04. Continua Esquecida

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— Hora de ir pra casaaaa! —Yara grita no meio da sala de biologia, após o sinal tocar—

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— Hora de ir pra casaaaa! —Yara grita no meio da sala de biologia, após o sinal tocar—

— Menos senhorita Thompson, bem menos. —o professor a repreende e ela se senta de novo na cadeira— Bom, para a próxima aula, eu quero um resumo do que aprenderam aqui hoje...

Uma onda de cochichos insatisfeitos toma conta da sala. Todos esperavam já estarem do lado de fora porque o sinal tocou.

— Silêncio! —o barulho cessou— Eu quero saber se prestaram atenção na minha aula, se prestaram não vai ser difícil. Não quero que copiem pequenos trechos das páginas em que lemos. —ele para na frente da sua mesa— Quero que com suas palavras me digam o que entenderam. Não importa se vão ser cinco, dez, quinze linhas. Eu quero saber se estão aqui me ouvindo ou me escutando. Estão liberados.

— Graças a Deus! —Caio e Yara gritam e pegam suas bolsas—

— Vocês são tão exagerados. A aula dele é legal. —digo e seguimos para fora da sala—

— Gosto da maneira como ela é quebrada igual a mim. —Olivia faz referência ao meme e passa seu braço por cima do meu ombro—

— Vocês são estranhas. —Caio diz, com a feição entediada—

Reviro os olhos e continuamos andando.

— Bom, acho que nos vemos amanhã. —Yara diz quando chegamos no portão da escola—

— Tchau e cuidado no caminho para casa. —Olivia fala e sai junto com Caio na direção oposta a que estamos—

Esse pessoal é meio estranho.

Começo a andar e percebo que Yara vem do meu lado.

— Harper, podemos conversar agora?

— Hãn... Claro.

— O que aconteceu? —ela pergunta e franzo a testa— Você voltou toda diferente. Não me interprete mal. —ela se apressa em dizer— É só que, não sei, parece que algo aconteceu, o seu olhar tá diferente.

E aqui está a minha melhor amiga. Sempre perspicaz e direta.
Estava até estranhando ela não ter falado nada.

Relaxo os ombros, respiro fundo e olho para frente.
Sigo andando e ela continua do meu lado.

— Olha, tudo bem se não quiser falar, você não é obrigada a nada. —se apressa em falar de novo— Eu só queria saber.

— Ai, amiga, você não sabe nem metade da história. —falo baixinho—

— Então me conta! Poxa, nós éramos tão unidas, aí de repente você foi embora, e aí você volta diferente. E eu tô falando muitos aís, desculpa. —rimos— E não estou falando só do seu visual e sim, que parece que algo mudou aí dentro de você.

Fico em silêncio por alguns segundos pensando nas palavras que eu vou usar.
Respiro fundo mais uma vez.

— Minha mãe e eu não nos mudamos só porque ela recebeu uma oferta de emprego, Yara.

— Do que você tá falando? —ela pergunta confusa—

— Você perguntou o que aconteceu, o por que de termos nos mudado tão rápido. —olho para ela— Há seis anos, quando o meu pai morreu, você sabe que eu fiquei muito mal.

— Eu sei. Eu sempre ia te fazer companhia, pra tentar te fazer sorrir. O Di nem te atormentava mais. Ele dizia que o legal era ver você brava e brigando de volta, mas, você mal olhava para ele.

Estremeço ao lembrar do irmão dela.
Aqueles olhos...

Balanço a cabeça, tentando afastar os pensamentos.

— Pois é, foi um ano bem difícil. —olho para o céu— Minha mãe recebeu a oferta de emprego no melhor momento. A gente precisava sair daqui, eu precisava sair daqui.

— Como assim? Por que?

— Resumindo tudo? Eu estava com início de depressão, Yara. Eu não queria sair do quarto do meu pai. Eu só queria dormir lá na cama dele, porque era o mais próximo dele que eu conseguiria estar. Eu não comia mais, às vezes eu comia só para fazer minha mãe comer também. Eu ia para a escola só para tentar ocupar minha mente. Mas tudo, absolutamente tudo, me lembrava ele.

— Happy, e-eu... Não sabia.

— E não tinha como. Eu não queria preocupar ninguém. —sorrio fraco— Minha mãe viu que eu estava afundando cada dia mais. Alguém tinha que ser forte para levantar a outra, e esse alguém não era eu. —enxugo as lágrimas que só agora eu percebi estarem descendo pelo meu rosto—

— Não demorou muito e ela recebeu a oferta de emprego. E se o preço por aceitar ela, fosse deixar o passado para trás, ela pagaria. Então, minha mãe não pensou duas vezes antes de aceitar. E quando eu vi que ela estava tentando fazer dar certo, eu não quis impedir. Eu queria vê-la bem também. E foi por isso que fomos embora, Yara. Mas foi tudo tão rápido, nem deu tempo de nos despedirmos. —franzo o cenho— Pensando melhor, a gente tava muito desesperada, porque daria para nos despedir.

Damos mais alguns passos envolvidas pelo silêncio.
Até ela suspirar e me abraçar.

— Eu entendo. E eu sinto muito mesmo por não ter feito nada para ajudar. —balanço a cabeça negando— Eu nunca imaginei isso, você escondia muito bem. Me desculpa se eu te magoei com as perguntas e com esse assunto. Eu só queria entender, fiquei mal porque vocês foram embora sem nem se despedir.

— Me desculpe por isso e por tudo mais. A gente quis causar o mínimo de dor possível. Já estava sendo bem difícil.

— Chega de assuntos tristes. É o seu primeiro dia de volta à cidade...—ela se interrompe— Bem, é o seu segundo dia. E eu já te fiz chorar. Chega disso, vamos fazer esse dia ficar guardado na memória como um dia feliz. Vamos chamá-lo de Dia Feliz.

Ah, não.

Começo a rir.

— Você não está falando sério, está? —pergunto e ela assente— Thompson, você é muito idiota.

— Seja bem-vinda ao Happy Day, minha querida Happy. Agora vá se trocar e venha para a minha casa.

Espera. Tô confusa.

— Que cara é essa, Harper? Tá estranhando o quê?

— Você disse para eu vir para a sua casa. Por que vir para a sua casa?

— Eu posso ir para a sua se esse for o problema.

— E você sabe aonde eu moro?

— Tá de brincadeira com a minha cara? —ela pergunta com as mãos na cintura e eu fico em silêncio— Você veio pelo mesmo caminho que eu, então quer dizer que você mora na mesma casa de antes, certo? —balanço a cabeça afirmando— Bem que eu escutei barulhos vindo de lá ontem, mas não imaginei que pudesse ser você. Enfim...

Ela segura em meus ombros e me gira em uma direção.

— Aquela é a sua casa. —me gira de volta— Essa é a minha. Moramos literalmente uma do lado da outra, você não lembra?

Ah.

— Ouch. Eu também não lembrava disso. —cruzo os braços—

— Achei alguma coisa em você que não mudou, continua esquecida.

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Capítulo curtinho para apresentar um pouco do passado da Harper para vocês.
O que vocês acharam?

Vocês também tem amigas(os) esquecidas (os)?
Eu não tenho, porque eu sou essa amiga.

Muito cedo para vocês conhecerem um pouco da história da Harper? Espero que não tenham achado, porque esse buraco é bem mais fundo.

25/03/2021

Meu Coração É SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora