thirty eight

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Narrado por:
S H A W N

🍀

Abotoando os botões da minha camisa, encarei o meu reflexo talvez por um pouco mais de tempo que o necessário.

Eu nunca fui muito do tipo sentimental, até tenho os meus momentos mas... Hoje eu acordei com um sentimento diferente, é aquela coisa do que poderia ter sido ou do que poderia estar sendo porque, nesse exato dia há um ano, eu deveria ao menos estar com as mãos trêmulas lidando com botões e abotoaduras pelo simples fato de que eu iria casar em poucos minutos.

A vida tem dessas de querer brincar com tudo que já está bem encaixado, até chega a ser hilário tentar entender essas peças: eu estou casado; porém, com uma pessoa que eu jamais cogitei me enlaçar dessa forma ou mesmo conhecer ou, sei lá, me sentir um tanto nervoso por precisar me apresentar a sua família.

Eu estou reprimindo, tentando não pensar sobre esse assunto mas é meio impossível não lembrar daquele sentimento de culpa, da dor quase que incurável, de ter servido como chacota pelo fato da minha ex-noiva ter me traído com um dos seus amigos, amigo que frequentava a minha casa.

Doeu.

Em um certo momento da minha vida, aproximadamente quando eu tinha vinte e três, eu senti que ter a Michaela comigo era a confirmação de que eu havia conseguido colocar a minha vida nos eixos, que ainda haviam esperanças e que tudo iria ficar bem depois do que eu precisei aguentar firme, com uma força vinda do além. Eu tinha finalmente um local decente e fixo para a minha oficina, tinha a minha casa própria, o meu pai estava aprendendo a se controlar nessa questão do alcoolismo e, acima de tudo, eu pensei que eu também tinha o amor dela.

Eu posso ter essa carcaça de que nada me abala, que eu sou forte, mas, poucos entendem que às vezes nós temos que nos esconder atrás de uma fachada para nos esconder os nossos demônios internos. Essa é a minha, àquela que esconde um Shawn que poucos conhecem. Não foi fácil ver o meu futuro dito promissor escapando pelos meus dedos ou ter que agir como um pai para o meu pai a cada porre diário; não há calos somente nas minhas mãos e a Michaela foi uma dessas pessoas conseguiram chegar nessa parte feia, no que eu sou de verdade.

Deitar a cabeça no seu colo não era somente como um gesto para receber carinho, por mais que eu goste disso. O seu toque em mim era como que um alento para todas as minhas confusões, uma forma dela me dizer que espantaria cada um dos meus demônios. Era a Michaela quem coloria a parte fosca da minha vida com o seu sorriso, com o som da sua gargalhada e, puft, com a ideia, ideia dela, de adotarmos um filhotinho que deveria ser o nosso filho, Brody.

Tudo estava seguindo o que deveria ser o curso certo e mesmo que a minha família, de vez em quando, soltassem aquela opinião sobre a minha namorada – um homem apaixonado dificilmente seria capaz de entendê-los – eu continuei vivendo com intensidade todos os meus sentimentos.

Com se fosse a coisinha mais valiosa do meu mundo, eu escondi a caixinha vermelha na oficina para que ela não encontrasse e estragasse toda a surpresa que eu havia planejado minuciosamente com os meus dois amigos. O plano seria levá-la para finalizar o nosso dia feliz no Central Park e lá, entre o por do sol e as estrelas, eu faria o pedido. Deu certo, à proposito. Ao ouvir o seu sim, meu Deus, um sorriso era pequeno para esboçar tanta felicidade. Ela me abraçou como um coala, me encheu de beijos, de eu-te-amo, chorou de alegria sem nenhum remorso, nada.

E eu digo isso, sem remorso, porque naquela época o amante já comia na nossa mesa, fazia parte dos nossos encontros entre casais – ele tinha uma dita namorada – e podia ser considerado como um amigo bem próximo da família porque é claro, os amigos da Michaela eram sempre foram bem-vindos.

What Happened in Las Vegas? ⋰ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora