E P Í L O G O

70 8 0
                                    

O SERPENTE DAS DUNAS APUNHALOU O último soldado de Solaris assim que conseguiu alcançar sua adaga. Tinha o rosto em suor e sangue e as mãos doídas de tanto lutar contra o inimigo.

Quando se levantou das areias quentes do Campo do Sol, seus irmãos encontravam-se adormecidos abaixo dele, enterrados sob os lençóis de poeira que os engolira depois da batalha. Apenas o serpente continuou erguido para que eles vissem. Sua túnica branca que enrolara sempre ao rosto agora estava rasgada juntamente de demais peças de sua roupa. Àquela altura do dia, o sol ainda estava queimando e seu cantil de água havia sido despejado pelos inimigos no começo da batalha. Malditos sejam eles! Sangue pingava de sua mão esquerda quando a passou pela faixa. Apertou bem e deixou que o pano bebesse de si.

O Dragão e o Escorpião pareciam filhotes diante dele. Mal conseguiam se manter em pé e ainda insistiam que eram bons lutadores. O Dragão abrira um corte na testa por onde uma cicatriz antiga terminara de curar e o Escorpião tinha a boca feita em poça de sangue, empapando o solo e cuspindo areia e pedras.

— O fogo do dragão se apagou e o ferrão do escorpião se quebrou. — Disse, brincando com eles.

— E apenas a língua da serpente continua intacta — Yandre levantou-se limpando a boca ensanguentada.

Daegon continuava sempre com o mesmo rosto duro quando pousou pé nas areias. Parecia sentir o cheiro de sangue de longe e mantinha os olhos abertos sempre por isso. Um ferimento a mais ou a menos não significava nada quando seu objetivo era claro para com ele e para os irmãos.

— Devemos estar por perto. Nenhum soldado iria se atrever a vir até essa parte do Campo, acredito eu. Eleonor nos espera o quanto antes.

Andreas guardou a adaga na bainha e tentou se lembrar do dia em que abraçara a irmã pela última vez. Quando fez isso, uma dor lhe surgiu imediatamente e mãos sombrias agarraram seus pensamentos.

— Aqueles soldados irão nos pagar. — Disse.

— Tão quentes quanto o sol — Yandre falou.

— Tão quentes quanto o sol de Solaris — Daegon terminou.

Daegon levantou a mão para o alto e mediu a posição do sol. Andreas, o Serpente, sabia que em breve a noite chegaria e com ela patrulhas se iniciariam. Na medida em que o tempo se passava mais e mais homens de Maenor seguiam diante da Baía dos Ventres e adentravam pelo deserto. Ao que se sabia, Solária estava desaparecida juntamente de sua tropa e seus companheiros, grandes e pequenos senhores que a apoiavam em sua causa.

Nos minúsculos vilarejos por onde Andreas e os irmãos passavam, ouviam histórias de que ela estaria recebendo ajuda dos senhores das casas Toledo, Jones, Lozivert e, como era de se esperar, sir Pedro das Colinas Ardentes. Este cavaleiro não desgruda de Solária. Cuida de sua vida como se fosse a dele própria. Era inacreditável como aqueles homens lutavam por sua pretensão e como sangrariam por ela. Era lei nos demais cantos de Senses que o filho homem prevaleceria, mas em Solaris isso não era problema, não até Maenor se declarar rei.

Sir Pedro das Colinas Ardentes fora o primeiro, segundo o que ouviram, que se rebelou contra este rei por quem Solaris sofre. Quis a todo custo colocar a coroa de Tybalt, pai de Solária, em sua cabeça e glorificá-la diante do Pai Sol. Amor ou devoção, aquilo parecia ser mais loucura de um homem caído. Daegon certa noite voltara com informações de que Pedro fora exilado para Delos no passado, nas grandes cidades, onde, por algum motivo, o fizeram cavaleiro e trouxera consigo companheiros estrangeiros. Talvez esse tenha sido todo o alvoroço que Solária sofre agora. Por conta de seu cavaleiro protetor seu irmão neste momento possui aliados de fora.

Yandre se preocupava mais com os soldados que vinham durante a noite. Poderiam muitos bem armar um cerco e os pegarem para servir de janta para os cães de Harold Nove-Dedos, o comandante das tropas de Maenor. Pai no céu, ilumine nosso caminho até Eleonor, nós vos suplicamos diante das estrelas que a Mãe Lua nos oferece. Traga-nos de volta nossa irmã e vigie nossos passos pelos caminhos tormentosos do deserto.

As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora