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Jagunço🍸

Desde que me conheço por gente, vivo com a incerteza do amanhã, nada pra mim era rotineiro, mais Caio chegou pra mudar tudo do avesso, minha vida é louca, e em cima disso me tornei uma pessoa com dificuldade de aceitar mudanças. Sempre fui porra louca memo, mais de uns anos pra cá, venho me policiando, e pensando mais antes de agir, tenho minha cria pra cuidar, dar um futuro, e isso me move diariamente.

Entrei pro corre, não pelo luxo, mais sim pela necessidade, tinha meu filho pra alimentar, minha família me abandonou quando soube que eu engravidei do pai do meu filho. Apesar de no começo ter me inundado com falsas promessas e esperanças de uma vida melhor, crime não passa de uma série de preocupação com a sua própria vida e com as das pessoas que você ama.

Jagunço: Pistoleiro, contratado para matar, assassino. Apesar dessas palavras sempre se dirigirem a um homem, encontrei nesse vulgo a minha necessidade de descontar minhas raivas e frustações, em pessoas que fazem o errado dentro da favela, com estupradores, x9's,ou qualquer outro tipo de vigarista. Sei que posso ter uns parafusos a menos, e o jeito que encontrei de lidar com as minhas frustações de longe é o errado, mais é o que me sustenta.


Em meio às minhas certezas inabaláveis Caio chegou para mudar completamente meus paradigmas, quando olho pra ele, enxergo em mim a esperança de uma pessoa melhor. Sua pele negra, seus olhos pretos como jabuticaba, e os cabelos cacheados sempre bem tratados e cheirosos me dão motivação.
...

O homem estava jogado no chão, vestido apenas por uma bermuda jeans, tinha cortes e feridas pelo corpo tudo que se misturavam aquele chão sujo. Ensanguentado, e entre os soluços e as lagrimas que escorriam de seu rosto, respirava com muita dificuldade, estava quase morto.

Fechei meus olhos me concentrando nas piores coisas que já aconteceram comigo, meu ódio se virou, por algum motivo, contra aquele estuprador em minha frene, a quem nunca havia visto na vida. Mirei a Glock na direção de seu rosto e descarreguei o pente. Seu olhos saltaram para fora e sua cabeça simplesmente explodiu. Quando abri os olhos, meu olhar expressava indignação e frustação ao notar minhas roupas sujas do sangue daquele ser nojento, e só.

Em meio rosto eu exibia um sorriso que ia de orelha a orelha, expressando minha satisfação e uma sensação de trabalho cumprido. Os vapores que estavam dentro daquele cômodo minúsculo e observavam o ocorrido me olhavam assustados, como se nunca tivessem matado alguém antes e os fuzis travessados em suas costas ou as pistolas em suas cinturas não mostrassem totalmente ao contrario. Sai do cômodo sem ao menos um daqueles homens falar alguma coisa, enquanto subia o morro em direção a minha casa, levei olhares junto comigo por conta do sangue daquele maldito estuprador espalhado por meu corpo.

Era certeza que ninguém estaria na minha casa naquele momento, minha única companhia, meu filho Caio, estava na escola. Aproveitei para tomar um banho frio e tirar todo o sangue de mim, a agua extremamente gelada me fazia ter lembranças em maioria nada agradáveis e eu soltei um leve suspiro entre as minhas incertezas. Definitivamente eu não gostava, e nunca me costumaria ser uma pessoa confusa, mais a sensação de poder reviver com força traumas do passado, e não poder evitar isso me deixavam assustada, aflita, esperançosa.

Terminei o banho, estava um clima agradável, um fim de tarde abafado com um por do sol lindo. Coloquei um pijama, penteei o cabelo e passei meus hidratantes de pele para ficar cheirosa e ter pelo menos por alguns instantes uma sensação de leveza. Era difícil de acreditar que o homem que arruinou minha vida, e em partes me deu a minha razão de viver e minha felicidade diária voltaria a se trombar comigo pelos lugares. Me sentia confusa por que ele me assustava, me amedrontava, assim como fez com a criança que eu era quando nos conhecemos.

𝐄𝐔 𝐄 𝐄𝐋𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora