Os passos da bruxa estavam sincronizados com as badaladas do seu coração quando pisou no interior do cômodo que em nada se parecia com o de costume. Mal podia acreditar em seus olhos. Como em um brincadeira façanhosa do destino, o bar parecia ter virado ponto de encontro entre opostos. A dor e o amor. A realidade e os devaneios outrora mais fantasiosos de Inês. A morte e a vida.
Vidas essas que traziam consigo a certeza de quem veio de longe para o lugar onde queriam pertencer. Tutu, Isac, Manaus e tantos outros estavam parados ali. Num toque de mágica. Como se o encontro entre velhos amigos houvesse sido casualmente programado.
Fragmentos de luz surgiam, dando lugar a novos seres, mas não tinham mais a atenção da bruxa, pois os seus olhos haviam repousado sobre castanhos brilhantes.
E o amor lhe sorriu mais uma vez.
Um sorriso tão bonito que lhe remexera o estômago.
O verdadeiro rebuliço se iniciou, invadindo o seu sistema, ligando todas as engrenagens que andavam paralisadas em seu peito. As pernas ganham vida e os passos passam a ser apressados. Inês ignora todo o restante enquanto fechava a distância entre ela e a mulher que a recebeu com uma abraço tão apertado que seria capaz de fundir os seus corpos.
- Me diga que não é um sonho... Pois se for, eu não quero mais acordar – Inês sussurra com a voz embargada, agarrando-se mais ao corpo quentinho que podia sentir, que podia tocar. Que exalava um perfume adocicado e conhecido.
- Não é sonho – Marcia sussurra de volta – Eu voltei. Eu sempre vou voltar para você.
Se separa lentamente sorrindo emocionada ao encarar Inês ali a um toque de distância. Ao poder senti-la. Ao poder fitá-la nos olhos que a essa altura estavam tão marejados quanto os seus. Ao poder beijá-la...
E com essa última constatação acabou por colar os lábios demoradamente entre as sobrancelhas da outra que fechou os olhos.
As emoções transbordavam por eles enquanto compartilhavam o toque casto, mas repleto de amor, de respeito, do carinho e da cura.
A cura que o coração de ambas precisavam e só encontrariam ali. Uma nos braços da outra.
- Como... Como isso é possível? – Se afasta minimamente, encarando-a de forma abobalhada. Desvia o olhar brevemente para os outros que se aproximavam com sorrisos amistosos, voltando o olhar para sua policial – Eu pensei que tivesse perdido você – Sua voz fraqueja – Você está... Bem. Está viva.
E não se importando com a plateia, Inês sorri incrédula em meio a algumas lágrimas que ainda insistiam em descer, enchendo o rosto de Marcia com selares carinhosos que lentamente traçaram o caminho até os lábios avermelhados, enquanto as mãos acariciavam a pele macia, como para averiguar que ela era mesmo real.
- Eu estou aqui – Torna a repetir. Contra os lábios da bruxa – Estou aqui com você e para você – Cola suas testas – Visite a minha mente – Tinha muito a dizer, havia visto e vivido mais do que poderia descrever.
- Agora não. Vocês terão tempo – Tutu dá um passo a frente – E eu também quero matar a saudade – Abre os braços.
Há muito custo, Inês se separa de Marcia, pondo-se a abraçar os velhos amigos. Só agora percebia o quanto havia se desligado do mundo nos últimos três dias. Não percebera aquela aproximação. O movimento vibracional que agora captava nitidamente.
Inês se reúne com eles a mesa, sem desgrudar sua mão da de Marcia que vez ou outra se acariciavam.
- No fim, você estava certa ao lutar por todos nós – Manaus dizia – Isso está sendo reconhecido. E recompensado. Obrigada por me dar mais uma chance de ser um homem melhor. Obrigada a vocês duas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Magic Wings (Marinês)
FanfictionDentre todos os significados por trás desta forma de beleza natural esvoaçante, sabe-se que sempre haverá um quê divinal, quase mágico envolvendo as borboletas. E se essas asas fossem mágicas, quantas vezes bateriam até encontrar o caminho em direçã...