Capítulo - 09- "SEM DOR, SEM GANHO"

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O CHEIRO DE SANGUE E VINHO SE MISTURAVA NA MESA DE JANTAR. Elena via como os bajuladores do pai morriam com o vinho pela metade na taça, via como eles sufocavam e derramavam o líquido vermelho pela boca e suplicavam por socorro. Mas ela permanecia sentada à mesa, com Endryus ao seu lado e a espada negra ao outro.

O pai havia sido trancado em seu quarto juntamente com a sua prostituta grávida, deixados por ordem da princesa e sob os cuidados de Hayden Floran, um dos guardas mais leais de Serendibite. Àquela altura, a garota já se dirigia para o comandante de seu exército, Vohrus, ordenando que preparasse os homens para a guerra.

— Senhora, quando pretende levantar viagem? — Perguntara o pai de seu amante.

Ela sorria enquanto imaginava-se sentada no grande cadeirão da sua nova sede.

— Ainda esta noite, meu bom senhor. — Respondeu. — Pretendo tomar o que nos foi negado. Para isso conto com a sua ajuda. — Ele ajoelhou-se em uma das pernas e abaixou a cabeça.

— Pode confiar em mim, minha rainha. O que desejar eu lhe darei. — Aquilo fez com que ela sorrisse mais uma vez.

Vohrus retirou-se por ordem dela. Elena analisava com cuidado os mapas e cartas que lhe tinham sido enviadas durantes meses, cada uma contendo uma informação importante. Achou no meio de tantas outras cartas, uma fechada, ainda com o selo de Solaris, o sol amarelo-alaranjado.

Querida Elena, dizia na carta, algo está acontecendo na colônia, os solarianos estão prestes a entrar em uma guerra civil. Solária Aharis reclama por sua coroa enquanto o meio-irmão se proclama Rei do Sol. Maenor é o filho mais novo do segundo casamento de Tybalt Aharis. Ela lia aquilo como se fosse algo que destruía seu coração, os solarianos eram grandes aliados, por mais que permanecessem há milhas de distância. Tybalt está morto, Solária insinua que foi conspiração dos grandes senhores de Solaris, ela informa que o envenenaram para tomar seu lugar na colônia, o lugar de sua família. Maenor aliou-se a pessoas estranhas vindas do outro lado do mar, alguns montebenitenses ou até mesmo homens com sangue em Ossos, mas uma coisa é certa, minha querida, são pessoas malignas, assim como ele. Se a colônia cair, todos nós caímos juntos e mais destes mercenários entrarão em Senses. Peço ajuda, querida princesa, informe-nos assim que puder. Aereo.

Suas mãos tremiam ao terminar de ler a carta escrita por um confidente. Aereo era informante e aliado em Solaris, tinha um ótimo jeito de lidar com as pessoas ao seu redor, sempre conseguindo fazer amizade e extraindo informações necessárias se pudesse. Ele era importante para Serendibite, assim como a corte de Solaris.

— Montebenitenses — ela pensou encolhendo os ombros —, são pessoas de reinos de verdade, não são apropriadas para Senses.

Elena compreendia a extensão e o poder que o continente possuía, além de vastas terras férteis e ricas. Monte Benitóite era um reino do outro lado do mar salgado, um reino de reis cruéis e de homens gananciosos. Possuíam alianças com alguns Sensenses, como as Ilhas Brás que transportavam muito de suas terras para os estrangeiros. Desde vinho, especiarias e tecidos, à mercadoria viva. Will devia estar maluco ao fazer aliança com estes estrangeiros, ela pensava amargamente enquanto analisava novamente o mapa. Ali, bem no canto, conseguia ver na borda as terras de Delos, via Monte Benitóite e a grande ilha de Ossos, negra por cinzas e morte.

Endryus entrou na sala bagunçando seus pensamentos. Ela rapidamente guardou a carta e voltou a dobrar o mapa.

— Precisamos arrumar nossas coisas — se aproximou com a espada na bainha, a cota de malha e o resto de seus equipamentos como se estivesse indo para a guerra. — O que faremos com seu pai? E a sua prostituta? Dorsys?

As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora