Capítulo - 22- "O BOM FILHO A CASA TORNA"

17 5 0
                                    

 TINHA FERIDAS EM SEUS PÉS QUE DOIAM-LHE ATÉ A ALMA. Os olhos avistavam uma grande muralha que se erguia diante de si, colossal e lendária. Tinha certeza de que estava em casa, que finalmente teria chegado ao seu destino, e que em breve seria abraçado por seus velhos companheiros de quarto. Ansiava por encontrar Porfírio e treinar até não aguentar mais, ou ouvir seus conselhos sobre o irmão das sombras.

O sangue que antes escorria agora não vinha com tanta facilidade. Porém, as pernas que o suportaram por todo o caminho durante quase um dia inteiro já não se sustentavam mais. Os ossos de seu corpo rangiam a cada movimento que fazia e a cabeça tornava-se um caos desde a sua partida, desde que avistara Alexis pela última vez. O que foi que eu fiz? Mãos geladas o agarraram por de trás e puxaram-no para longe. Jamil. Alexis. Lírio. Falhei com todos vocês. Na escuridão que antecedia a alvorada, Grégory pegou-se rodeado por sombras novamente, porém, estas, pareciam mais vivas do que as anteriores.

— Quem ele é? — Dizia uma das suas companheiras.

— Está morto? — Perguntara a seguinte.

— Devíamos chamar a rainha. — O tom de sua voz era de medo. — Ela saberá o que fazer.

O que está acontecendo? Quem são estes? Tudo o que queria era gritar para que as sombras se afastassem, mas não tinha forças suficientes, porém.

— Chamem o mestre. Deixe alguém para vigiar Vyella e traga-o aqui.

Vyella. Aquele nome lhe era familiar. Conhecera uma Vyella em alguma vida passada ou teria ele apenas sonhado? Grégory se questionava por muitas coisas desde então. Tivera uma vez um sonho sobre um cavalo, onde cavalgava durante tempo até encontrar um campo ensolarado e manchado de sangue pela guerra. Lanças e espadas eram engolidas pelas areias ferventes de seu solo e corpos eram comidos pelos abutres.

Logo depois sentiu algo sendo despejado em seus olhos. Era água. Tinhas as vistas embaçadas, mas conseguia ver os homens que o rodeavam: um velho e vários soldados armados e em cota de malha negra-avermelhada. Traziam consigo espadas presas nas ancas e escudos em suas costas.

Pouco tempo depois uma mulher entrou no salão. Vestia-se apropriadamente com as roupas de cama, mas tinha os olhos fundos. Você, ele pensou. Eu sei que te conheço, eu sei que sim. A voz estava presa em sua garganta. Ela se aproximou e o olhou de cima. Confidenciou palavras com o soldado que a acompanhara e depois deu uma rápida olhadela para o mestre que o examinara.

— O que irá fazer, Verídia? — O mestre sussurrou, como que para si mesmo.

Verídia, sim, é ela. Deuses, por que me abandonaram? Ela estava mais alta do que o normal, com um peso em suas costas a menos, parecia. Tinha os cabelos soltos e escovados e um ar de superioridade surgira. Mas, algo cheirava a ruim para Grégory. Não vira Porfírio em lugar algum e nenhum dos soldados o reconhecera, nem mesmo o mestre que tratara do garoto era familiar. Armaduras novas estavam sendo usadas com as cores erradas da colônia e uma rainha agora comandava o local onde um dia Matoki governara com mãos de ferro.

VOCÊ!Ele gritou. — O que é tudo isso, Verídia? O que aconteceu aqui? — Os guardas começaram a arrastá-lo para longe. Que tramoias pensa que está fazendo? Seus pulmões se esvaziaram de ar e o garoto começara a ter um ataque de pânico, lutando contra seus capturadores.

A mulher não lhe disse nada. Virou-se para o guarda e voltou a falar com ele.

— Esperem. — Um guarda desceu as escadas e adentrou no salão. Uma mulher vinha logo atrás dele.

Era bonita de corpo, com um vestido mal ajustado que lhe caia levemente até os pés. Caminhava a passos largos e tinha os olhos postos em Verídia. Quando teve o vislumbre da presença de Grégory, ela se espantou.

As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora