Capítulo 11

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As palavras sublinhadas são palavras riscadas.

-º-

13 de Dezembro de 1995

Querido Diário.

Andei o relendo e reparei que é muito bizarro o fato de eu ter me apaixonado uma queda por alguém parecido com o cara que me violentou. Ok, isso é algo surreal, mas completamente plausível! E eu vou, basicamente, explicar como uma loucura dessas aconteceu. Não que alguém vá ler, mas é bom manter minhas memórias vívidas aqui.

Depois que aquele maldito grifinório me rejeitou, eu fiquei intrigado. Não somente pelo fato de ele ter me recusado, e sim pela tremenda semelhança entre ele e Daniel. E com o tempo eu ficava cada vez mais assustado com isso. Ambos com cabelos negros, olhos claros e sedutores, inteligentes e gentis. Queria distância dele. Por mais que o maldito grifinório tivesse machucado meu orgulho e eu quisesse esnobá-lo com todo o prazer do mundo, meu medo era maior que isso. Pode parecer bobo, mas toda vez que eu o olhava, as memórias de Daniel me voltavam a assombrar.

Porém, enquanto eu notava as similaridades, também percebia diferenças gritantes. Sua gentileza era real, seu sorriso era acolhedor e seus olhos eram doces. Por mais que ora ou outra fosse arrogante, sua empáfia possuía um carisma que atraía a todos. E, antes que eu percebesse, eu o atormentava para ver esses defeitos que o diferiam daquele que me possuiu.

Depois que A. achou que eu a traía, comecei a reparar que meus olhos e pensamentos eram sempre preenchidos por ele. Isso me assustou pra caralho. Então comecei a fingir que ele não existia. Mas o fato de ele sempre ter notas maiores e ser amado por todos, me causava um imenso desconforto parecido com inveja. Era impossível eu sentir inveja de um ser daqueles, lógico, mas era horrível sentir aquele estranho aperto no peito como se ele tivesse tudo o que eu lutava arduamente para ter com facilidade. Suas habilidades me fascinavam e isso que me fazia mal. E contemplava aquele que era igual ao Daniel.

E no começo eu acreditava que era apenas isso, admiração. Uma enorme, completa, estúpida, adorável admiração... Comecei a estreitar-me pelos corredores para observá-lo rindo, coisa que Daniel nunca havia feito. Via seus olhos se iluminarem e isso me maravilhava. Mesmo quando eu o provocava, era cativante ver como seu rosto se avermelhava, mas ainda tentava se controlar ao máximo para não me bater. Queria ver todas as faces dele, e eu tinha pavor disso.

A primeira vez que ele me tocou — acidentalmente, óbvio —, lembro-me de que, instantaneamente, senti uma enorme vontade de chorar e correr, porém, seu toque era quente e isso me confortou um pouco. Seus dedos longos e ossudos agarrados ao meu pulso fizeram meu coração bater mais forte e, pela primeira vez, eu não vi nenhum traço de Daniel, vi apenas o maldito grifinório. Senti sua alma percorrendo meus átomos e um doce choque me hipnotizou como jamais antes. Foi a partir desse momento que meu cérebro admitiu que ele não era uma ilusão que só existia para me atormentar.

Ótimo, estou suspirando agora! De qualquer forma, depois desse egrégio dia, pensar nele me acalmava, ao invés de me fazer ter pesadelos, porém, só percebi que o amava tinha uma queda por ele quando... Er... Sonhei romanticamente com ele, digamos assim. Era um dia fresco e ele estava sentado ao meu lado. Ele gargalhava como quando estava com seus amigos e eu sentia meu estômago pesar e esfriar. Ele olhou para mim, com aqueles olhos verdes como a grama na primavera e sua mão tocou a minha. O maldito grifinório aproximou-se de mim, sussurrando algo que eu não consigo me lembrar, e repousou um suave beijo em minha bochecha. Seu nariz me fazia cócegas e eu apenas sorria. Sua outra mão entrelaçou meus cabelos e seus lábios beijaram os meus. E então eu acordei eufórico como nunca. Até hoje desejo que esse sonho se torne realidade...

Pois é, assim como um toque na minha infância me condenou ao trauma eterno, outro me salvara dos pesadelos. Ironicamente ambos se parecem fisicamente. Porém, eles são tão diferentes que eu acabei me apaixonando pelo maldito grifinório... Um amor que dói, mas, ainda assim, é doce como um Chocoballs¹. Não me perguntem o porquê de eu amá-lo ter uma queda por ele, porque nem eu mesmo sei ao certo. Só sei que, quando eu me dei conta, meus pensamentos, meus olhos, minha alma e essência estavam transbordando por ele e somente ele...

De qualquer forma, era só isso que eu tinha para falar mesmo. Vou dormir então, boa noite.

-º-

Outrora, quiçá Harry estaria admirado ou feliz ao ler algo tão estonteante como esse amor que o escritor sentia. Ele sorriria e divagaria sobre quem seria essa alma pura e amável, porém, ele se sentia totalmente o oposto disso. A cólera o possuía como nunca antes e ele teve vontade de socar a primeira coisa que aparecesse. Respirou fundo, fechando os olhos e deixando o diário de lado. Nem mesmo com Ginny sentira um ciúme tão grotesco como agora.

Socou violentamente o travesseiro, esperando que isso o aliviasse, mas não. Queria bater em alguém, queria espancar o amado idiota do escritor. O sangue estava subindo-lhe a cabeça e Potter chutou a cama com a adrenalina não permitindo que sentisse nenhuma dor sequer. Harry simplesmente não compreendia como o outro conseguia amar tão belamente um escroto como aquele grifinório... Se ao menos ele olhasse para mim, pensou Potter, desabando no chão desesperançoso. Suspirou e recostou-se contra a cama. Eu vou descobrir quem é esse ordinário, juro que eu vou, prometeu a si mesmo, levantando-se determinado e anotando mentalmente todas as características que o escritor havia mencionado.

-º-

¹É um doce vendido em Hogsmeade que é recheado de musse de morango e creme cozido.

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