ELA SONHOU QUE ESTAVA TREINANDO COM O PAI, no meio do pátio de treinos de Gardênia.
O pai mostrava como usar a espada em mãos e como segurar o cabo de um jeito firme, com a força suficiente para não a deixar cair ao chão. Por vezes ele ria e voltava a lhe apresentar o modo certo de se fazer, mas ela levaria dias para ser como ele, acreditava assim quando era criança. Soube então que se passaram anos para ser boa e não para ser seu pai.
O sonho nada mais era do que uma lembrança gentil de seu passado, numa época feliz e próspera que a fizera aprender e conhecer mais do seu mundo. Quando abriu seus olhos, a sensação estranha de estar em casa a abateu. Sentiu saudades então de Verídia e seus ensinamentos; Porfírio com seus alunos; Vyella sempre gritando por mais ajuda na ala médica. Era encantador o jeito como se sentia naquela manhã. Quando abriu as cortinas de sua tenda, Alexis avistou os homens de Xidrux treinando no campo à luz do sol.
Xidrux encontrava-se na grande tenda com seus homens discutindo e analisando mapas sobre as colônias. Viu quando uma moça passou com uma criada, carregado um cesto com frutas. Elas conversavam sobre a invasão. E Alexis se manteve em dúvida.
Lembrava-se da história que uma criada havia lhe contado noites antes. Dissera sobre o homem estranho que chegara ferido na aldeia e o seu silêncio mortal. Acreditavam que tenha sido ele quem matou a mulher de Xidrux pelo fato de ter desaparecido logo depois da descoberta de seu corpo. Alexis via como o homem lidava com a dor, diziam que era alguém passivo, uma pessoa que sempre escutara e saudara os seus, mas depois do incidente, seu coração se tornou duro e frio e sempre que não estava em reunião, aparecia desgastando sua lâmina em alguma árvore por perto da aldeia. Seu luto se tornou feroz e sedento por vingança, e o que havia em seu bom coração, morreu junto com a esposa.
Por mais triste que fosse pensar nesta história, ela sentia um estranho sentimento de reconforto por saber que o amor entre duas pessoas persistia tanto. Alexis sabia como ele faria de tudo para vingar a morte da mulher e como iria até o fim do mundo para arrancar o coração do peito daquele que a matara. O ódio movia Xidrux em sua caminhada pela justiça. Há honra nele. É um homem de verdade. A preocupava pensar que a busca pelo assassino de sua esposa poderia interferir na busca de Alexis pelo pai.
Angelos Astares percorria o caminho até a tenda de Xidrux quando o mesmo desatou as cortinas e o recebeu de bom grado. Logo atrás dele vinha o cavaleiro da armadura brilhante, mas neste momento não trajava armadura nenhuma, apenas um simples gibão carmesim condecorado com o símbolo de uma águia com as asas abertas ao ar livre. Trazia consigo a espada que matara os monstros na aldeia de Tuvilin e também seus lindos olhos brilhantes que encantavam qualquer donzela à luz do sol naquela majestosa manhã.
— É um prazer poder conversar com o senhor — ela ouvira Angelos falar com Xidrux.
— Espero que o senhor tenha se recuperado — disse gentilmente o chefe da aldeia. — Estávamos mesmo preocupados com a sua saúde.
Angelos continuava a sorrir e apertar a mão do homem quando disse:
— Sou um homem de ferro, pode ter certeza de que não cairei tão facilmente. — Virou-se para o filho. — Belon me disse que sofremos perdas terríveis nestes dias que fiquei de cama. Lamento muito, senhor, muito mesmo.
O rosto de Xidrux se tornou enrudecido. Algumas das pessoas que estavam em volta se afastaram e voltaram aos seus afazeres.
— Sim... — disse relutante. — Houve coisas terríveis, mas o tempo há de curar.
Belon segurou firme no ombro do pai e o guiou até uma tenda vizinha onde as moças estavam distribuindo frutas e água fresca para os soldados. Foi ali que Alexis voltou a reparar em seu belo cavaleiro, aquele que numa noite fria e triste chegou para salvá-la de horríveis criaturas vindas das sombras. Tão belo, pensava ao encará-lo, por que haveria Tavos de querer matá-lo? Era uma questão que se questionava a todo momento que o avistava. Alexis nunca sentira algo desta forma, algo tão puro e desconfortável, que a fizera suspirar fundo cada vez que ouvia sua voz ou via seu lindo rosto. Certa noite foi dormir sonhando com um beijo de seu cavaleiro, mas logo teve de acordar quando percebeu que se sentia molhada em suas partes íntimas.
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As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01
Avventura"Após o fracasso de uma missão assolar toda a colônia de Gardênia, três jovens destemidos se aventuram nas sombrias profundezas da floresta, guiados por motivações pessoais e o desejo de proteger suas terras. Enfrentando a ameaça constante de inimig...