Capítulo 8 - Capítulo VIII

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Katmandu, Nepal, 710 d.C


Já fazia quase seis meses desde que o monge Tashi-Lee havia resgatado Norbu da quase morte nas montanhas do Himalaia. Quando o resgatou do frio, Norbu estava doente, mas Tashi cuidou dele até sua pronta recuperação. Agora, era primavera nas montanhas, o clima era fresco e ameno. Norbu, mesmo não sendo monge, continuou morando no templo. Afinal, não tinha mais para onde ir. Ele era grato aos monges por terem o acolhido, e demonstrava sua gratidão trabalhando duro, cuidando dos jardins do templo. Embora os monges lhe dissessem que não era necessário, Norbu insistia. Ele dizia que o trabalho dignificava sua alma e o fazia sentir bem, e os monges preferiam não discutir com ele. Tashi, sentia o peito explodir de alegria ao ver Norbu feliz e saudável. E pensar que quando o resgatou, ele dizia que queria morrer... Ele e Norbu se tornaram bons amigos, e quando Tashi não estava meditando, ou cumprindo seus deveres no templo, ele ficava com Norbu, que era excelente companhia. Os meses se passavam, e sua amizade se aprofundava. Até o ponto de perceberem que o que havia entre eles era algo além de uma amizade. Em um de seus muitos passeios vespertinos, pararam à beira da montanha, observando o horizonte e a vastidão do mundo abaixo deles.

- Tashi... acho que eu nunca lhe agradeci direito por ter me salvado - o ruivo disse ruborizado - você fez muito mais do que salvar minha vida, você me ensinou a viver

- Não tem que me agradecer Norbu - ele disse olhando em seus olhos e sorrindo meigo - Eu fiz por que era o que eu devia fazer - ficaram algum tempo parados, apenas olhando um pro outro. Seus olhos brilhavam - Mas... você nunca me contou o porque estava naquela situação, e porque queria morrer...

- Eu havia perdido tudo... - o ruivo suspirou triste - eu vivia numa vila bem longe daqui. Nesta vila, havia uma rapaz de quem eu ... gostava ... - disse com uma pausa, sentindo as bochechas vermelhas - Um dia, meu pai nos pegou num beijo. O rapaz fugiu, e minha família me expulsou de casa e da vila, para morrer sozinho em qualquer lugar - disse com um olhar vago e tristonho - Eu perambulava sem rumo, esperando a morte me acolher, quando você me encontrou, e me salvou - ele disse, desta vez olhando para Tashi e sorrindo meigo. Mas ao olhar para Tashi, ele não carregava o sorriso de sempre. Pelo contrário. Fazia uma cara emburrada - O que houve Tashi? Por que está assim?

- Então... você estava beijando um rapaz...?! - ele disse com um bico raivoso, mas também com visível vergonha. Norbu não conseguiu segurar sua risada. Tashi estava obviamente com ciúmes.

- Estava Tashi. Por quê? Isso te deixa com ciúmes? - o ruivo perguntou brincalhão, provocando seu amigo monge para ver até onde ele iria.

- Ciúmes? Não... eu nem sei o que é isso! Eu sou monge! Não posso ter este tipo de sentimento negativo...- ele disse tentando disfarçar, mas seu ciúme era visível, e fez Norbu rir ainda mais.

- Tashi... não precisa ficar assim. Aquele rapaz não significou nada para mim - ele disse, e segurou a risada quando o monge respirou visivelmente aliviado ao ouvir aquelas palavras - Tashi... - ele o chamou, e o moreno olhou em seus olhos verdes - tem um presente que eu quero lhe dar...

- Norbu... eu agradeço sua intenção, mas não posso ter nenhum bem material - ele respondeu olhando os olhos cor de jade

- Mas o que vou lhe dar, não é material! - ele disse com um sorriso largo - E também, você não tem o direito de negar, porque o que vou lhe dar, já é seu!

Tashi olhava confuso para o jovem de cabelos vermelhos, até que ele pegou sua mão e levou e levou até seu peito.

- Sente isso, Tashi? - perguntou, mostrando a ele as batidas aceleradas de seu coração - É seu! Completamente seu!

Nove Vidas (Gaalee)Onde histórias criam vida. Descubra agora