Estou sem fome. Empurro o prato com um restinho de macarrão para longe e levanto para lavar minha louça. Algumas lágrimas escorrem sem que eu perceba e eu as seco rapidamente. Respiro fundo e seco as mãos.
— Jisung. — Minho e Chan me chamam ao mesmo tempo antes que meu pé toque no primeiro degrau da escada. Me viro e vou até eles.
Ambos abrem espaço no sofá e eu me sento no seu meio.
— Quer ouvir uma história? — O ruivo pergunta.
— Uma história? — Digo confuso e os dois assentem com a cabeça.
Acho que o negócio deles é a sincronização. Assim como a intuição de Changbin e Felix e os sentimentos meu e do Lino.
— Era uma vez... — Minho começa dramático. — Um garoto e um garoto. Eles não se deram muito bem na primeira vez que se viram. Era engraçado. Pareciam gato e cachorro sabe? Estavam sempre se provocando. Mas um dia, o garoto dos olhos lilases precisou de ajuda e outro garoto era o único que estava lá. Se tornaram amigos. Então, algo aconteceu. Eles descobriram que partilhavam bem mais do que só amizade. Seus olhos eram diferentes, mas eles não ligavam para isso. Diriam que se apaixonaram mas isso não era possível, era? Eles não eram almas gêmeas. Seus amigos os avisaram, avisaram que isso era perigoso, que poderiam se machucar, mas eles... eles estavam imersos num sentimento poderoso o bastante para mudar as coisas. Acontece que, o destino já tinha sido traçado e eles não estavam destinados. Um acidente. Aconteceu na esquina de uma cafeteria recém reformada. Um dos motoristas não resistiu. O outro garoto tinha algo diferente. Algo raro. Olhos tão brancos quanto a neve ou as nuvens. E tínhamos acabado de descobrir, o motorista que havia falecido tinha os mesmos olhos que ele. Todos sabíamos o que isso significava. Ele não tinha muito tempo. O garoto dos sorrisos calorosos e personalidade afiada tinha apenas alguns dias. Os primeiros sintomas apareceram horas depois do acidente e imagino que você já saiba quem foi que sofreu mais. Os dois, agora homens, passaram os últimos dias compartilhando saudades, ódio, sorrisos, lágrimas e... amor. E então, o garoto dos olhos brancos deu seu último sopro antes de deixá-lo para sempre. O sopro mais sussurrado e poderoso, dizendo apenas uma frase: "Não deixe de amar." Os dias seguintes foram os mais sombrios de todos para o garoto dos olhos lilases. Ele estava em total silêncio. Não comia, não saía, não falava. Tudo o que fazia era passar o dia com um cavalo preto, chorando suas dores e desejando não respirar mais. Ele está mais que nunca, confuso. Não sabe o que fazer, só sabe que pela primeira vez depois de muito tempo, ele não quer ficar em silencio. Espero que entenda a história, Jisung. As respostas de que precisa estão todas ai.
Eu estava catatônico. Minho e Chan seguravam na mão um do outro e trocavam olhares tristes. Eles olharam para mim e sorriram gentis.
— Sei como está difícil lidar com ele agora, mas ele precisa de você. Esses irmãos Lee dão trabalho, Jisung, mas valem cada segundo nosso. Sei que vai desvendar o quebra-cabeça e entender tudo. Só assim poderá ajudá-lo. — Chan diz com calma.
Dou boa noite e eles respondem em uníssono, encostando as cabeças e fechando os olhos.
Subo as escadas e vou direto para meu quarto. Tomo um banho quente para tentar relaxar mas não consigo parar de pensar em todas as informações que recebi hoje. Meu cérebro trabalha a todo o vapor juntando as peças e tentando chegar a algum lugar.
Por algum motivo eu me sinto completamente esgotado e não resisto quando meus olhos começam a fechar e abrir mais devagar, me levando para o silêncio.
[...]
Acordo mais cedo hoje. A noite passada me rendeu ótimos sonhos com teorias malucas mas nada concreto. Deixo Jeongin dormindo e desço quieto. Todos já estão fora trabalhando, inclusive Lino que teve que resolver uns negócios sobre a casa junto com Minho.
Decido avisar o Innie que vou passar o dia fora, e sozinho. Preciso pensar em tudo antes de decidir o próximo passo e resolver isso. Deixo um bilhete e um carinho nele antes de sair e caminhar sozinho para a cidade.
Após uma hora caminhando por Sokcho, percebo estar perto do mercado dos gêmeos e desvio do caminho, indo para o que eu julgo ser a praia.
Estou sentado de frente para o mar com os fones no ouvido a umas duas horas. Penso meticulosamente sobre cada detalhe de tudo isso.
Lino perdeu alguém que agora descobri ter sido o primeiro amor dele, mesmo eu sendo a sua alma gêmea. Quem é o garoto? Sinto que eu esqueci de alguma coisa. Ok, Felix perdeu seu irmão a uns dois anos e pouco. Todos se conheciam e... e qual era o nome pelo qual Felix o chamou? Min? Não, Min é o nome do cavalo do Lino. É... Minnie, isso. Caramba que nomes parecidos, não é?
Espera.
O menino dos olhos brancos da história do Minho é o irmão do Felix?
Porra.
Sinto meu celular vibrar no bolso e a música para de tocar. Vejo que é Minho que está me ligando e estranho mas rapidamente atendo.
— Onde você está, Jisung?
— Estou aqui sentado na praia, por que?
— Consegue chegar aqui no mercado? Temos que ir para casa, agora. — Sua voz sai com urgência e isso me deixa completamente preocupado.
— Já estou indo, aconteceu alguma coisa?
— O Lino sumiu e... e o Min morreu. Vem para cá agora!
— Estou indo.
No mesmo minuto sinto o ar escapar dos meus pulmões e caio de joelhos na rua. Lino está triste, muito triste. Me levanto e corro o mais rápido que consigo, meu rosto começa a se banhar em lágrimas e eu aperto o passo. Avisto a picape vermelha depois de cinco minutos correndo e Minho sai do mercado completamente desesperado.
Entramos no carro e ele pisa no acelerador, nos levando de volta para casa.
Me espera, Lino. Eu já estou chegando.
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𝐀 𝐚𝐥𝐦𝐚 𝐋𝐢𝐥𝐚́𝐬 - 𝐌𝐢𝐧𝐬𝐮𝐧𝐠 🌸
Romance"Os olhos são as janelas da alma" e blábláblá, era muito fácil cantarolar isso quando já se tinha achado sua alma gêmea, quando já não se sentia mais incompleto e podia descobrir nos olhos do outro a cor da sua alma. Mas Jisung, um pobre cozinheiro...