— CATAPULTAS ADIANTE! — Ouvia os homens gritarem de cima das muralhas da colônia.
O sorriso vinha aos lábios quando via-os correndo de um lado para o outro, alterando suas vozes uns com os outros e posicionando homens nas ameias das muralhas, levantando flechas e apontando lanças em sinal de defesa. Mas era divertido para ela ver aquilo, observar como eles estavam tremendo em suas mãos. Seus homens já tinham chegado bem perto da vitória, mas ainda restava abrir os portões e derrubar aqueles que Matoki havia posto no comando da colônia.
Cada vez que eles iam e vinham em seus postos, levantando armas e gritando palavras de ordem, a mão da espada de Elena coçava, sentia o desejo profundo de entrar na guerra e destruí-los de uma vez, mas Vohrus havia lhe aconselhado de como agir com aqueles que ela enfrentaria dentro das terras vizinhas. Era bom tê-lo ao seu lado, ter com que compartilhar seus planos e estratégias de batalha. Um dos filhos servia-lhe bem na cama, o outro era um palerma que fora encarregado de assassinar seu noivo, mas sumira antes mesmo de ter notícias do senhor de Onfroi. Talvez estivesse ambos mortos na estrada para Serendibite, talvez salteadores selvagens tenham capturado seus homens antes mesmo de chegarem ao destino, ou talvez muitas outras coisas poderiam ter acontecido. A questão agora era que a hora de enfrentar os demais inimigos tinha se chegado.
O seu mestre de guerra encontrava-se ao seu lado, em posição à vontade, observando juntamente de sua princesa o desenrolar daquela história. Naquela tarde, Vohrus usava o manto negro sobre a placa peitoral e a cota de malha. Tinha a longa espada pendendo em seu cinto. Ele também sente vontade de entrar na guerra, vontade de lutar, ela compreendeu. O rosto dele era uma máscara, sem expressar nenhuma reação e direcionando seus olhares para o grande portão que ali dava entrada para a colônia.
— As flechas estão começando a ser disparadas, meu senhor. O que faremos? — Elena trazia seu meio sorriso à tona.
— Espere e verá, minha rainha. — Vohrus deu meia-volta e gritou para os soldados que vinham com algo por de trás das árvores.
Era grande, coberto com um longo pano vermelho e negro e suficientemente pesado.
— Que surpresas você preparou desta vez?
Agora era o mestre de guerra que vinha com o meio sorriso no rosto.
Então o longo pano fora arrancado e Elena respirou fundo ao ver o grande aríete se aproximando com o embalo da descida que levava até os portões. Era feito de madeira, grande para caber pessoas dentro e coberto em cima para evitar um ataque de flechas. A ponta era feita de ferro com ornamento de uma cabeça de bode como se estivesse se reverenciando, com seus chifres encaracolados em espiral mostrando o brilho quando os raios do sol transpassavam por ele.
E o estrondo foi alto.
Uma vez. Depois outra. E então outra. Os portões já não estavam resistindo com o ataque direto e as catapultas de Elena continuavam a arremessar pedras contra os gardêses. De repente deu por si pensando em seu pai e em tudo o que ele havia lhe dito um dia. Tudo sobre a honra e a guerra, as batalhas e a paz, os grandes senhores e senhoras que fundaram as colônias assim como a sede de sua cada. Terá Dalibor enfrentado aqueles que o renegaram antes de fundar Serendibite? Possivelmente sim. Era do sangue dele, linhagem direta, fogo e aço nas veias. Mas meu pai não me entende, não consegue me compreender. Elena possuía um informante dentro de Gardênia, uma pessoa com quem podia contar e que a ajudaria a conquistar aquilo que seu pai negara.
— Não temos de nos deixar ser submissos a eles. — Um dia ela disse ao seu pai.
— Sua casa é essa, essas são suas terras. — Dissera-lhe Tavos. — Não tome uma guerra na qual não se pode ganhar, minha pequena. — Mas estava ganhando e gostara da sensação que sentia.
Antes mesmo de poder se mover, um dos soldados se aproximou e avisou-os de que o porto se encontrava trancado por sua frota, queimando os navios inimigos. Estavam encurralados de um jeito ou de outro e mais nada poderia ser feito.
— E é assim que se vence uma guerra, com segredos e estratégias. — Seus olhos brilhavam fundo ao ver o céu num entardecer pálido
— E com força militar. — Vohrus apertava o cabo da espada. — Agradeça também ao seu informante. Suas cartas poderiam ter sido pegas e com certeza ele perderia a cabeça por isso.
— Mas será recompensado. Quero que Matoki volte para casa e veja quem se senta em seu cadeirão. Os Pontesmanos ficarão na história. Eu ficarei na história, Vohrus.
E então um estrondo maior pôde ser ouvido e os portões caiam em pó e estilhaços. É assim que se faz guerra. É assim que se ganha a guerra. Não tinha noção de como, mas a espada já se encontrava em suas mãos. Os homens a seu serviço começaram a se reunir logo atrás de si, trajando armaduras brilhantes e espadas reluzentes, afiadas e ensanguentadas.
Vohrus apresentou-se a ela e Elena deu permissão para o ataque final, e um grito tão alto como qualquer outro pôde ser ouvido, as vozes de todos eles em uníssono, gritando em nome de Serendibite e, acima de tudo, em nome de Elena Pontesmano. Era satisfatório ter pessoas para lutar ao seu favor, vendo aqueles que se sacrificariam por ela, pela casa que nasceu e viveu a vida toda.
Elena viveu para ver o dia em que Gardênia se submeteria ao seu favor.
— Mate aqueles que resistirem. O resto pode aprisionar. — Seus olhos eram fixos nas torres e nas muralhas da colônia. — Bem-vindos ao meu lar.
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As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01
Aventura"Após o fracasso de uma missão assolar toda a colônia de Gardênia, três jovens destemidos se aventuram nas sombrias profundezas da floresta, guiados por motivações pessoais e o desejo de proteger suas terras. Enfrentando a ameaça constante de inimig...