FAIXA 23 - shattered
Erik tentou se controlar ao máximo, lutando para as palavras não saírem e se tornarem repetitivas.
E apesar de Odessa ter lhe avisado, pedido que se preparasse, ele tinha achado que ela estava apenas exagerando ou brincando.
Deveria ter acreditado. Deveria ter ouvido.
Sua pele parecia ter congelado o sangue nas veias, como se tudo fosse uma grande extensão de vidro frio contra seu corpo. Seus lábios estavam secos, os cílios endurecidos e o cabelo que tocava a ponta da orelha, parecia lasca de gelo.
Erik tinha certeza que estava usando quatro casacos e mais um térmico por cima, botas específicas para neve, touca e luvas, mas era como estivesse de bermuda e chinelo.
Respirar era difícil. Movimentar-se era mais difícil ainda, porque uma nova onda de frio o atingia, fazendo-o trincar os dentes ao ponto de achar que iriam quebrar.
O vento batia forte em seu rosto como punhos cerrados, seus pés pareciam estar molhados e as mãos presas dentro de um refrigerador.
Ele odiava o frio e, estar em um dos lugares mais frios do mundo, não ajudava em nada com o sentimento.
— Trinta e três graus negativos? — perguntou olhando a namorada ao seu lado. Ele riu sarcasticamente, puxando o capuz do casaco contra o pescoço, desejando que, de alguma forma mágica, pudesse virar um cachecol. — Trinta e três graus negativos e vocês querem fazer um casamento? Loucura. Isso mesmo. Loucura.
Odessa riu, sem tirar os olhos da tela do celular. Como que para provar que Erik estava sendo dramático, ela estava usando apenas um pesado casaco sob os ombros, o cabelo preso, deixando o rosto livre, e luvas.
— Nem está tão frio assim — ela respondeu, franzindo a testa. — Já tivemos temperaturas mais baixas por aqui. E só para você saber, está fazendo sessenta e sete graus negativos agora em Irkutsk. Então aqui é o paraíso, querido.
Durm quase deixou a mala cair no meio do aeroporto de Astana. Eles tinham chegado há dez minutos de um voo de mais de quinze horas. Seu corpo estava dolorido e cansado. Eles haviam ouvido toda a discografia da The Cranberries, e Shattered tinha ficado no topo da lista de músicas que amaram conhecer.
Saíram de Dortmund para Berlim, e de lá, pegaram outro voo com apenas uma conexão em Moscou, e depois direto para o Cazaquistão.
Blissova brincou com ele, dizendo que esse era o grande motivo pelo qual não viajava para seu país: o tempo que levava.
— Você não está falando sério, O. — Ele tocou em seu cabelo, atraindo os olhos dela. — Não está fazendo tudo isso na Sibéria, está? — Quando ela não respondeu, ele continuou, sentindo um arrepio pelo corpo todo: — Merda, tem um rio em Astana que atravessa pela parte ocidental, então deve ser por isso que...
A cazaque colocou as mãos em seus ombros, guardando o celular no bolso do casaco antes.
— Erik — ela o chamou suavemente —, estou brincando. Sério. Nunca teve uma temperatura tão baixa lá desde 1933. E o frio daqui é algo com que você pode se acostumar. Eu prometo.
O alemão a olhou desconfiado, estreitando os olhos.
— Você promete?
Ela ficou na ponta dos pés e deu um beijo em seu nariz gelado.
— Eu prometo. E prometo também que, para o próximo lugar que formos, não vai haver neve ou temperaturas negativas. Apenas sol e areia.
O jogador a puxou pela cintura quando passaram por uma das áreas de saída, caminhando para pegar um táxi ou Uber.
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The Yellow and Black Playlist
FanfictionPara Odessa Blissova Rozensky, há poucas coisas tão boas na vida quanto uma música dos anos 80. Nada soa mais perfeito para ela do que abrir a janela do seu carro, e deixar com que o volume da música voe para longe. Vinda de uma das famílias mais im...