Nenhum drink no inferno

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a: agradeço de coração os comentários, votos e todo mundo que guarda um tempinho pra ler faux fur! pode parecer muito pouquinho pras dimensões do site, mas pra mim mais de 250 leituras é muita, muita coisa. Guardei essa história por muito tempo, que bom que agora ela existe pra mais alguém.



Seokjin começou a se preocupar quando as placas de trânsito começaram a ficar escassas nas calçadas e Yoongi começou a conduzir o carro por um trecho repleto de semáforos com defeito e faixas de pedestre desvanecidas no asfalto. Parecia uma parte da cidade esquecida não só pelo governo, mas talvez por Deus.

Os prédios eram decrépitos e tinham pintura descascando, janelas de grade enferrujadas ou pintadas, retorcidas em modelos que deveriam ser moda em 1970. As pessoas na rua andavam de bicicleta, a pé ou em pequenos bandos, todas vestidas em roupas estranhamente simples demais, com aparência barata e extravagante, ainda que do pior modo. Seokjin via tudo através da janela, intrigado.

Não era como se ele nunca tivesse estado em um lugar como aquele, mas fazia simplesmente tempo demais. Com Namjoon, no começo de sua carreira, ele dividira um apartamento em um subúrbio mais ou menos como aquele, em que as coisas ficavam alaranjadas sob o pôr do sol e as pessoas usavam chinelos e compravam refrigerantes para devolver a garrafa nas lojinhas de conveniência. Pouco antes da Blast ser totalmente desfeita e Seokjin vender seu baixo para bancar uma roupa para um teste numa agência, Namjoon e ele ainda torravam pão na frigideira e gostavam de andar em pequenos bandos também, rindo de besteiras e encostando em paredes pichadas para se beijar.

Mais uma vez diante das paredes cruas grafitadas com arte incompreensível e o laranja de um sol já frio, Seokjin sentiu uma nostalgia excruciante. Os lábios de Namjoon com gosto de Coca-Cola e os dedos dele, calejados pelos anos tocando guitarra, tocando seu rosto. Sentiu uma fisgada escrota em seu peito. Onde tudo aquilo havia o levado?

Yoongi, sereno ao volante, não percebeu a mudança no ar. Não percebeu Seokjin afundando-se no banco ao seu lado, os olhos bem fechados, respirando vagarosamente pelo nariz na tentativa de impedir uma onda de tristeza e arrependimento de chacoalhar seu corpo por completo. Em qualquer momento entre uma lágrima que inundou os olhos de Seokjin e Disorder tocando de novo, Yoongi abaixou o volume do som, o que o fez abrir os olhos de imediato.

— Estamos quase chegando – anunciou ele.

— Um pouco afastado da cidade, não? – comentou Seokjin, sem qualquer intenção de soar irônico ou horrível como sempre – Não vai atrapalhar muito vir até aqui sempre?

— Não se preocupe, é o melhor levando em conta sua situação, e eu não me importo em dirigir.

Apenas assentiu com a cabeça, voltando a deslizar os olhos para a rua. Yoongi às vezes era gentil e solícito, mas Seokjin não sabia dizer se o era apenas por causa de seu trabalho. Yoongi claramente não gostava dele, e ele não o culpava. Era uma pessoa difícil de gostar e, mesmo sem ter exatamente a intenção, acabava despertando o pior nas pessoas e isto não mudaria com o seu acompanhante de sobriedade. Seokjin odiava o que o trabalho de Yoongi representava em sua vida, não sentia qualquer vontade de mudar o que quer que se passasse pela cabeça do acompanhante a seu respeito.

Era arrogante, sim. Insuportável, frívolo, fútil, dramático. Era aquela coisa que alguém lhe disse uma vez: se alguém não sabe lidar com o seu pior não está pronto para ter o seu melhor. Talvez o próprio Seokjin não estivesse pronto para ter o seu melhor – se é que ele existia.

Yoongi parou na calçada de uma construção à beira da ruína. Parecia um museu ou biblioteca abandonada, algo que alguém se propôs a fazer muitos anos atrás e que o tempo se encarregou de destruir. Parecia um prédio governamental, algo público, mas não havia identificação ou decoração, apenas uma dúzia de folhetos grudados nas vidraças embaçadas de sujeira da grande porta dupla de entrada.

faux fur ;  yoonjinOnde histórias criam vida. Descubra agora