FAIXA 15 - last christmas

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FAIXA 15 - last christmas

— Aqui está, senhor Durm.

O garçom deixou duas canecas fumegantes em cima da mesa, e se afastou depois que o jogador agradeceu.

Enrolou as mãos em torno da caneca, olhando para o chocolate quente dentro, o calor fazendo seus dedos arderem.

Não se importou com a pontada leve de dor, e tão pouco ergueu os olhos para sua mãe quando ela falou:

— Você costuma vir muito aqui? O garçom sabe o seu nome.

Ele desviou os olhos para a janela, vendo a neve cair lentamente, um dia cinzento e frio demais.

— Sim — limitou-se a responder, mas o que gostaria de falar foi Sim, mãe, venho muito aqui nos cafés da manhã com a minha namorada.

Sentia o olhar dela em seu rosto, e precisou de muito autocontrole para não a olhar de volta.

Erik sabia o que lhe esperava se fizesse isso.

— Você parece bem, meu filho — Charlotte Durm falou, a voz transbordando amor. — Está se alimentando bem e dormindo cedo?

Ele teve que rir, não conseguindo controlar o som saltando dos lábios, sentindo o coração doer um pouco.

Isso o lembrava das noites que ela ficava ao seu lado na cama, cantando até vê-lo dormir, mesmo quando chegou na adolescência e tentava sair de suas asas protetoras.

Sempre fora mais próximo de sua mãe do que do pai, Olav. Ela era mais gentil, paciente, e alegre. Sempre o levava aos treinos e via os jogos, o ajudava com as atividades da escola, e brincava com ele no parque perto de sua antiga casa.

Se sua infância pudesse ter o rosto de uma pessoa, seria o de sua mãe, sorrindo e estendendo a mão para ele.

Durm sentiu a garganta doer, um nó se formando no fundo.

Charlotte era a sua pessoa favorita no mundo todo, até impor sua religião e valores ao filho, o idealismo cruel e cego, seu preconceito no olhar e nas falas.

A constatação de que sempre se referia a sua mãe em era, ainda o fazia esquecer como se respirava por um momento.

Foi como uma faca sendo enterrada no peito lentamente durante anos, ao perceber que a mulher que venerava, era uma pessoa horrível.

Ela estava ali na sua frente, viva e quente, tentando o alcançar com as palavras, tentando recuperar a conexão há tanto tempo perdida, mas estava há anos-luz dela.

— Sim, eu estou bem.

Em um impulso, a mulher agarrou as mãos dele, fazendo o frio se chocar com as pontas dos dedos.

O jogador ficou surpreso ao sentir como o aperto era desesperado e terrivelmente familiar.

— Erik, olhe para mim. Por favor, olhe para sua mãe.

A voz dela. Minha mãe está implorando.

Perdeu tudo. Perdeu as forças, perdeu a vontade de tentar, de lutar contra. Virou o rosto.

Grandes olhos azuis o encaravam, tão cristalinos como a água do mar; tão parecidos com os seus. Cabelo loiro dourado e liso emolduravam o rosto de queixo forte, sobrancelhas escuras e nariz reto.

Rugas puxavam os cantos dos olhos, não apenas pela idade, mas um indicador de que olhava muito para o sol, os estreitando sempre.

Quando fui a última vez que falei com você? Fevereiro? Março? Ou deixei que me tocasse, que chegasse perto assim?

The Yellow and Black PlaylistOnde histórias criam vida. Descubra agora