"Caos"

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- Por que demorou tanto para chegar?

- Porque quase fui roubada por dois meninos de bicicleta a caminho do ponto de ônibus.

- E eles levaram alguma coisa?

- Sim, um deles levou uma mochila na cara e o outro uma joelhada no saco.

- Meu Deus! Não se pode reagir a um assalto assim! O que se passa na sua cabeça menina?

- Pensamentos, eles passam pela minha cabeça sempre - falou subindo as escadas.

[...]

- O que houve? - Perguntou Madelyn.

- Eu terminei com o Marcos. - Lamentou Eva.

- Que Marcos?

- Como assim "que Marcos"? Eu te contei que estava namorando.

- Contou? Quando? - Falou Madelyn com a boca cheia de biscoitos lendo um jornal.

- Você não prestou atenção?

- Você fala muitas coisas, Eva. Nem tudo o que diz eu assimilo, às vezes entra por um ouvido e sai pelo outro.

- Nossa, obrigada pela consideração! - Exclamou chateada.

- Por nada, se precisar é só continuar falando.

- Por que você é tão insensível às vezes, hein? Eu estou sofrendo por ele!

- Come um biscoitinho - passou o saco de biscoitos para a sua prima.

- Biscoitos não vão me ajudar em nada!

- Nem eu.

- Eu estou percebendo.

- Que bom, não vai querer os biscoitos? Certeza? Olha lá, hein... Eu vou comer tudo...

- É sério isso, Madelyn? Não pode fazer o papel de prima pelo menos dessa vez?

- Okay - deixou o jornal de lado - , qual foi o motivo da separação?

- Ele me traiu com uma das minhas melhores amigas, depois me pediu desculpas e disse que não aconteceria de novo.

- Aceita as desculpas e faz pior.

- Madelyn?!

- É melhor do que ficar assim, Cornélios! - Riu.

- E como eu me vingaria?

- E eu que sei?

- Você deu a ideia.

- Sim, mas você que precisa decidir como quer fazer isso.

- Okay, obrigada. - Levantou-se.

[...]

Madelyn observava o convite que Karen lhe entregou pensando se deveria ir por consideração ou se não deveria ir por não gostar de festas. E ela se encontrava em um dilema entre "fazer a sua própria vontade" ou "fazer a vontade de sua amiga". Deveria fazer a vontade de sua amiga, afinal era sua amiga - pensava - , porém, a vontade de sua amiga é mais importante do que sua própria vontade? Absolutamente não! Então, o que ela levaria em conta? - Perguntou para si mesma.
A menina tinha mania de se questionar sobre qualquer coisa por mais simples que fosse, sempre surgia pontos de interrogação em sua mente,vagos, sem sentido e até mesmo sem noção.
Resolveu pedir uma segunda opinião:

- Mãe, uma amiga minha, a Karen, me convidou para o aniversário dela.

- E você quer ir? - Falou a senhora Margaret dobrando algumas roupas no sofá.

- Ainda não sei.

- Acho que não deve ir. Uma festa cheia de adolescentes, bebidas, músicas e danças, isso nunca dá certo.

- Mas não é esse o sentido de uma festa? Ter bebidas, música, dança e os adolescentes convidados?

- Sim, o sentido é curtir a festa, não enlouquecer na festa.

- Mas enlouquecer pode ser uma maneira de curtir a festa, afinal, os loucos curtem a vida, nesse caso a festa também.

- Você ainda anda lendo Nietzsche?

- Não, agora é Bukowski.

- Meu Deus... Está explicado. Anda lendo livros de um bêbado!

- Acho que eu deveria ir nessa festa, obrigada pelo conselho! - Se levantou e subiu correndo as escadas.

- Madelyn! Eu disse não!

[...]

O dia da festa havia chegado e Madelyn foi para a festa. Ao chegar na festa atraiu olhares, ela estava diferente, não parecia a mesma garotinha introvertida que ficava pelos cantos da escola, parecia ser muito mais do que isso, estava atraente e autoconfiante.

- Madelyn... É você? - Disse Karen ao se aproximar. - Está linda!

- Claro que sou eu, quem mais seria? Feliz aniversário! - Abraçou Karen.

- Fico feliz que tenha vindo.

- Obrigada.

- Vou cumprimentar os outros convidados depois nos falamos. - Saiu andando.

Olhando ao redor, Madelyn notou que algumas garotas olhavam para ela e cochichavam entre si, eram as garotas que nunca gostaram dela na escola. Madelyn fingiu não notar e foi pegar algo para beber.
Ao pegar a bebida uma garota passa por ela e acaba lhe empurrando com o ombro o fazendo derrubar a bebida sobre o próprio vestido, e sim, era uma das garotas que estavam cochichando. Madelyn olha fixamente para a garota e tenta controlar um ato impulsivo que passou pela sua cabeça, a raiva toma conta, sente seu coração acelerar, a adrenalina causada pela raiva, faz um gesto pacificador para se acalmar e manter a pose.
Karen se junta com aquelas garotas e conversam por longos minutos, enquanto Madelyn fica sozinha na festa assistindo elas dançando, as pessoas sorrindo e conversando, a uma certa distância sem ninguém do lado.
Milhões de pensamento invadem a sua mente ao mesmo tempo. Por que só ela ficava sozinha? Por que isso estava acontecendo? Por que não era como as outras garotas? Por que ninguém falava com ela? Se ninguém a conhecia direito, por que não gostavam dela? Ela deveria ir embora? Por que foi convidada se não tinha importância? Deveria tentar falar com alguém? O que deveria fazer? Quem era ela e por que estava em um ambiente aonde não era bem-vinda? Por que de tantos porquês? Por que simplesmente não poderia ser como os outros? Se não era como os outros, então o que ela era? A resposta é simples e clara, mas Madelyn ainda não sabia qual era a resposta.
Foi até o banheiro e limpou o seu vestido preto brilhante, arrumou os seus cabelos curtos e pretos e voltou para a festa. Percebeu que ela não precisava ser notada e nem estar com alguém para se divertir, começou a dançar no meio do salão, conforme dançava as pessoas começaram a notar, principalmente os meninos, alguns até se juntaram para dançar também.
Madelyn chamou tanto a atenção que esqueceram da aniversariante, esta que ficou com raiva por deixar de ser o centro das atenções e pediu para o DJ trocar de música, mal sabia ela que Madelyn também dançaria a próxima música, a próxima e a próxima da próxima.
Ousada, Madelyn pediu para o DJ colocar a música "Washing Machine", pois dominava a pista dançando essa música, sua coreografia era impecável e até mesmo emocionante, demonstrava tudo o que sentia, a única forma de demonstrar seus sentimentos é com a música e a dança. Karen já não sabia mais como atrair atenção para si e ficou apenas a olhar de braços cruzados.

[...]

No dia seguinte, na escola Madelyn foi falar com Karen, mas a amiga lhe ignorou, ela não entendeu o porquê. "Será que fiz algo de errado?" - Pensou.

- Madelyn, me passa seu número? - Um garoto disse para ela enquanto ainda se questionava do motivo pelo qual foi ignorada pela amiga.

- Cai fora. - Falou para o garoto e saiu andando.

Na sala, ouvia algumas provocações de Karen e de outras garotas que estavam juntas. Não entendia o motivo de sua melhor amiga estar fazendo aquilo.

MBTI-INTJ: "Cérebros-mestre"Onde histórias criam vida. Descubra agora