Uma noite estranha

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Chegamos na rua e até então os gritos não tinham parado, apenas estavam mais baixos. Eu e Anna fomos em direção de onde estava vindo o som. Estava muito escuro, quase não dava pra enxergar.
Seguimos o som e paramos em frente à uma casa velha de dois andares, já caindo aos pedaços, o som vinha lá de dentro.

- Vamos entrar - Eu disse.
- Nem pensar - disse Anna.
Derrapente ouvimos um grito muito alto, mais alto do que os outros que havíamos escutado antes, vinha de dentro da casa. Anna se arrepiou todinha.

- Eu vou entrar, tem alguém precisando de ajuda! - disse eu correndo em direção a uma janela quebrada.
- Não Carla, volta aqui. - Disse Anna.
Ignorei ela e continuei a entrar.
Por dentro tinha vários móveis velhos e empoeirados, a casa não tinha um cheiro muito agradável, mas dava pra aguentar, não tinha iluminação nenhuma, então decidi ligar a lanterna do meu celular. Não vou mentir, eu estava apavorada, mas não deixava de lado o fato de que alguém poderia estar precisando de ajuda.
Os gritos ficavam cada vez mais baixos e pareciam que vinham do segundo andar, até em que um momento não eram mais gritos e sim alguém dizendo "socorro" sussurrando.
Começei a subir as escadas devagarinho, e uma delas fez barulho de madeira velha estalando, mas continuei a subir. Cheguei até em cima e peguei um pedaço de ferro que estava jogado no chão pra me defender se algo viesse me atacar. E fui em direção a uma porta no final do corredor, bem devagar.
Meu coração batia forte de medo, e minha respiração estava ofegante, mas mesmo assim continuei.
Concentrada, olhando pra frente, em direção a porta algo toca meus ombros, virei depressa assustada.

- Calma - disse Anna.
- Você me matou de susto, quase que eu te bato com esse ferro - exclamei!
E novamente um sussurro veio da porta: "socorro".
Eu e Anna olhamos rapidamente uma pra outra, balançamos a cabeça em sinal de "sim" e seguimos juntas, eu na frente e ela atrás. Chegamos até a porta, coloquei a mão na maçaneta e disse baixinho:

- Está pronta? vou contar até três.
Anna respirou fundo e respondeu:
- Sim.
Contei até três e abri a porta lentamente e me deparei com Fernanda jogada no chão, completamente cheia de sangue, seus braços, pernas e barriga. Corremos em direção a ela apavoradas.

- O QUE ACONTECEU? - perguntei preocupada.
- Alguém me drogou, me trouxe até aqui e me esfaqueou, é só disso que lembro - disse ela sussurrando quase sem conseguir respirar.
- Rápido Anna, liga pro hospital com urgência! - exclamei.
Rasguei um pedaço da minha camisa e pressionei sobre o corte na barriga, para que pudesse parar de sangrar, fiz o mesmo com os braços e as pernas. Tentei acalmar a Fernanda até que a ambulância chegasse. Ela já estava muito fraca e quase sem batimentos. Começei a orar baixinho pedindo pra que Deus ajudasse ela a aguentar. Olhei pra ela nos fundos dos olhos e disse:

- Calma, aguenta, respira.
E continuei por um bom tempo.
Anna chegou perto pra ajudar, mas quase não conseguia se mexer de tão apavorada.
A ambulância demorou uns 10 minutos pra chegar. Quando chegaram foram correndo fazer os primeiros socorros em Fernanda. Depois disso colocaram ela em uma maca e levaram correndo pra o hospital de urgência.
Eu e Anna pegamos nossas bicicletas e fomos direto pro hospital. Passamos a noite toda esperando sem nenhuma reposta de como Fernanda estava.

Por traz da InocênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora