𝟐. 𝐀 𝐯𝐨𝐳 🌸

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O som do despertador no meu ouvido é insuportável. Bato no treco irritante até vê-lo cair e se desmontar no chão. Ótimo. Agora eu preciso comprar um novo despertador.

A luz passa fraquinha pela cortina, começando a iluminar o quarto. Abro os olhos devagar, a dor de cabeça que sempre sinto após esse tipo de sonho se instaura nas minhas têmporas. Me sento na cama e massageio os lados da minha cabeça.

— Innie. — Ouço seu resmungo de sono em resposta. — Acorda. Já são seis horas.

— Mais cinco minutinhos Hannie. — Vira a bundinha para mim e se enrola nas cobertas.

Me levanto e vou para o único banheiro do meu apartamento minúsculo. Seul já acordou e o barulho costumeiro dos carros me desperta lentamente. Tomo uma ducha e escovo os dentes enquanto lembro do rosto bonito do meu sonho. Era ele de novo. O homem bonito que está sempre triste. O tom lilás de seus olhos é parecido com o meu e sinto no meu âmago que preciso encontrá-lo. Mas como fazer isso se não faço a mínima ideia de quem ele é ou onde está?

As batidas na porta do banheiro me assustam e logo ouço a voz de Jeongin abafada.

— Vai morar aí? Eu quero usar também.

Destranco a porta e encaro o corpinho menor encostado no batente, os olhinhos fechados por conta do sono. Dou um peteleco no meio de sua testa e corro antes que ele se dê conta do que aconteceu. Visto o uniforme simples do restaurante, a calça preta e blusa social branca, e vou para a cozinha preparar o café enquanto Jeongin se arruma para a faculdade.

Ele aparece minutos depois usando sua tão amada calça rasgada e cropped de lã amarelo, os fios azuis desarrumados e o all star surrado também amarelo protegendo seus pézinhos.

— Bom dia maninho. — Deixa um beijinho no meu cabelo e pega uma xícara no armário para se servir café. Eu alcanço suas torradas num pratinho e o vejo se sentar à minha frente. Após adoçar o café preto ele me olha sorrindo mas sua expressão rapidamente muda.

— O que foi?

— Foi atropelado na noite passada? Sua cara está horrível. — Bebe um gole do café e morde a torrada.

— Não, seu engraçadinho. Sonhei com ele de novo. — Suspiro cansado.

— O garoto que está sempre triste? — Afirmei com a cabeça. — Mas de novo? Não sonhou com ele na semana passada?

— Sim, o intervalo de tempo entre um sonho e outro está diminuindo, Innie. — Termino meu café e começo a lavar a louça.

— Eles estão te esgotando, Sung. Já olhou no banco de almas gêmeas como eu te disse? Vai que você encontra ele lá.

— Sim Innie, eu já olhei lá, mas tem tanta gente. O banco de Seul é o maior do país, vai demorar muito para eu achá-lo. — Recolho a mesa e sua louça suja enquanto ele para e tenta pensar em alguma coisa. — Cuidado para não queimar os neurônios de tanto pensar. — Ele me mostra a língua enquanto finalizo a limpeza da cozinha e vejo que ainda tenho meia hora antes de ter que ir para o trabalho. Nós dois no sentamos no sofá pequeno da sala, enquanto pensamos em alguma solução.

— Lembra de alguma coisa? Um mínimo detalhe sempre faz diferença. — Ele diz esperançoso mas eu balanço a cabeça negativamente enquanto tento ajeitar seus fios rebeldes.

— Você sabe que eu só lembro dele, os outros detalhes são praticamente esquecidos. — Encaro seus olhos amarelos, um tom único entre dourado e amarelo canário.

— Vamos encontrar um jeito de achá-lo, Hannie.

— Eu sei Innie. — Suspiro. — Agora vai terminar de se arrumar vai. — Aperto seu narizinho, ouvindo-o reclamar enquanto se levanta e vai em direção ao quarto que dividimos.

Permaneço observando os raios do sol entrarem pela varanda simples da casa e novamente ele vem à minha cabeça. Me esqueço de quase todo o sonho, apenas recordando de como as lágrimas escorriam pelas bochechas e como ele parecia machucado.

Sinto um aperto no meu coração e um cansaço incomum me tomar. Acabei de acordar, como já me sinto tão esgotado? Abaixo a cabeça e fecho os olhos, sentindo o ar escapar dos meus pulmões.

“Se sente como se tivesse corrido uma maratona, não é?”

Uma voz fofa profere e eu assinto com a cabeça.

“Ele precisa de você também, sabia? É por isso que se sente assim. Precisa encontrá-lo, por mim. Entendeu, Jisung?

Sem entender muita coisa, murmuro um “sim” sufocado e logo em seguida sinto duas mãos chacoalharem meus ombros.

— Hannie? O que foi? — Foco meu olhar na pessoa a minha frente, vendo Jeongin preocupado.

Sinto uma lágrima escorrer dos meus olhos e a limpo meio confuso, desde quando eu comecei a chorar? Olho para Innie um tanto perdido, sem saber como explicar que acabei de ouvir uma voz totalmente diferente me dizendo para procurar ‘ele’, tudo aconteceu tão rápido que acabei de perceber que nem olhei para o tal e que o cansaço diminuiu um pouco, mas não desapareceu. Jeongin me abraça, provavelmente sem saber o que fazer, enquanto eu me pergunto que delírio foi esse.

— O que foi isso? — Se afasta e ajeita meu cabelo.

Demoro um tempo para responder, ainda lento pelo que acabou de acontecer.

— Minha pressão caiu, não foi nada demais. — Sua expressão se fecha no mesmo instante.

— Mentiroso. Por que estava chorando?

— Não sei Innie. Eu só... sei lá. — Desisto de tentar achar uma razão lógica.

Ele não diz nada, só se levanta e põe a mochila nas costas.

— Tem dinheiro para o ônibus? — Ele assente. — Toma cuidado ok?

— Você vai ficar bem? Promete me ligar se isso acontecer de novo?

— Prometo. — O abraço. — Boa aula, até de noite e nada de sair sem me avisar.

— Sim senhor. — Bate continência como um soldado.

— Bobo. — Nós rimos e ele caminha até a porta, dando um tchauzinho e saindo logo em seguida. 


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𝐀 𝐚𝐥𝐦𝐚 𝐋𝐢𝐥𝐚́𝐬 - 𝐌𝐢𝐧𝐬𝐮𝐧𝐠 🌸Onde histórias criam vida. Descubra agora