faux fur ; yoonjin

Amadeirado de cedro

a: há muitas respostas para as perguntas do anterior nesse aqui. obrigada, de novo, pelas leituras e pelos comentários, eu conto os dias pra estar aqui com vocês de novo!! estamos perto do final dessa parte pra entrar na reta final e quero que aproveitem bem, escrevi com muito carinho (apesar de sempre ser econômica pois ainda sou uma mulher de poucas palavras).

É impossível saber quando um desastre vai acontecer. Algumas coisas mudam o ar, possuem cheiro, gosto, enviam arrepios. Naquela manhã, no entanto, Seokjin não sentiu nada.

Estava, na realidade, muito feliz. Cinco dias depois de ter ganhado sua primeira medalha de sobriedade, teve tempo de ir até a Hope World mostrá-la para Taehyung, que ficou tão feliz e impressionado que passou horas sentado em um sofá abraçando Seokjin pelos ombros e dando cheirinhos em seu cabelo. Taehyung oferecia um contato do qual Jin sentia muita falta: um contato de carinho, fraterno, sem reservas. O perfume de Tae era reconfortante e amadeirado, uma mistura que o fazia se sentir em uma manhã morna, e era fácil simplesmente aceitar ser abraçado por horas a fio.

— É mesmo uma pulseira linda — comentou — Ele quem mandou fazer pra você? O Yoongi?

— Sim — respondeu Seokjin — Ele fingiu que não ia me dar uma medalha enquanto ela ficava pronta. Então quando saí à noite sozinho e voltei bem, ele resolveu que era hora.

— Isso é muito bonito. Ele presta muita atenção em você — falou Taehyung, enquanto brincava com alguns fios da franja longa e rosada do amigo — Não é muito comum fazer joias com as fichas, é bem original. As que ganhei ficam na minha carteira, parecem fichas de cassino.

Ele vasculhou o bolso da calça de alfaiataria e pegou sua carteira porta-cédula de couro marrom, abriu e retirou de lá uma ficha vermelha com ranhuras em dourado, o símbolo do grupo que ele frequentava estava gravado com relevo, na parte de trás a data em que Taehyung a conquistou.

— Essa é a minha de dois anos — mostrou ele, girando-a entre o indicador e o dedo médio em riste — Às vezes eu fico olhando para ela. Só olhando. As outras ficam na cabeceira da minha cama, fixei elas com pregos. Tenho muito medo de um dia ter que devolver todas.

— E isso acontece? — perguntou Seokjin, surpreso — Ter que devolver?

— Se você vacilar, sim. A regra é que devolva todas as fichas e recomece do dia 1.

Seokjin pensou muito sobre aquilo. Não queria devolver sua pulseira nunca, aquilo partiria seu coração.

— Eu quero chegar aos dez anos. Mas acho que nunca mais vou ter outra dessas — ele ergueu o pulso, indicando a pulseira — Yoongi quem fez pra mim. As outras serão como as de todo mundo no grupo.

Taehyung sorriu, guardando de volta sua ficha e então acariciando o cabelo de Seokjin com delicadeza.

— É bom ver que você valoriza isso. Quando chegou aqui nem sabia quantos dias estava sem usar. É incrível a mudança — comentou — Você está feliz?

— Sim — respondeu, sincero.

Contou a Taehyung tudo o que havia acontecido nos últimos dias, contou sobre Jungkook, sobre Jaehyun, mas quando se lembrou de Yoongi não conseguiu dizer nada. Queria manter aquela sensação encapsulada em seu estômago, como um compartimento secreto. Podia até fingir não se lembrar. Porém sabia que, durante a noite, quando as luzes da sala deixavam de escapar pela fresta da porta, ele trazia o pulso para perto do peito e ficava tentando arrancar algum calor de sua medalha com a ponta dos dedos, pensando somente em Yoongi. Só nele.

Era... Aterrador.

Era como se sua cabeça se esvaziasse, como se seus pensamentos todos de repente fossem embora e ele tivesse, ao mesmo tempo, uma exagerada noção de tudo. Não pensava no que queria e nem por quê queria, não pensava em nada, não podia nomear aquilo, era apenas Min Yoongi. O nariz, os olhos, a boca, a ponta das orelhas, os dedos, as unhas, as veias azuis. Era o cheiro, o cabelo, as sobrancelhas, os cílios longos, a cor da pele. Nunca tinha pensado tão clinicamente em alguém e de forma tão absoluta. Tão avassaladora. Aquilo o perturbava, mas era segredo.