Dimensão do agora

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Vai depender de você.

Se falharmos o mau presságio se sucederá.

Repetiam as vozes de um lado de sua consciência.

Salve o seu amor. Dizia a voz do seu coração.

Faça alguma coisa. Ordenava o seu cérebro. E em meio ao frenesi surgiu o impulso e a coragem que vem do desespero.

Tão rápido quanto havia pensado em atacar Thereza e libertar o seu amor, havia sido neutralizada pelos braços fortes de Manaus. Que a prendia contra ele com a espada mágica.

- Me solte - Inês ordena entredentes. Começando a se debater em desespero.

- Eu não posso - Devolve em um tom melancólico. Os poderes de Inês eram contidos pela magia da lâmina, mas ainda podia senti-los como choques em seu corpo ao tentarem se libertar - O controle sobre Thereza e o desejo de vingança da rainha por ela ter falhado é uma das coisas que ainda está fazendo com que não reaja ao novo encanto.

- Novo? Não é uma maldição? - Ralha fazendo mais força ainda para sair dos braços do homem - Solte-me.

- Tudo vai mudar Inês - Se resume a dizer, intensificando ainda mais o aperto do abraço.

Como em um golpe de misericórdia, a serpente que agora havia tomado a forma de uma bela mulher de cabelos encaracolados. Mostrando sua verdadeira face. Sorri maleficamente, fazendo o tormento se dobrar dentro da mente que agora comandava quase totalmente. Se iria cair novamente, não cairia sozinha.

O choro angustiante de Inês tinha um gosto doce para a antiga rainha. Assim como a dor no interior de Thereza por perder novamente sua chance ao amor. A angústia no peito de Eric e Camila. Tudo isso era captado pela mulher e soava como a sinfonia perfeita de uma orquestra, guiada por um maestro. Onde as ondas sonoras eram o sofrimento.

E o sofrimento, o alimento de uma fera impiedosa que se regozijaria das últimas centelhas do que considerava a felicidade: o martírio que poderia causar.

Thereza cai de joelhos, com as duas mãos em sua cabeça. Seus poderes eram refletidos em si, assim como os fazia refletir sobre a policial que por conta de não ter o sangue de entidade correndo em suas veias, já se encontrava praticamente desfalecida ao seu lado no chão arenoso.

Não houve tempo para gritos vindos de Marcia, mas houve a dor. Uma dor grandiosa. Fisicamente imensurável e sentimentalmente arrebatadora. Doía sentir a manifestação dos poderes da entidade sobre si, mas doeu muito mais vislumbrar o olhar quebrado de sua bruxa ao longe, antes de sua consciência a deixar e sentir que estava deixando aquele mundo e deixando a outra metade de seu coração.

Quando as cortinas finalmente se fecharam e o mal foi aprisionado, a vegetação morta ganhou vida outra vez. Toda a destruição que havia sido causada sumira num influxo brilhante. Que levou todos ao chão, como se a gravidade houvesse sido momentaneamente alterada.

Entretanto, parte daquela "limpeza" pareceu se aplicar aos corpos das duas mulheres que não se faziam mais presentes.

Inês se levanta do chão, tinha os olhos vidrados no local onde antes Marcia estava. As lágrimas enfeitavam sua feição com afinco. A maior parte das entidades comemorava a vitória. A ameaça havia sido neutralizada e a paz reinava no mundo invisível.

A Cuca caminha até o local, deixando-se cair sentada ali. Não sentia a paz. Não sentia nenhum alívio. A batalha havia sido ganha, mas ela havia perdido.

Ela havia perdido Marcia.

E lhe doía como o inferno.

Afunda as pontas dos dedos no solo arenoso, soltando um grito estrondoso, seguido do pranto, cada vez mais alto e mais sentido.

Magic Wings (Marinês)Onde histórias criam vida. Descubra agora