A volta conturbada

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Caroline Davies estava em seu banheiro, olhando para a sua imagem no espelho, uma imagem que ela não reconhecia mais: os cabelos, antes cheios e brilhantes, estavam sem vida e desgrenhados, havia emagrecido muito e estava as bochechas fundas, embaixo dos olhos castanhos tinham enormes olheiras arroxeadas. Parecia alguém sem vida.

Mesmo que tivesse voltado para sua casa, nunca se sentira tão sozinha. Jorge mandava cartas quase todos os dias, mas aparentemente não estava na Toca e apenas disse para que ela se comunicasse através de Pitchi, a coruja minúscula de Rony que eles estavam pegando emprestada, porque ela sabia aonde estavam, já que, usando as suas palavras "não era permitido falar onde estava", e Caroline também não quis insistir, não tinha forças para insistir.

Desde que voltara, entrou em um processo depressivo que aparentemente só piorava: tinha parado de fazer o que gostava, não conseguia se concentrar se pegasse algum livro para ler, andava irritadiça, sendo grossa com todos e por isso decidiu se excluir ficando trancada em seu quarto na maioria dos dias, ficava deitada em sua cama, olhando para o teto, ás vezes escutava um de seus discos para passar o tempo, quando não aguentava mais ficar no silêncio. Os primos tentavam lhe fazer companhia, principalmente Natasha, que não invadia o seu espaço, deitava ao lado da prima no tapete e ficava escutando música com ela, fazendo alguns comentários sobre, mas sem querer fazer Caroline se abrir, ou falar sobre o que ela estava sentindo. Estava deixando isso para os profissionais do St. Mungus, que os tios fizeram questão que ela visse depois da conversa que tiveram.

Quando voltou, depois de uma semana em casa, seu tio a chamou em seu escritório para que conversarem, achou que ele perguntaria como ela estava lidando com a morte de Cedrico, no que poderiam ajudar, mas ao entrar na sala e ver tia Agatha com uma expressão desconfortável, soube que não seria apenas sobre isso a conversa.

-Queriam me ver? - ela disse, parada junto a porta.

-Sim, entre e feche a porta Carol, por favor - Henry respondeu, ele estava atrás da sua escrivaninha, e tia Agatha sentada em uma das poltronas de frente para a mesa. Caroline fechou a porta e foi para a cadeira ao lado da tia, que estranhamente pegou sua mão - Carol, o que queremos falar com você é algo que já deveríamos ter falando a muito tempo...

-O que é? - ela perguntou, interrompendo o tio - Desculpe.

-Sua tia acha que tínhamos que esperar mais um pouco, esperar que esse momento que você está passando passe - Henry continuou, o olhar passando da sobrinha para a esposa, que o olhava com uma expressão dura - Mas eu acho que já esperamos tempo demais, e com a volta de Você-Sabe-Quem é mais do que necessário que falemos disso.

O suspense que os tios estavam fazendo estava deixando Caroline irritada, o que seria essa tal grande conversa que deveriam ter?

-O que temos que falar é a respeito dos seus pais - o tio deu uma pausa, para engolir em seco e continuou a falar desconfortável - Vamos te contar a verdade sobre a morte deles.

Caroline não sabia o que falar, apenas arregalou os olhos e esperou que um dos adultos começasse a contar a história. Tinha se perguntado durante anos como seus pais tinham morrido, porque sempre que a reconheciam como filha de Clara e Ethan Davies era a mesma expressão de pena que formava no rosto das pessoas, só que toda vez que perguntava a um dos tios sobre, eles desconversavam, a convenciam que iria saber no momento certo, e ele finalmente tinha chegado, depois de 15 anos.

"Você sabe que seu pai era auror, tinha acabado de se formar e estávamos no auge da guerra contra Você-Sabe-Quem", Henry começou a falar, com uma expressão dolorosa no rosto ao lembrar do irmão, "Ele pegava vários turnos no trabalho, queria pegar o máximo de bruxos das trevas e mandá-los direto para Azkaban. Sua mãe era desfazedora de feitiços, no Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas, e mesmo que ela quisesse ajudar, ainda tinha você para cuidar, já que era muito pequena e então ela passava mais tempo em casa que o seu pai." Caroline já sabia de tudo aquilo, o tio tinha lhe contado no ano passado depois de presentea-lá com um álbum de fotos dos dois.

In Incrementum - A Garota Corvinal, livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora