Take it all. Part 1

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"If only you knew, everything I do is for you."

O céu foi grampeado por nuvens laranja. Uma mancha violeta esbanjava beleza sobre o véu matinal. O vento compunha uma canção triste. O agrupamento de equipamentos necessários para uma apresentação. Um palco natural.

Um bocejo acordou a atriz principal.

Consegui.

Um papel congestionado de palavras lhe dava o mais sincero bom dia. Sorriu um mundo. Dormira miseras horas, não tinha dúvidas, mas não se importava nem um pouco. Estava alegremente exausta.

- Até que enfim, hein.

Uma voz irritante surgiu às suas costas. Como de costume.

- Do que fala esse poema?

Ela tentou tomar a preciosidade frágil das mãos pálidas, mas foi prontamente repelida. Dinah deu um muxoxo de desaprovação. Lauren sorriu e levantou da cadeira. Suas costas reclamaram um pouco devido a péssima posição na qual adormecera.

Rumou frente ao espelho.

Sorriu para si mesma.

Seu último às na manga estava pronto. Só lhe faltava coragem para descartá-lo.

Por você.

Apesar de estar de frente para seu reflexo, o você não era ela. O "você" tinha uma estatura muito menor, gênio mais difícil e o sorriso mais sincero que um ser humano era capaz de criar. Aquela pessoa que fazia seu coração brincar de correr como uma criança numa partida de pique-pega.

O poema falava dela.

Era para ela.

Uma canção muda:

O amor é complicado até para os que os simplificam. Convenhamos, se fosse fácil não seria raro e tão pouco teria graça.

Seu mundo havia mudado depois que a conheceu. E motivo algum seria bom o bastante para fazê-la voltar à vida de antes. Tudo que ela queria estava bem ao seu alcance. Era hora de agarrar suas possibilidades e esquecer as responsabilidades.

Apertou o papel entre os dedos como se pudesse ouvi-lo sorrir.

_____________x_____________

A sala era uma penumbra silenciosa. Olhares aglomerados encontravam-se no ar e engoliam um bloco de pedra. As pessoas foram sorteadas, para a ordem da apresentação ficar mais "justa". Os primeiros engasgos, suspiros pesarosos e tremores entraram em cena.

Mandy Morland permanecia sentada em sua mesa. Escrevendo com avidez a medida na qual os alunos recitavam o poema. Seu olhar era indecifrável.

Espero que ela tenha tomado o remédio hoje.

Lauren estremeceu em sua cadeira. Comprimiu o papel com mais força entre os dedos. Olhou para o lado e observou uma Camila relaxada, acompanhando cada recital como se não estivesse prestes a passar pelo mesmo sufoco.

Elas não trocavam olhares.

Seria difícil para ambas. Porque sempre haveria alguma coisa indizível presa neles.

- Camila Cabello._ a professora tirou o nome da urna.

Com segurança, ela caminhou por entre a multidão de condenados. Girou nos calcanhares e absorveu uma pequena bolha de ar. Abriu o livro numa página. Focou o olhar sempre perfeccionista e começou a soprar as palavras.

Ela contemplou o soneto 23 de Shakespeare.

Impecável. Era a palavra chave para a apresentação dela. Houve um sacolejar de palmas e até um sorriso mínimo vindo da professora. Camila voltou ao seu lugar e se arrumou na cadeira, tentando achar uma posição mais confortável.

21™ ⏭ CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora