Capítulo 8

2.2K 265 62
                                    

Mais um capítulo! Espero que gostem, aproveitem!
—————————————————————————

Durante o trajeto, eu acabo realmente pegando no sono e acordo com a voz suave de Pedro. Ele havia estacionado em frente ao meu prédio e aberto a porta do passageiro, para se agachar ao meu lado:

- Olívia, acorde. Já chegamos. – dizia, enquanto passava a parte frontal de seus dedos em uma das minhas bochechas, de forma gentil.

Apesar de seus esforços para me acordar de forma calma, eu acordo com um pulo e olhando ao redor. Levo alguns segundos para me recordar o que aconteceu, onde eu estava, porque estava ali e com quem estava, e quando me recordo, o medo toma novamente conta de mim. Era uma noite quente, mas mesmo assim, sinto um arrepio correr pelo meu corpo. Pedro percebe, e passa as mãos pelos meus braços em uma tentativa de me esquentar. Hoje ele não estava de blazer.

E então, eu me lembro de tudo que irá acontecer quando eu estiver sozinha em casa: as memórias voltando, a vontade de não fazer nada, a vontade incontrolável de chorar, o sentimento de vazio. Como se pudesse ler tudo que se passava em minha mente, Pedro sugere:

- Se você quiser, posso levar você até a porta.

Confirmo com a cabeça, temendo que se falasse algo, saísse exaltado demais. Ele apoia as mãos em meus ombros, enquanto nos guio até minha casa. Com a mão na maçaneta e sem pensar nas consequências (e na minha vergonha em levar um ator de Hollywood para a minha simples casa), disparo:

- Entra um pouco.

Ele abre a boca para responder. Temendo sua resposta, eu complemento antes que ele possa formular algo:

- Por favor. – a frase acaba saindo em um tom mais apelativo do que eu planejava.

Ele me olha como se entendesse os motivos para que eu fizesse tal pedido.

- Isso vai fazer com que você se sinta melhor? – novamente, confirmo com a cabeça – Então eu entro.

Assim que abro a porta, Nana vem ao meu encontro, até perceber a presença de alguém que ela não conhecia e transfere toda sua atenção para a novidade.

- Que coisa mais linda! – diz Pedro, já abaixado fazendo carinho na cabeça minúscula da minha mais fiel companheira – Qual o nome?

- É Catarina, mas eu chamo de Nana. Pode chamar ela assim também.

Assim que termino de falar, olho para minhas mãos e percebo que por algum motivo, elas estão tremendo, assim como minhas pernas. Pedro, que havia acompanhado meu olhar, também percebe, e fala enquanto se levanta e me guia para o sofá:

- Se senta, Olívia. Onde é a cozinha? Vou preparar um copo de água com açúcar para te acalmar.

Passo as coordenadas da cozinha e de onde achar copo, colher, açúcar e água e ele some pelo corredor. Enquanto o aguardo, encaro um ponto aleatório da minha tv desligada, em uma tentativa quase desesperada de desacelerar meus pensamentos.

Ele retorna com o copo em mãos, me entrega e se senta ao meu lado. Começo a tomar, e ao invés de me concentrar na tv, passo a me concentrar no gosto doce do líquido. Sinto seu olhar sobre mim, e me viro para encará-lo. Como se essa fosse a deixa que precisava, ele me pergunta:

- O que aconteceu naquela casa Olívia? – começo a medir os pontos positivos e negativos em contar toda a história para ele. Percebendo minha hesitação, ele complementa – Se for muito difícil para você, não precisa. Sério!

- Não, acho que vai ser bom dividir com alguém. Colocar para fora. – finalizo, com um sorriso fraco.

Conto tudo, com todos os detalhes. Começo a contar desde o momento em que eu disse estar cansada e Ricky não acreditou. Pedro não tirou os olhos dos meus durante toda a história, e soltava expressões como "não acredito" a todo momento. Quando contei quem eram os amigos de Ricky, Pedro apertou minha mão, me dando a força que eu precisava para continuar. E quando terminei, as lágrimas rolavam livremente pelo meu rosto. Com a ponta dos dedos, ele as limpou e perguntou cuidadosamente:

- Olívia, o Ricky sempre foi assim? – ele não precisava falar mais nada, eu entendi o que ele queria dizer. Queria saber se Ricky sempre foi assim ou mudou depois que aceitei namorá-lo. Busquei na minha memória e o que descobri me deixou chocada.

- Acho que ele sempre foi assim, eu que me enganava. Tentava me convencer que tudo que ele fazia era por gostar de mim, por se importar comigo.

- Naquele dia, aquele hematoma no seu braço... por favor, me fala que foi realmente uma batida no balcão.

Eu não preciso responder, só olho para ele. Ele sabe. E quando se dá conta do que realmente aconteceu, se levanta em um pulo e desconcertado, começa a andar de um lado para o outro.

- Olívia, o que mais ele fez com você? – e então, sua expressão muda drasticamente, como se sentisse uma dor muito forte – Não me diz que ele te forçou a...

- Não! – respondo rápido e sua expressão se suaviza. Mas me recordo de toda as vezes que eu não queria transar com Ricky, de todas as vezes que estava cansada e ele não me ouviu. E de todas as vezes que ele repetiu que era meu "dever como namorada". – Na verdade, não sei.

- Como assim? – sua expressão se enrijece novamente.

E de novo, conto tudo, começando pelo pedido de namoro onde eu não disse nem sim nem não. Enquanto me abro com ele, me pego surpresa comigo mesma em estar dividindo algo tão pessoal quanto aquilo, para uma pessoa que eu pouco conheço. Mas algo nele, faz com que eu me sinta estranhamente confortável.

Quando termino, sua expressão é de terror.

- Olívia, você foi agredida e abusada. Mesmo ele sendo seu namorado, isso é abuso sexual sim. Você tem que denunciá-lo.

- Eu já decidi, vou terminar com ele. Ele não vai fazer mais nada.

- Geralmente pessoas com esse comportamento, tem dificuldade em aceitar términos. Por favor, se acontecer mais alguma coisa, pode me ligar se não quiser ligar para polícia, por favor Olívia... – ele fala de forma apressada.

- Ei, não se preocupe. Vai ficar tudo bem. – e agora é a minha vez de apertar sua mão.

Ficamos um tempo em silêncio enquanto eu tomava os últimos goles da minha água. Estranhamente, ficar em silêncio ao lado dele não era incômodo, pelo contrário, era reconfortante. Com o silêncio, eu não tinha nada para prestar atenção, então, foquei em seu cheiro e me perdi nos meus pensamentos. A capacidade que aquele perfume de canela tinha para me acalmar e fazer com que eu sentisse que mais nada no mundo poderia me fazer mal era impressionante. E um pouco assustadora.

Sinto meus olhos pesados, e então, apoio minha cabeça em seu ombro. Automaticamente, me lembro de algo importante que não havia passado pela minha cabeça e me levanto perguntando:

- E sua namorada? Acho que ela não ficaria feliz em saber que você está sozinho aqui comigo.

Quando me viro para encará-lo, percebo uma certa confusão em suas feições, como se tentasse arrumar as palavras certas para dizer ou apenas tentando as colocar em ordem. Ou analisava se devia me contar ou não.

Não acho que havia possibilidade de não ficar impactada após sua revelação:

- Olívia, meu namoro é de fachada. Não é real.

Free Falling - Pedro PascalOnde histórias criam vida. Descubra agora