Capítulo 26

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As palavras sublinhadas são palavras riscadas.


-º-


5 de Fevereiro de 1996

Querido Diário.

Hoje fui à biblioteca pegar uns livros sobre herbologia. Afinal, já que eu aspiro ser curandeiro, eu preciso tirar notas boas em Poções, Herbologia, Transfiguração, Defesa Contra as Artes das Trevas e Feitiços. Sou relativamente bom, pra não dizer perfeito, em quase todas essas matérias, exceto herbologia. Então eu acabo estudando mais esse caralho de matéria do que o resto.

Mas enfim, esse não é o foco. O foco é: eu fui pegar livros de Herbologia e ouvi o grifinório com o amiguinho nojento dele conversando sobre Quidditch. Estava tão confortável ouvir a empolgação da voz dele que fiquei uns minutos por perto.

Até que o amiguinho dele foi totalmente escroto, comentando como eu havia comprado minha vaga no time. Desculpe-me se não sou um jogador perfeito, mas também não sou tão ruim e patético a ponto de comprar minha maldita vaga. Estava quase pulando no pescoço dele e conjurando feitiços nada agradáveis quando o grifinório me defendeu.

Não vou negar, fiquei extremamente surpreso, afinal, na prática, não nos damos nada bem. Mas ele disse que eu era um ótimo jogador. Ele me elogiou. Merlin, só de lembrar isso já me sinto todo quente.

Mesmo sabendo que nada irá acontecer entre nós, afinal, ele é completamente hétero, eu fico feliz que ele não me veja tão negativamente quanto eu achava.

De qualquer maneira, vou estudar um pouco de Herbologia, diário. Boa noite.

-º-

Harry terminou de ler a página com um sabor amargo na boca. Não é como se ele tivesse uma queda do escritor ou algo assim, afinal, ele nem sabia quem era, porém, vê-lo tão desiludido era doloroso.

Fechou o diário e o guardou na gaveta. Gostar de uma pessoa que não tem a probabilidade de gostar de volta deve ser horrível. E Harry estava presenciando isso, de forma indireta, mas estava.

Toda essa experiência tem o mudado gradativamente. Desde que Potter se deparou com o diário, tem refletido mais sobre muitas coisas e ficado com mil e uma dúvidas na cabeça. O pior de tudo era que ele não podia discutir com ninguém, pois teria que contar sobre diário e o que está escrito, e Harry não julgava justo revelar a vida de outra pessoa para terceiros. Já se sentia muito culpado por invadir a privacidade do escritor, imagine mostrar aos seus colegas. Ainda mais se o escritor for um dos restantes da lista.

Não gostaria de expor a vida de Ducan Inglebee ou Jason Samuels... Mesmo sendo difícil de considerar que o escritor poderia ser Malfoy, Crabbe ou Goyle, existia a possibilidade. E se for um deles, Potter também não queria expor.

Eis uma diferença do Harry antes e depois do diário. Antes, ele não ligaria se fossem sonserinos, mas agora, "conhecendo" tão bem o escritor, acredita que ninguém merece nada do que ele passou, muito menos fofocas sobre o que escreveu visando o segredo.

Então Potter ficava apenas sozinho, meditando.

O que mais o incomodava era sua sexualidade. Claro que Harry jamais teve a urgência de fazer sexo. Cria ser até estranho um adolescente de dezesseis anos não se interessar, enquanto seus colegas só falavam disso. Sobre garotas e masturbação.

Harry James Potter era virgem.

Tentava não pensar nisso, mas era difícil. Claro que ele já havia se masturbado, poucas vezes, porém, não é como se pensasse em algo ou alguém. Com exceção há algumas semanas atrás, que fizera logo após de ter lido uma página do diário. Mas sexo? Jamais. Ginny nunca forçou e Harry nunca procurou.

Depois de perceber que existia certa ausência no assunto "sexo", Harry começou a permanecer mais atento. Observava moças e rapazes para ver se despertavam algo nele. E nada. A única que Harry chegou a sentir algo foi Ginny, talvez porque confiava nela e havia um laço de amizade muito forte, mas também nada muito gritante. Principalmente depois de algumas semanas.

Assumia que sentia algo pelo escritor. Só não conseguia definir o quê. Era complexo demais todos esses novos sentimentos e descobertas. Potter ousou perguntar a Ron se ele havia feito sexo ou se já achou algum garoto bonito. Foi a conversa mais constrangedora que tiveram, todavia, serviu para entender o quão distintos eram.

Não é como se Harry tivesse achado algum outro homem atraente o suficiente para ir para cama, mas também nunca achou uma mulher atraente o suficiente. Achava pessoas bonitas, no entanto, não queria necessariamente se envolver com elas.

Será que eu tenho de algum problema? cogitou, rolando na cama. Começou a se angustiar de tanto raciocinar sobre si. Desvendava coisas que nem tinha conhecimento de que residiam ali.

Não desejava se rotular dessa forma, nem sabia se possuía nome para isso, apenas ter atração sexual após deter um laço emocional e, às vezes, nem isso.

Fora essa complicação de ter sonhos confusos sobre um certo escritor, que ele nem ao menos sabia quem era. Quer dizer, Potter estava descobrindo cada vez mais o outro, talvez o conhecesse mais do que seus colegas, família e até amigos, mas não tinha ideia de quem era. Esse fato era o que mais deixava Harry confuso, como é que pode ele sentir algo por alguém que não conhecia fisicamente?

Pelo menos parei de ter pesadelos, pensou. Contudo, ainda assim não sabia como resolver todas essas incertezas.

Sentiu os olhos pesarem. Harry comprimiu os lábios. Dormia mais do que antes, no entanto, ainda não o suficiente. Estava sempre exausto. Enfiou-se debaixo das cobertas e tentou espantar todos os pensamentos e dúvidas que possuía, mas eles vieram em sonho atormentá-lo.


-º-



Nota de autore: Nunca havia citado a sexualidade do Harry porque ainda estava muito vaga e ele ainda não tinha se definido, mas acho que está bem claro que ele está no espectro da assexualidade (demissexualidade, para ser mais específica), né? Harry ainda não sabe por que tipo de pessoas se atrai romanticamente, então vamos dar o devido tempo pra ele pensar :3. Mas monorromantico ele não é, já aviso.

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