Capítulo 1

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As palavras sublinhadas são palavras riscadas.

TW: pensamentos depressivos.

-º-

12 de Novembro, 1995.

Querido Diário,

Hoje eu. Eu vou começar escrevendo o porquê de eu estar fazendo algo tão incrivelmente tolo, porque obviamente eu não teria tido a ideia de escrever para mim mesmo do nada, não é mesmo? É insano demais, quer dizer, não é como se alguém além de mim fosse ler... Mas, enfim, diário.

Irei resumir a história em apenas seis palavra: Minha amiga se cansou de mim. Não é como se ela tivesse se cansado da minha ilustre companhia, não. É só que... sabe como é né, muitos problemas, poucos amigos... E essa minha amiga em especial era tipo o meu diário, e ela encheu o saco de me ouvir reclamar, vadia né?

Depois de ter sido excepcionalmente rude comigo, ela sugeriu que eu escrevesse sobre meus dias e problemas num caderno, como alguns trouxas fazem. Então cá estou eu e espero que funcione... Vamos começar contando minha vida desde o começo. Mas não tudo, obviamente... Não pretendo ter um Diário Dois... Já me sinto meio ridículo tendo um, imagine dois... Não imagine. Apenas irei contar as histórias que mais que marcaram, então... Aqui vamos nós, Diário.

Lembro-me de uma noite em especial na minha infância. Tinha entre 4 e 6 anos, não me recordo muito bem. Estava sozinho em casa, meus pais tinham algum compromisso importante que não permitia crianças. Minha mãe estava preocupada, mas meu pai dizia "Ele já está crescido o suficiente para passar algumas horas por conta própria, você o está mimando demais". Engraçado como ele diz que eu sou adulto, mas ainda sinto toda essa insegurança. Mas apesar da relutância de minha mãe por me deixar só, eles partiram.

A primeira hora não fora tão ruim, na verdade. O problema foi que eu ouvi um estrondo. Tão alto que penetrou meus órgãos e me arrepiou por completo. E quando olhei para fora pela janela , vi um clarão rasgar toda a escuridão, cegando-me. Outro estrondo me atingiu na alma e eu nunca fiquei tão assustado. Quero dizer, não era como se eu nunca tivesse presenciado uma tempestade, mas eu sempre tinha minha mãe para me acalmar... Era por pouco tempo, mas eu a tinha. Mas naquela noite eu estava só. Completamente só. Angustiadamente só.

Encolhi-me na minha cama e abracei meu travesseiro, vendo o quarto se encher de luz, e depois do mais tenebroso barulho. E eu percebia o quanto estava só. Absolutamente abandonado. Terrivelmente sozinho. Foi com 4 ou 6 anos, numa noite chuvosa, que eu descobri que eu era sozinho. Sempre fui e sempre serei. Foi com 4 ou 6 anos que eu chorei como nunca quando percebi isso. E foi com 4 ou 6 anos que eu me conformei a viver uma vida solitária, porque nunca haveria ninguém para me abraçar numa noite de tempestade.

E isso ficou um tanto brega. Mas é só que. É só que. O problema é. Sabe como é né... Mas eu não sou assim, sabe. Eu realmente não sou brega, diário... Mas meu passado ainda me assombra... Essas pequenas coisas me deixam cicatrizes... Queria ser frio como meu pai, mas parece que puxei o calor da minha mãe, ou quem sabe a tristeza. Enfim Diário, por hoje é só. Escreverei depois... Até a próxima.

-º-

Harry fechou o pequeno livro que estava em suas mãos e suspirou. Aquela pessoa parecia tão solitária. Mordeu o lábio inferior e revirou-se na cama. Talvez ele não esteja agora, pensou o grifinório, na esperança do seu peito parar de arder. Ele sentia pena do pobre garoto cujo diário pertencia, e até simpatizava um pouco. Sabia como era ruim esse sentimento porque havia passado pelo mesmo por 11 anos. Entretanto, agora possuía amigos! Não eram como ter uma família de verdade, mas era quase... era o suficiente.

Isso, suspirou o moreno enquanto deixava o Diário na cabeceira e fechava os olhos, quem sabe agora o garoto tenha amigos. Pode ser que o estudante seja popular, ou até se formou e se casou com uma linda garota. Talvez ele seja feliz agora e Harry esteja se preocupando demais, porém, havia algo na escrita que fazia o grifinório não acreditar nessas especulações.

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