seventy

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Narrado por:
S H A W N

🍀

Eu sou um alguém acostumado a sentir dores: quedas quando criança, acidentes com ferramentas, os chinelos da minha mãe e o cinto de couro preto do meu pai – esse segundo foi requisitado poucas vezes, ele somente aparecia quando a merda que eu fazia era dita catastrófica e eu fiz algumas dessas durante a minha adolescência –, também já levei algumas boas pancadas da vida.

Eu pensei que não seria possível eu sentir algo mais doloroso, que eu já estava acostumado com o fato de sentir dores emocionais mas, naquela madrugada de sábado para domingo... Vendo a minha coisa maluca soluçar de tanto chorar, eu me sentir como se todas as merdas que eu já vivenciei, todas as minhas quedas, todas as ferramentas de trabalho do meu pai, todas as chineladas e aquele singelo açoite de cinto desabassem sobre mim, sobre essa minha pele calejada, me fazendo sentir uma única dor insuportavelmente massacrante à cada lágrima que escorria dos seus lindos olhos.

Doeu.

Doeu demais não poder acalentá-la, puxá-la para os meus braços e fazer toda a sua dor dissipar.

Mas, essa foi a minha forma de autodefesa. Eu estou assustado com a forma em que tudo está saindo do controle rápido demais.

Voltando algumas horas naquela noite, eu não fiquei até duas e meia da manhã naquele Pub, também não perdi esse tempo explorando os detalhes do corpo da Jennifer, assim como eu já fiz com a Theodora em Las Vegas. O que aconteceu comigo, naquela ligeira fração de segundos antes de ser um game over para mim, foi muito mais do que um simples déjà vú, foi uma confirmação de detalhes que eu já imaginava.

Eu fui fraco, eu admito isso porque eu sempre soube quais eram as intenções da Jennie e eu... Eu simplesmente vi os olhos da Theodora.

Prestes e à um milímetro de fazer uma merda gigantesca, eu não fiz por não consegui visualizar os olhos da prima do meu amigo, não. Não haviam semelhanças físicas entre elas mas, de alguma forma, a coloração dos seus olhos eram extremamente parecidas – claro, os da moça à minha frente não brilhavam como os dela, é um algo que somente os olhos da Thori têm, somente eles sorriem com ela, são eles que habitam todos os meus sonhos.

Eu saí daquele local o mais rápido que eu consegui porquê, além de ser casado, eu entendi tenho um infinito de sentimentos confusos pela minha esposa – sim, vamos definí-los dessa forma porque essa foi a melhor palavra que eu encontrei, amor ainda é muito forte para ser dito agora.

Eu não fiz absolutamente nada.

Logo após sair daquele bar, completamente atordoado, eu voltei para a minha moto e deixei o vento me guiar. Eu fiquei até às duas e pouco da manhã completamente sozinho, perdido com os meus pensamentos, observando a Brooklyn Bridge diretamente do Dumbo e não na cama de alguém, não beijando outra boca quando o meu peito gritava pela pessoa mais linda que eu já conheci.

Incrivelmente linda.

E alí, naquele momento, eu me permiti colocar um pouco disso pra fora, chorar.

Eu chorei de raiva, de tão confuso que eu estava, até mesmo por amor. Eu devo ter vivido, dentro naqueles longos e torturantes minutos, a pior luta interna já travada entre a minha razão e a minha emoção. O meu corpo somente queria ir para casa, para a nossa casa mas não com a intenção de deitar na cama e adormecer, jamais eu queria dormir. Eu queria atacar os seus lábios no exato instante em que eu cruzasse aquela porta. Eu arrancaria, sem nehuma gota de hesitação, aquele seu pijama fofo porque ele esconde a beleza da sua pele perfeita e, entregues, eu encaixaria os nossos corpos como eu sei que eles são capazes. E alí, eu perderia toda a minha noção de espaço e tempo, observando no fundo dos seus olhos não o quanto ela é minha, mas o tanto que eu sou dela.

What Happened in Las Vegas? ⋰ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora