alguma coisa no colégio, você não?

Seokjin ergueu o rosto nauseabundo para Yoongi e ergueu uma sobrancelha.

Você jogou?

— Basquete – respondeu Yoongi, dando de ombros – Eu era ala-armador, quase virei profissional, mas quebrei o ombro.

Aquilo era interessante. Sempre que Yoongi deixava escapar algo, era interessante. Não só porque eram sempre coisas realmente surpreendentes, mas porque, principalmente, tornavam cada vez mais difícil entender como ele havia parado ali.

— Sua carreira no basquete acabou e aí você virou babá de drogado – refletiu Seokjin, com um humor ácido, afirmando ironicamente com a cabeça – Faz todo o sentido.

Yoongi riu e se sentou no banco logo à frente, apoiando as mãos atrás do corpo, se concentrando em algum pensamento por um instante.

— Achei que os esportes pudessem lembrar você de algo bom, mas acho que estava enganado – disse ele – Como foi o colégio pra você? Na minha cabeça você era exatamente o tipo de cara que era considerado um rei, capitão de alguma coisa. Você fez faculdade ou... Algo?

Seokjin quase riu com a suposição. Era natural que ele aparentasse ter sido o rei do colegial, príncipe do baile da primavera. Bom, ele era um príncipe agora. Antes, grande parte do seu tempo era dedicado em esconder aquilo de todo mundo.

— Na realidade eu era bem fodido – comentou, cruzando os joelhos, já não sentindo aquela necessidade excruciante de vomitar – Eu era mais alto, mas era desalinhado, afeminado, gostava do Freddie Mercury e do Bruce Springsteen e de andar de patins. Eu sou viado, não sei se você notou e tal, mas tenho sido desde os meus sete anos de idade. Eu não jogava nada. Então no meio do Ensino Médio eu aprendi a tocar contrabaixo, foi quando conheci Namjoon, e nós tivemos uma banda por um tempo. Foi quando parei de me importar, aprendi a estar na frente das pessoas, e descobri que eu gostava mais daquilo do que da música. Que eu gostava de como eu me parecia, ou podia me parecer. Uma coisa levou à outra e me tornei modelo de passarela aos dezenove. Namjoon e eu largamos a banda, ele se desdobrou tanto para me ajudar no começo que descobriu algo que podia fazer também.

faux fur ;  yoonjinOnde histórias criam vida. Descubra agora