Linhagens - Laurent

Capítulo 10

"Anos Atrás"

-Eles se conheceram enquanto ela ainda estava na faculdade? - Laurent perguntou.

-Sim, ainda nem tinha começado a residência. Ela o conheceu no último dia de aula, pedi que um dos meus subordinados fosse buscar ela na universidade, infelizmente ele não pôde ir, teve uma emergência de última hora e pediu que Velair fosse no lugar dele.

-Foi quando ela o conheceu.

-Exatamente. Eles acabaram saindo durante o fim de semana, ele jantava com a minha família com frequência por causa de Valentina, afirmando que era pra passar mais tempo com ela. Depois que Val se formou eles tiveram uma pequena cerimônia de casamento, apenas os familiares e amigos íntimos, eu a levei até o altar, a entreguei para o covarde que você conheceu.

-Quando você percebeu?

-Infelizmente, demorei muito tempo. Com o trabalho e meu neto recém nascido, eu raramente a via, até a noite em que ela bateu na minha porta, molhada da cabeça aos pés por causa da tempestade violenta que caía. O lado direito do rosto dela inchado e sangrando, incapaz de abrir o olho por causa do inchaço, do braço esquerdo escorria uma quantidade assustadora de sangue que pingou por todo o percurso que ela fez dentro da minha propriedade.

Laurent respirou fundo e se forçou a relaxar o aperto no braço de sua cadeira, ele quase podia sentir a madeira cedendo sob os seus dedos devido a força que aplicava. Cada célula de seu corpo respondia ao instinto de proteger sua companheira, mantendo-a o mais segura possível.

-Ela não quis ir ao hospital, entrou em pânico com essa possibilidade, chamei um médico de minha confiança para examiná-la em casa. Uma costela quebrada, hematomas e cortes em quase todo o corpo e o ombro esquerdo deslocado, o médico não soube explicar como ela foi capaz de ficar consciente com toda a dor que deveria estar sentindo, mas eu sabia, Val sempre foi teimosa e obstinada, se ela quisesse algo, ela conseguiria.

-Como você conseguiu tirá-lo de perto dela?

-Eu o ameacei, nunca tinha feito algo parecido em toda a minha vida, mas ele não me deu opção. Depois que Val contou tudo pelo o qual passou, inclusive o atentado a vida dos seus avós, não tive sequer um segundo pensamento sobre isso.

-Preciso que...

Batidas na porta interromperam Laurent de continuar a frase, Thunder entrou logo em seguida 

-Temos um problema, aconteceu um acidente perto da área habitacional, alguns linhagens e humanos se machucaram.

-Foram levados ao hospital? O que aconteceu?

-Não tenho informações sobre a causa, o problema é a Dra. Davis, ela está se recusando a tratar um dos pacientes e ele não deixa nenhum outro médico além dela cuidar dele.

-Deixe-me adivinhar, o paciente é o comandante Velair? - Andrew se adiantou.

Laurent pôde ver a confusão estampada no rosto de Thunder enquanto ele confirmava, o que o lembrou de que precisaria de um ou dois de seus amigos mais leais para manterem um olho em sua companheira durante a estadia do humano dentro da Land. Ele suspirou e acompanhou Thunder em direção ao hospital, ficava apenas alguns metros de seu escritório, assim ele poderia sempre checar quais linhagens estavam precisando de atenção médica com frequência. Ele entrou no quarto, deixando Andrew e Thunder no corredor e encontrando Lion, Val e Velair em um clima tenso.

-Sr. Velair, pela milésima vez, não serei sua médica - Val parecia irritada e cansada enquanto falava o que deveria ser a frase mais dita por ela na última hora.

-Algum problema, doutora? - Laurent perguntou.

-Finalmente! Sua médica geral se recusa a me atender, poderia conversar com ela sobre sua postura profissional, por favor - Velair se adiantou, ele parecia aborrecido e prestes a explodir.

-Minha pergunta foi para a doutora, não para você. Então, vai me dizer o que aconteceu aqui?

Laurent fez o que pôde para sua voz não sair irritada ou brusca quando se dirigiu a ela, mas Val não relaxou quando ele tentou acalmá-la.

-Não tenho mais nenhum intervalo entre meus pacientes para que eu aceite outro e ele se recusa a ser examinado por outro médico, invadiu meu consultório em uma tentativa de me convencer pessoalmente - ela respondeu.

Os dois linhagens na sala cruzaram o olhar tempo o suficiente para Laurent saber que Lion esteve com ela desde o primeiro momento, o que o fez respirar um pouco mais tranquilo sobre o que aconteceu antes que ele chegasse ali, Lion não deixaria que o humano machucasse a companheira de outro linhagem. Um rápido olhar sobre o homem foi o suficiente para saber que ele estava bem, alguns machucados visíveis, mas nenhum parecia grave ao olho nu.

-Sr. Velair, não sei como o senhor consegue o que quer fora desses muros, mas vou explicar como funciona aqui dentro - Laurent começou - Lion, vá chamar o Dr. Emble, ele vai cuidar de Velair.

Lion assentiu e saiu sem dizer mais nenhuma palavra, Laurent sentou em uma das duas cadeiras reservadas para os pacientes e acenou para que os dois fizessem o mesmo. Val sentou em sua cadeira, deixando a mesa ficar entre ela e os dois homens.

-Vou começar falando sobre como tratamos as mulheres aqui na Land - Laurent iniciou, dando uma pausa enquanto via Velair ficar tenso - Nós não invadimos o espaço em que elas estão, a menos que estejam em perigo, se não querem fazer algo, não são obrigadas a fazerem e, se decidirem que não vão mais ter contato com alguém, elas não terão que ver essa pessoa até que mudem de ideia.

-A Srt. Davis é a médica, é obrigação dela atender os pacientes - Velair rebateu.

-Não, a doutora é uma entre vários profissionais qualificados que tenho dentro da Land, ela não é obrigada a fazer nada que não queira. Estou ciente do passado entre vocês dois e espero que você tenha percebido que isso não vai se repetir, não sob o meu comando, muito menos dentro da minha comunidade e o único motivo que me impede de expulsá-lo daqui é o acordo que selei com seus superiores, então me deixe reformular o que falei mais cedo quando disse que manteria alguém próximo a você. Não foi para a sua proteção, foi para a dela, enquanto estiver dentro desses muros você não será capaz de respirar sem que eu saiba, somos bem rígidos quanto as nossas leis de proteção as fêmeas, suponho que não queira sofrer as consequências de atos impensados, então não a procure, não a incomode e, muito menos, a ameace. Fui claro, comandante?