Capítulo - 08- "ARDENTES"

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MOSTRAVA SUA FACE ENEGRECIDA, RETORCIDA E QUEIMADA. Encarava os amigos de forma tensa, soltava sempre um meio sorriso e apertava as mãos com frequência. Tinha o calor e as trevas dentro de si naquele instante macabro, brigando para tomarem o controle daquele corpo, possuir sua mente e guerrear contra eles. Mateo sentia o arder no seu peito, a comichão pelo corpo e a dor de cabeça. SAIA, POR FAVOR! A voz dentro de si dizia com ferocidade.

Os sentimentos dentro de si oscilavam de momentos em momentos. Ora queria gritar e chora, ora lutar e matar. Mas não havia porquê aquilo ocorrer, pois sempre foi uma pessoa boa, uma ótima pessoa, nunca fizera mal algum a quem não merecesse. Mas por quê? Por que agora?

Por favor, me mate. Acabe com essa dor que queima em meu peito, acabe com meu sofrimento de uma vez! A voz gritava para com as sombras, suplicava por misericórdia e piedade, mas só recebia silêncio. O monstro que o possuía era tão agitado e quieto ao mesmo tempo que o fazia perder a cabeça. Muito queria poder sair daquele transe, escapar para a luz e ver com seus olhos a verdade que tanto ansiava, mas a mancha negra o consumia de pouco em pouco, devorando cada pedaço que restava de sua alma e dirigindo aquela dor às demais vítimas.

Via quando a moça se aproximava com a espada, levantando fervor em seu punho e deslizando pelo ar a lâmina cortante que em poucos segundos cortaria sua cabeça fora. Seus pés agiram contra sua vontade, levando-o à posição de defesa contra o golpe recebido. A espada de Mateo segurou a de Alexis um entrechoque de aço perfeito. Encaravam-se. Por favor, Alexis, ouça-me, este não sou eu.

— Você fez com que acreditasse em sua palavra. Mandou-nos para o desconhecido afim de acabar com nossas vidas! — Ela era só a fúria. Ele só ria. — Onde está meu pai, Mateo? O matou ou enganou ele assim como fez conosco?

A sombra inimiga fazia pressão com a lâmina.

— Falando assim você me faz desejar mais ainda o sangue dele — ria —, mas posso garantir que meus amigos se deliciaram com o que ele nos ofereceu.

— Mentiroso. — Ela gritava. — Meu pai nunca se renderia fácil, ele é um guerreiro!

Ele voltou a levantar a arma, deslizava por sua lâmina e faíscas eram vistas ao longe. Fez um movimento em rodopios até que enfim chegou ao oponente. Deixou-lhe com um fino corte na face direita feita pela sua ligeireza e sincronia. Mateo parou por um instante. Sentiu a linha de sangue negro escorrer pelas bochechas. Permitiu-se a sorrir do momento.

— É a mulher mais feroz que conheço. De onde saiu tanta força assim, Alexis? — Limpou o rosto com as costas da mão. — Minos não possuía tamanha motivação para o campo de batalha.

— NÃO FALE DO MEU PAI! — Novamente avançou com mais força e destreza. Mas, desta vez, uma terceira lâmina interveio.

Grégory a puxou para trás e encarou o guerreiro frente a frente. Tinha o corpo dolorido, mas não tanto quanto a alma. Mostrava dedos inchados, ferimentos no rosto e sangue tanto seu quanto não. Algo o tinha tocado, algo lá no fundo o impulsionava a agir contra as sombras. Havia visto o irmão morto pelas trevas, atacando-o como um estranho, lutando tanto para se manter em pé.

A respiração começava a acelerar-se, vinha com mais força a cada passo que dava na direção do opoente.

— Acalme-se, garoto, sou seu amigo. Lembra?

— Você é um mentiroso! — Grégory avançou com a espada em sua direção. Mateo desviou de sua investida e o atirou ao chão esverdeado.

— Seja mais atento. — Riu da cara do rapaz.

Grégory encontrava-se estatelado no chão quando um outro corpo foi jogado ao seu lado. O som daquele gemido de dor era familiar. Tentava apoiar-se para ver de quem se tratava, até que por fim as forças lhe vieram. Cronnos, pensou, está ferido. O velho homem mal conseguia se manter acordado, havia sido golpeado por duas daquelas criaturas que se aproximavam. Assim como Mateo, elas riam de tudo e mostravam sempre seus olhos ardentes e suas peles rachadas e fumegantes.

As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora