"Alagar"

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- A velha... Apareceu... bem na... Ai eu não consigo falar. - Eva tentava completar a frase em meio ao riso.

- Eu avisei que não daria certo. - Falou Madelyn recuperando o fôlego.

- Até que deu certo, pelo menos comemos amoras, meu plano foi bom. - Théo fala convencido.

- E agora? O que faremos? - Joaquim senta no chão cansado.

Madelyn já estava sem energia, não conseguia passar muito tempo com as pessoas sem se cansar, na verdade ela não gostava de ficar com as pessoas, se acostumou com a própria companhia.
Théo foi beber água na casa de seu avô enquanto os outros o esperavam. Eva conversava e ria com Joaquim, já Madelyn ficava de fora da conversa e não se importava com isso.
De repente surge uma ideia na cabeça da garota, se Joaquim e Eva passassem mais tempo juntos conversando ambos deixariam ela em paz como tanto queria, mas e se ela unisse os dois de vez? Resolveu colocar seu plano em ação, levantou-se e empurrou Joaquim por cima de Eva para rolar um clima e saiu correndo.
Ela achou que servindo de cúpido para os dois sua vida se tornaria muito mais fácil.
Caminhando encontrou ali perto uma casa na árvore, ficou olhando e pensando se seria uma boa ideia subir.

- Onde está Eva e Joaquim?

Madelyn havia se livrado dos dois, mas esqueceu de Théo. O que ela faria com ele?

- Eu não sei.

- Essa casa na árvore meu avô construiu para mim quando eu tinha dez anos.

- Legal.

- Não é melhor a gente ir procurar eles?

- Não, eu não estou nem ligando para eles.

- Te fizeram alguma coisa?

- Não, eu só não estou ligando.

- Okay, então. Mas, o que pretende fazer já que não quer ir procurar os dois?

- Por que você não sai do meu pé? Fedelho!

Madelyn sobe as escadas da casa na árvore e entra, era no alto longe de seu meio irmão e de sua prima, ninguém mais poderia lhe incomodar, até que essa ideia sai de sua cabeça quando vê que Théo também subiu.

- O que foi fedelho?

- Você por acaso sabe o meu nome? Só me chama de fedelho.

- Porque você é um fedelho. Seu nome é Léo, não é?

- Meu nome é Théo! - Madelyn não era boa com nomes.

- Okay, Théo. O que quer aqui? Não posso ter um minuto de paz?

- Eu ia vir aqui primeiro.

- Mentira! Olha seu... Seu fedelho, o que você quer de mim?! Por que vive no meu pé desde o sexto ano?

- Escuta aqui ladra de pastel, eu não quero nada.

- Ladra de pastel?! Que ódio!

- Por que me odeia tanto? Apaixonou?

- O que?! Eu te odeio por ter roubado meu bolinho.

- Então estamos na mesma porque eu te odeio por ter roubado o meu pastel.

- Argh! Mas que briga idiota!

Enquanto eles discutiam a chuva caía do lado de fora, uma verdadeira tempestade.

- Ah, não... Está chovendo... Como vou sair daqui agora?! Culpa sua, seu fedelho burguês!

- Burguês?

- Você é loiro.

- E o que isso tem a ver?

- Ah, cala a boca, burguês.

- Que ótimo, ter que ficar no mesmo lugar que uma menina chata e mimada por causa da chuva.

- Quando a chuva passar você vai sair daqui sem dentes.

Madelyn estava segurando a vontade de dar um soco em Théo.

- Mas que jeito estranho é esse de se conhecer? Um roubando comida do outro...

- Culpa sua. Por que diabos tinha que obedecer aquelas meninas, hein?

- Porque se eu não obedecesse não faria parte do grupo e aí eu seria o motivo de chacota.

- Ah, então para livrar a sua pele resolveu me atingir. O que é mais importante? Ser popular, mas ter que atingir outra pessoa ou ser um desconhecido, mas escolher fazer o certo? Claro, a popularidade, fedelho burguês!

- Eu já pedi desculpas.

- Eu não lembro, peça de novo. Só que dessa vez de joelhos!

- Eu salvei sua vida esqueceu? Era para ter morrido afogada no lago, eu merecia pelo menos um "obrigada".

- Eu só espero que essa casa não caia com nós dois juntos igual aquela ponte.

- Se você não forçar a perna na madeira para mostrar o quanto é firme talvez não caia.

Madelyn sentou no chão.

- Okay, vamos começar de novo. Meu nome é Théo, prazer. - Sentou do lado de Madelyn.

- Okay, meu lindo nome é Madelyn e não é nenhum prazer.

- Colabora, eu estou tentando.

- Me responde uma coisa, por que acha que as meninas nunca gostaram de mim?

- Porque você nunca se enturmou com elas e pensaram que queria ser melhor ou algo assim. Você é o tipo de pessoa que quer fazer amigos, mas quando eles se aproximam você sai correndo. Precisa permitir que as pessoas cheguem perto ou vai continuar sem amigos.

- Perto? Quando as pessoas chegam perto elas querem saber demais sobre mim e eu não gosto de ninguém invadindo o meu espaço.

- O que você tem a esconder? Ninguém vai invadir o seu espaço, ninguém pode entrar sem ser convidado, as pessoas só entram no seu espaço se permitir que elas entrem, caso não permita e mesmo assim a pessoa quiser entrar aí eu aconselho você a meter o soco.

- Então você vai ser o primeiro que eu vou meter o soco. - Madelyn riu.

- No intervalo eu sempre via você no canto afastada das outras meninas, eu já tentei me aproximar, mas você não parecia querer companhia e eu acho que por ter tido essa mesma impressão ninguém mais se aproximou.

- Será que eu teria te odiado antes de você ter roubado meu bolinho?

- Antes de te roubar eu pensava em fazer uma coisa.

- O que?

Théo se aproximou de Madelyn e lhe deu um selinho. A garota se levantou e saiu correndo da casa na chuva mesmo. Madelyn estava tentando entender o que se passava dentro de si mesma depois daquilo, o fedelho não havia roubado apenas o seu bolinho agora, não é mesmo?
Seus sentimentos confusos vieram como uma tempestade e alagaram seu coração. O que ela faria agora? Tentou ser o cúpido, mas o cúpido se auto-atingiu?
"E se o amor não passar disso... De uma forte tempestade capaz de alagar o nosso coração e dependendo até afoga-lo? E se no amor for preciso andar com cuidado pela madeira para não forçar a frágil ponte e não se afogar? O que estava pensando? Ora, aquilo não era amor, foi só um selinho." - Pensava no meio da chuva.






MBTI-INTJ: "Cérebros-mestre"Onde histórias criam vida. Descubra agora