Kim Seokjin, aproximadamente.

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a: quase posto o capítulo errado! agradeço novamente a todos os que leem, votam e comentam essa história, me traz uma alegria muito grande saber que escrevo para alguém.


A pior coisa que já havia acontecido na vida de Seokjin, depois de um jejum de uma semana com direito a dois copos d'água para um desfile em 2013, com certeza era cheirar pó sob supervisão médica. Enquanto ele se inclinava em direção ao criado mudo com um canudo enfiado no nariz e dois cartões com vestígios de cocaína nas bordas bem à altura de seus olhos, ele pensou que a mágica que rondava a droga era apenas a vaga ideia de subversão.

Sob o olhar do Dr. Lee, usar cocaína era só triste. Como tomar um paracetamol na frente da sua mãe ou coisa parecida. O Dr. Lee tinha um semblante tranquilo, sereno demais para quem testemunhava um modelo lindo e esbelto cheirar cocaína como um aspirador. Ele tinha o rosto de quem já tinha visto aquilo um milhão de vezes.

As doses eram miseráveis. Se tornavam mais miseráveis com o passar do tempo. Seokjin costumava usar cocaína todos os dias, às vezes mais, às vezes menos. Ele tinha cocaína em casa, no carro, na agência, nos bolsos dos sobretudos, dentro de suas botas. Era tanta cocaína que se juntassem tudo, muito provavelmente ele seria preso por tráfico. Não era preciso ser um gênio para perceber que era um dependente. Quão pior ele se sentisse, maiores e mais espessas eram as carreiras. Num gráfico de pares comum, a quantidade de cocaína que usava era diretamente proporcional a quantas vezes no dia ele se sentia decepcionado por ser ele mesmo.

Lá fora, em Seoul, no mundo real fora da clínica, ele estava se recuperando de um acidente de carro. A imprensa publicava corriqueiras notas desapegadas de preocupação.

Kim Seokjin, famoso modelo da Real Me, se recupera de um acidente de trânsito no Saint Mary's de Seoul.

Acidente de trânsito hospitaliza dois rostos queridos da moda: Kim "Jin" Seokjin e Jeon Jungkook. Jin se recupera de lesões e traumas internos e Jeon Jungkook permanece em coma após um traumatismo craniano.

Ele gostava da expressão traumas internos – porque não era totalmente mentirosa.

Namjoon aparecia para vê-lo duas vezes por semana. A clínica não era ruim e nem se parecia com um hospício, mas Seokjin constantemente escondia de todos a vontade que tinha de enlouquecer. Quando aparecia, Namjoon trazia notícias de Jungkook. Três semanas e ele não havia acordado. Era um coma declarado. Ele passara por mais uma cirurgia e a família Jeon se amontoava nos corredores e dava declarações condizentes com a fábula criada ao redor da ocorrência.

Seokjin se perguntava se a família de Jungkook sabia sobre as drogas, se Namjoon ou os médicos tiveram os nervos de olhar no rosto da mãe dele – fosse lá quem ela fosse – e dizer com todas as letras que o filho era um viciado em drogas pesadas com grandes contatos no tráfico de entorpecentes da capital. Nunca perguntara a Jungkook sobre sua família. O garoto, assim como ele, se desgarrou muito cedo das amarras de sua criação para lançar-se no mundo das dietas, das belas roupas e das drogas para dormir.

Jungkook era de Busan. Sabia pelo sotaque que ele arrastava numa conversa confortável e pelo rostinho de garoto do interior, quando ele estava sem maquiagem. Jungkook tinha mesmo jeito de quem nascera e se criara na beira de uma praia numa província sem nome, e o que era mais encantador era como ele conseguia mostrar aquilo só para quem interessasse. Ele mais de uma vez rolou os olhos na direção de Seokjin, o gargalo de uma garrafa de cerveja em seus lábios de cereja, dizendo: "nada acontece em Busan, hyung".

Pensava sobre muitas coisas quando estava entre as paredes da clínica. Nas consultas com a psicóloga, no entanto, falava sobre amenidades que sabia parecerem absurdas e não-saudáveis, mas ainda era melhor e mais seguro que dizer o que se passava em sua mente. Seokjin acabaria internado para sempre se começasse a querer se confessar como um coroinha antes da primeira eucaristia. Ele estava acostumado a mentir para todo mundo. E uma mentira contada muitas vezes, como dizem, torna-se uma verdade pela qual, às vezes, até vale a pena sofrer.

faux fur ;  yoonjinOnde histórias criam vida. Descubra agora