𝙎𝙃𝙀 𝙃𝘼𝙏𝙀𝙎 𝙈𝙀

nine.

"Eu costumava implorar pela atenção do mundo
Acho que chorei vezes demais
Eu só preciso de mais carinho
Qualquer coisa que me faça seguir em frente"
                                               — Anyone, Demi Lovato.

BRANDON SAMPSON

Me remexo na cama, por um milagre estou sozinho e agradeço mentalmente, a casa está silenciosa e provavelmente Colin ainda está dormindo, a festa de ontem foi ótima e imagino que vamos ficar de ressaca por um bom tempo. Quando tento me levantar sinto uma pontada na cabeça e aproveito para pegar um remédio na mesinha que fica ao lado da minha cama. Escuto o meu celular apitar, vejo milhares de mensagens na tela, a maioria do treinador.

— Aí porra, o que eu fiz. — Seguro a cabeça com as minhas mão e finalmente abro as mensagens.

Vejo alguns links e adjetivos ruins se referindo a mim, o que faz o meu coração acelerar, não espero um segundo para abrir, uma conta fake no twitter postou milhares de vídeos da festa de Kiara, sinto o ódio se espalhando pelo meu corpo e lembro da conversa que tive com Clark, o treinador.

Mando um "bom dia", o que é meio besta já que são três horas da tarde, ele me liga e atendo na hora.

— Pode me xingar a vontade. — Murmurei e consigo escutar a respiração pesada do treinador.

— Não vou perder o meu tempo te xingando, Daniel. — Seu tom é de desgosto puro. — Cansei de te dar chances, conversei com algumas pessoas acima de mim e todos concordamos que é melhor você se afastar.

— Você sabe que isso é injusto né? Todo mundo bebeu, usou drogas e apareceram na merda do vídeo. — Meu ódio parece aumentar cada vez mais.

— Mas você é o único com um péssimo desempenho, todos eles estão indo bem nos treinos, menos você. Estamos te afastando para colocar a cabeça no lugar. — Ele diz, parecendo mais calmo.

— Você parece bem decidido, não vou ficar me humilhando pedindo para voltar, saiba disso. — Desligo antes que ele possa responder.

Futebol é o meu maior amor, a única coisa que me mantém feliz e bem, não sei como eu irei sobreviver sem jogar e vai ser pior ainda ver os meus amigos indo aos treinos e ficando aqui, sozinho.

Menti quando disse que não iria me humilhar, já pensei em milhares de possibilidades para convencer o treinador Clark. Lembro de Izabel, não sei se ela me ajudaria, sei que não tem a melhor relação do mundo com o pai mas o cara fala muito dela e isso faz a minha mente pensar em alguns planos.

Ela não gosta de mim, eu também não sou muito seu fã mas para conseguir estar de volta no time, sou capaz de qualquer coisa.

Abro o meu Instagram e não demoro muito para achar o de Izabel, dou uma olhada nas suas fotos e acabo me impressionando com a sua beleza e esquecendo totalmente o real motivo de estar lá.

Aperto em seguir e resolvo mandar mensagem antes mesmo que ela me siga de volta.

@ Izabelclark

Boa tarde, podemos conversar?

Oi?

Fui expulso do time. 

Puts, o que eu tenho a ver com isso?

Depende do ponto de vista, podemos nos encontrar?

Não.

A conversa é do seu interesse, como eu disse fui expulso

Aonde?

Pode vir na minha casa

Você está maluco?

Ou prefere um local público para acharem que estamos juntos?

Me passa o seu endereço.

Faço o que ela pede e aproveito para tomar um banho e tirar o cheiro de cachaça do meu corpo, escolho um moletom qualquer e uma bermuda preta.

Pedi para que Izabel não tocasse a campainha, estava com medo de acordar Colin e ele perguntar sobre. E assim ela fez.

— Não sei como eu aceitei vir até aqui. — Ela entra e parece analisar o local, que está bem bagunçado por conta da festa.

— Ainda bem que aceitou, vamos para o meu quarto. — Ela se esquiva, parecendo negar. — Ou você prefere ficar aqui e encontrar algum dos meus amigos que vão achar que passamos a noite juntos? — Pergunto e ela arregala os olhos.

— É, vamos para o seu quarto. —  Ela concorda e subimos as escadas. — Posso me sentar na sua cama ou teve alguma menina por aqui hoje de manhã? — Ela brinca e reviro os olhos.

— Pode sentar e sem brincadeirinhas, o assunto é sério. — Puxo a cadeira da escrivaninha para a frente da cama, onde Izabel está.

— Nossa, pode começar a falar então. — Ela se acomoda na cama.

— Seu pai me expulsou do time. — Começo a falar.

— Isso eu já sei, você deixou bem explícito na mensagem. — Ela me interrompe.

— Eu sei disso, deixa eu terminar de falar. — Mexo no cabelo para disfarçar o nervosismo, essa garota me intimidade, ainda mais deitada na minha cama.

— Pode falar, Brandon. — Seu olhar é fixo no meu rosto.

— Preciso da sua ajuda para voltar a jogar. — Ela ri e franzo a testa.

— Meu pai não é muito de mudar de idéia e eu não sei se você sabe mas não temos a melhor relação do mundo. — Izabel responde.

— Esse é o ponto, você pode tentar ser uma filha melhor e ele vai querer te ajudar. — Respondo e vejo o semblante dela mudar.

— Uma filha melhor? Você diz como se soubesse da minha vida. — Ela diz com um tom de voz raivoso.

— Você não está me entendendo. — Tento explicar mas sei que não está adiantando.

— Então eu vou te dar um minuto para se explicar melhor, você não tem noção do quanto isso me irrita. — Ela fica de pé e cruza os braços.

— Você poderia ir aos jogos, se aproximar do seu pai e quando estiverem de boa convencer ele a me colocar de volta no time. — Completo e ela ri mais ainda.

— Seu plano é péssimo Sampson, como eu disse, não nos damos bem e isso não vai funcionar. — Izzy diz e pega a sua bolsa, pronta para ir embora. — E outra coisa, o que eu ganharia com isso? — Ela completa.

— Você faria a caridade do ano e deixaria um amigo muito feliz. — Sorrio sem graça.

— Um amigo? — Ela ri.

— Olha só, seu pai sempre deixou claro o quanto queria ser próximo de você e eu não faço idéia de como a relação de vocês funciona mas eu preciso disso. — Respondo enquanto ela abre a porta, puxo o seu braço nos deixando cara a cara, consigo sentir o cheiro de hortelã vindo de sua boca, provavelmente por conta de um chiclete.

— Não sou de mudar de idéia facilmente, vai ter que fazer mais do que isso. — Reviro os olhos com o seu comentário.

— Faço o que você quiser. — Respondo e ela se solta.

— Não quero nada vindo de você e saiba que não quero ter essa conversa de novo. — Izabel diz com o dedo quase perfurando os meus olhos mas mesmo assim, o seu tom é calmo.

— Então saiu de sua casa atoa? — Pergunto e ela ri.

— Eu sou curiosa e estava aqui perto, por um minuto eu pensei que seria útil vir até aqui. — Izabel não me deixa responder e sai batendo a porta, espero que o sono de Colin ainda seja pesado.

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