Capítulo 27

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As palavras sublinhadas são palavras riscadas.

TW: pedofilia


-º-

9 de Fevereiro de 1996

Querido Diário.

Depois de muito refletir, resolvi relatar o que Daniel fez comigo. Não vai ser fácil, porque todas as noites eu tento esquecer, todas as noites eu choro, todas as noites eu sinto repulsa.

Mas uma hora eu vou precisar colocar pra fora, não? Dizem que faz bem...

Quando eu fiz oito anos, meu pai contratou um professor particular. Eu estava tão feliz. Sabe, diário, lá em casa eu sempre fui muito sozinho. Quase ninguém nos visitava, então saber que eu teria companhia foi emocionante. Ainda mais, para me ajudar a causar orgulho ao meu pai.

Eu queria ser o melhor aluno da sala, ter as melhore notas, fazer meu pai sorrir. Eu era tão ingênuo.

Meu pai contratou Daniel. Não sei de onde o conhecia, mas parecia que Daniel o admirava. Na primeira aula, ele foi tão diferente de como meus pais eram comigo. Perguntou sobre mim, sabe? Como eu estava, o que eu queria ser quando crescesse, coisas triviais, mas que fizeram todo o sentido do mundo.

Talvez seja por isso que eu não tenha recusado quando ele tocou minha coxa. Ou porque eu tinha algum tipo de problema e havia gostado. Não sei. Quer dizer, eu era só uma criança, é errado, certo? Por um lado eu sei que é, mas por outro, é como se um lado meu dissesse que eu estava pedindo por isso. Afinal, eu também estava sorrindo de volta para Daniel, eu procurava nele o afeto que eu nunca tive de meus pais. Eu realmente não sei por que eu não recusei, eu só sei que eu me senti bem recebendo um pouco de carinho. Pareceu inocente na época.

De qualquer forma, estou tentando mesmo não chorar aqui, desculpa, haha.

No começo, ele não me ensinou nada, só queria saber sobre mim e, com isso, ele foi ganhando minha simpatia. Talvez por eu gostar dele, não tenha visto malicia quando ele tocou minha coxa. Ainda mais porque Daniel dizia que era normal. Como eu fazia parte de uma família que não tinha muito contato físico, eu não estava acostumado, mas era pra isso que ele estava lá, para me ensinar. Tentei ignorar todas as minhas duvidas, porque eu queria ser um bom garoto, eu não queria ser rejeitado novamente.

Ele continuou a me tocar, sempre na coxa, de forma casual, como se não fosse nada demais. E eu fui permitindo, porque eu acreditava e confiava nele. Ele se tornou uma pessoa importante pra mim, sabe? Se ele dizia que era normal, então era. Inclusive ele fazer tanto carinho em meus cabelos. Mas nesse caso, era porque eram macios.

Porém, teve um dia que eu tinha acabado de sair do banho e ele já estava no meu quarto para a aula. Eu até me assustei que ele chegou mais cedo. Lembro-me nitidamente desse dia, gravado em minhas pálpebras e em minha pele. Falei que iria me trocar no banheiro, ele disse que não precisava. Fui até o guarda roupa, mas ele foi até mim e disse que eu precisava me secar antes, caso contrário, iria pegar um resfriado. Então ele pegou a minha toalha e começou a me secar.

Foi tão constrangedor, não era como quando minha mãe me secava, entende? Minha mãe me secava de forma natural, inocente, com um sorriso doce nos lábios. Já ele passava a toalha devagar, apreciando o toque. Ele secou meus cabelos... Meus braços... Meu peitoral... Minhas costas... Minhas pernas... Meu... Só de lembrar... O pior de tudo era o olhar dele. Ele não olhava meu rosto e sim para onde ele secava, eu me recordo disso. Um olhar faminto, de predador. No final ele apenas deu um sorriso e acariciou minhas costas.

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