Capítulo - 23- "ALEXIS"

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PAI. UMA IMAGEM CLARA DO ROSTO DE MINOS PASSOU POR sua cabeça. Falhei com você. Alexis já se sentia mal por si só, abandonada naquele navio com os conveses balançando debaixo de seus pés.

A água batia no casco do Velho Bacalhau, um navio pesqueiro vindo de Punho, ao norte. O cheiro salgado do mar entrava em suas narinas, fazendo-a pensar mais ainda em seu pai e nos dias que se seguiram até ali. Alexis tinha na cabeça pensamentos que a deixavam atordoada e sem esperanças de um novo dia. Quando tentava recordar dos rostos de seus amigos, apenas uma fina lembrança embaçada vinha a mente. Grégory, ela pensava sem fôlego, onde está agora, Grégory?

O amigo poderia estar em casa neste momento, enquanto ela se arriscava ir para outro caminho em busca do pai desaparecido, ou teria ele se perdido ou atacado por mais criaturas? O pensamento a deixava com um gosto amargo na boca, salpicado em desespero. Desejava o melhor para Grégory e ainda assim ele a abandonara. Não, Grégory apenas seguiu seu caminho. Eu quem devia ter o deixado partir antes. Vozes surgiam em sua cabeça dizendo o quão sozinha Alexis estava agora.

Era o terceiro dia que estava dentro do Velho Bacalhau, servindo como ajudante de cozinha para o senhor do navio. Euranes Kostodem era o capitão do navio de onde estava. Um homenzinho mal-encarado, mas atencioso, com uma barba pintada de verde e púrpura e que sempre carregava um cajado de ébano, envernizado, mas desgastado pelo tempo. Era originário da grande cidade de Vasilii, em Delos. Lá, fora um dos mais promissores pescadores da região e até comprara mais três navios para o comércio. Entretanto, anos antes o capitão teve de enfrentar uma grande tempestade perto de Al Shabith e perdera um dos navios carregados de ostras, peixes e lulas.

Ele prometera Solaris, mas oferecera a Alexis a oportunidade de conhecer Delos e as terras reais de Monte Benitóite, mas ela recusara. Tinha de seguir ao Sul e não ao Oeste. Tinha de ir até o pai e não aos reis.

Quando encontrara Euranes no porto de uma aldeia, Alexis implorara um lugar em seu navio para as terras do sol. O capitão a inspecionara e assentiu, desde que trabalhasse para pagar a passagem. Descobrira uma tripulação formada por homens grandes e pequenos descendentes de Delos e apenas uma mulher a bordo. Alyndra de Calídia, uma cozinheira que embarcara no navio de Euranes em busca de emprego. Era uma mulher jovem, apesar dos seios caídos e cabelos desgrenhados e hirsutos. Quando se jogava na água para banhar, os homens sempre saíam para fora para dar uma bela olhara em seu corpo. Uma marca antiga mostrara que ela já tivera filhos e os olhos cor de mel brilhavam sempre que falava de sua terra natal.

Alexis se afeiçoara à mulher e aprendera muito com ela. Por vezes pensava que ir para Delos não seria tão ruim assim. Mas o dever a chamava e vinha de longe. Alyndra gritara para que subisse e fosse levar a janta para o senhor capitão e seus homens. Um carregamento de ostras chegaria logo na Baía dos Ventres e Alexis seria deixada junto deles. Por esse motivo, Euranes organizara um jantar entre seus tripulantes.

— Quanto tempo até chegar na Baía dos Ventres? — Alexis olhara para um mapa de Senses e Delos. Terras e rios escorriam de cantos em cantos e ela ficara maravilhara com tamanho cuidado que o capitão tinha com seus mapas.

Mais mapas surgiam na medida em que fazia a limpeza de sua cabine. Mapas de cidades e mapas de terras verdes.

— Um dia e meio. — Respondeu Euranes, virando-se para a mesa e bebendo um bom trago de vinho. — Você sabe mesmo para onde está indo, garota?

Ela se segurara como podia. Tinha os olhos pesados e a mente um caos. O choro batia na porta e a sufocava por dentro.

— Para Solaris. Tenho de encontrar refúgio lá. — Alexis falava coisas que surgiam em sua mente.

As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora